POLÍTICA x PERÍODO ELEITORAL
POLÍTICA X PERÍODO ELEITORAL
Discurso sobre pensamento político.
Escrito pelo Bacharel em Teologia
Estudante de Religião e Filosofia e
Capelão Ev. Antonio F.Bispo
Entre o sonho e a realidade, as pessoas preferem a fantasia.
Nosso período eleitoral, comumente confundido com período político é uma, entre tantas outras ocasiões em que interiormente nossa sociedade se põe para fora e deixar extravasar seus sentimentos para ambos os lados dos que disputam cargos políticos. Faixas, bandeiras, carreatas, passeatas, apertos de mãos, motos com escamento adulterado (que idiotice!), fogos de artifício, barulho, baixaria, difamações, calunias, dissensões, ameaças, venda de votos, etc.. Cada um expressando no seu modo se de ser aquilo que julga ser política, tanto o candidato quanto o eleitor se expressam ao seu modo.
Os candidatos que ganham têm a falsa impressão que irão governar apenas para os que publicamente declaram seu “apoio” para depois perseguir todos os “adversários” durante todo o período entre urnas. Os eleitores do candidato eleito vibram, como se seu time de futebol tivesse ganhado mais mundial e tem a falsa impressão de que o candidato eleito por eles irá governar apenas para eles. Interiormente eles parecem fazer um pacto de silencio, de não criticar nem apontar a falha daquela gestão, pois se apontarem erros desse gestor, acham que estão criticando a si próprios por suas escolhas. Apontam 1 defeito do candidato oposto, e escondem 100 erros do seu candidato eleito.
Os candidatos que perdem, quando não perseguem a gestão vencedora por 4 anos fazendo de tudo para por tropeços na administração do seu “rival”, fica calada durante todo o período, mesmo sabendo de todo tipo de dano causado com ou por meio do dinheiro público, mas preferem guardar tudo para o final, para nas próximas eleições fazer como o dito popular “jogar merda no ventilador” só pondo a público os erros nessa ocasião, não por que se importe com o dinheiro do povo jogado fora, mas por que querem usar o erro do seu “oponente” para benefício próprio. Os eleitores dos candidatos que não se elegeram se sentem excluso em sua maioria, e também parecem fazem um voto secreto, interno, de perseguir e apontar erros na gestão vencedora. Esses quando vêem 99 acertos não falam, mas quando vêem apenas 1 erro, põe a público em doses aumentadas tudo o que viu.
A política se faz todos os dias, no individual e no coletivo e não apenas em períodos eleitorais. Quando cumprimos nosso papel social, respeitando o limite dos outros e procurando do modo mais prático resolvermos nossos problemas ou da comunidade em que estamos inseridos, estamos sendo políticos. Todos somos políticos, quando procuramos meios para que a sociedade flua da forma mais harmoniosa possível. O período eleitoral também faz parte da política, mas não é a política em si, pois política é uma construção gradativa feita desde que os homens vivem em grupos.
Nossos períodos eleitorais parecem mais jogos de arenas, onde pessoas se digladiam, se ferem e se aniquilam, para depois terem de conviver com as amputações feita um ao outro, bem com o sentimento de revanche pelos próximos quatro anos...As pessoas deixam de se enxergar com um todo, e levam assuntos pessoais para o coletivo e o coletivo para o lado pessoal. O EGO fala mais alto que a lógica e a razão juntas, ainda que seja expressa por meio de uma fé cega em quem quer que seja. Saber que seu voto não foi “perdido” é melhor que ver o dinheiro público sendo aplicado de forma correta. É como em uma aposta de loteria, que entre milhares de apostadores, se um ganhar e for um conhecido seu, você vai ter o prazer de repetir essa história todos os dias de sua vida ainda que não ganhe nada com isso. Não é o fato de que alguém vai dirigir o rumo de nossa sociedade que importa, mas o fato de que o voto foi válido, é que é o X da questão. Votar em um candidato com boa reputação, mas com baixa popularidade não pode. Votar em um mau elemento, mas que estar na boca do povo (ainda que em uma pesquisa encomendada e falsa) faz do eleitor medíocre uma pessoa super FASHION, moderna, “inteligente” e de bom gosto!
O fato de alguém ser popular não quer dizer que vá ser um bom administrador. Um bom administrador nem sempre será uma pessoa popular. Para ser popular é imprescindível ser malabarista, “malandro”, procurando agradar a todos, ou pelo menos alguns e prejudicar outros tantos. Para ser um bom administrador, em partes será necessário ser rígido como um carvalho e outras vezes flexível como um bambu. Não há como ser um bom administrador e agradar a todos ao mesmo tempo. As pessoas são dominadas pelo EGO, e em sua grande maioria, elas sentem mais prazer por um mal que foi causado a outro, do que pelo bem que poderia ter sido feito a si próprio. Mais ou menos assim: as pessoas se alegram mais em saber que outros irão perder, do que saber que todos poderiam ganhar. Triste realidade de uma mente não evoluída, iluminada, amadurecida, seja lá o termo que for usado.
Já tivemos dias piores em toda história. Já houve épocas que vivíamos em agrupamentos, quando ainda não existia a idéia de cidades, estados ou nação. Após anos de experiências administrativas entre babilônios, acadianos, persas, hebreus, egípcios, assírios gregos e outros povos, os atenienses nos presentearam com a idéia democracia e as coisas começaram a evoluir. Já melhoramos muito nos últimos 2500 anos, mas há muita coisa ainda a ser melhorada.
Socialismo, capitalismo, comunismo, feudalismo, escravismo, oligarquias, monarquias, dinastias...Criamos sistemas, destruímos sistemas, refazemos, remodelamos ou aperfeiçoamos pela influência da fé em vários deuses ou por revoltas populares de uma população que acorda depois de anos de submissão. Enquanto os deuses de todos os povos, com todo seu poderio, perfeição e onipotência a que a eles são atribuídos, assiste de longe nós, suas criaturas sem nada fazer, a humanidade com todas as suas imperfeições e tão “má” como dizem que ela é, ainda assim procuramos de algum modo nos ajeitar e nos entendermos e aos poucos estamos nos aperfeiçoando. Há quem diga que estamos piorando o tempo todo, mas é necessário ver as coisas de mais de um ângulo e ler mais de um livro para ter uma visão melhor.
Costumo pensar que o maior problema não consiste apenas em nossas ações, mas nos sentimentos que exprimimos ao agirmos. Por trás de cada ação nossa há sempre um sentimento deixado impresso naquilo que fazemos, até quando agimos de modo robotizado.
Doar roupas ou alimentos para um necessitado é algo louvável. Esperar que aquela pessoa te agradecesse ou fique submissa a ti pelo resto da vida por essa atitude é algo infantil e pode gerar raiva e frustração ao doador. Você fez o bem a outro, mas em seu interior irá produzir ira, pois não alcançou seu objetivo pessoal que era aclamação pessoal instantânea. Nesse caso, o que recebeu de ti o favor estará em paz enquanto você estará em guerra.
É interessante lembrar, que por vivermos em democracia, em sociedade, em comunidade, o voto não é um instrumento que serve como passagem apenas para benefício pessoal, mas sim um instrumento para construção do benéfico coletivo (ou restrição dele também).
Candidatos não devem ser eleitos para representarem ou legislarem apenas pelos seus grupos, sejam eles de evangélicos, de metalúrgicos, de LGBT, de professores, ou seja lá de que ordem sagrada ou profana for. Quem é eleito, seja em que grau for, é eleito para legislar em favor de todos, inclusive dos que não votaram ou “perseguiram” esse tal em suas campanhas eleitorais. A confirmação de voto pelo eleitor não dá direito a ter um “político de estimação”, assim também como não dá direito ao político a ter seu “eleitor de estimação”. A base política ou econômica que demoramos mais de 6 mil anos para construir, por meio de várias guerras ou tratados, não pode começar a ruir pelo EGO de meia dúzia de pessoas preguiçosas e oportunistas que acham que o dinheiro e o poder público são de sua propriedade para usar com bem quiser. É um desrespeito a todos os legisladores, pensadores, filósofos e grandes lideranças políticas e religiosas de todas as épocas, incluindo principalmente a sociedade atual em que estamos inseridos no momento que tem o poder de avançar ou retroceder depois de tantas conquistas.
As pessoas não questionam sobre enriquecimento ilícito ou meteórico do seu candidato, desde que por um ou vários votos alguma promessa pessoal lhe tenha sido feita. Mais ou menos assim: subtrair do povo para dividir com os do seu grupo pode, não é feio, não é pecado. Subtrair e ficar para si só, jamais!
Outra coisa: quando um candidato eleito faz o que deveria ser feito, ele não fez um favor a ninguém, ele não fez nada mais que sua obrigação! Não deve ser endeusado, cultuado ou ocultado suas falhas por um uso correto de suas atribuições. É considerado favor, apenas o que ele fez com seu recurso próprio, tirado do seu bolso, e não usando verba pública ou influência política para tal. Foi no Egito que considerávamos nossos governantes divinos, e até pouco tempo com a revolução francesa. Depois da queda de Bastilha todos os governantes são meros mortais e devem ser tratados assim. Nem mais e nem menos. Seja um com autoridade política, religiosa ou jurídica. Não vamos regredir passando a endeusar pessoas como nós. Suas ações e sua memória podem ou devem ser lembradas, mas sua conduta pessoal é passível de julgamento quanto qualquer outro. Para a construção de uma sociedade justa não deve ser levado em consideração trocas de favores pessoais entre governantes e governados.
No nosso sonho de política, imaginamos uma sociedade perfeita, com todos vivendo em abundancia e em harmonia. Na nossa realidade política, entendemos que quando todos passam a ter uma vida mais digna, não tem mais graça fazer inveja ou fazer outros sofrer. Nas nossas fantasias políticas, elegemos nossos super-mega-hiper candidatos que podem servir não como administradores para todos, mas como aqueles que será a representação máxima de nosso EGO, e ao mesmo tempo nosso capataz, para aprisionar pensamentos, opiniões e atitudes alheias de tudo aquilo que em nosso pequeno mundinho determinamos de certo ou errado, bom ou ruim apenas para nós mesmo ou para nosso grupo.
Como voto elegemos o que deveria representar o povo, para o povo, em favor do povo e com o voto, manifestamos o nosso estado medíocre de espírito. O voto é o mesmo. A intenção é que muda a direção das coisas. Amizades e favores pessoais devem ser deixados de lado nesse momento importante. Ninguém deixa de ser amigo quando prefere entre o bom administrador e o mais popular. Ninguém deixa de ser amigo quando julga o caráter e reputação do ser como administrador, o que ele fez ou faz com recursos públicos. Verdadeiros amigos nos obrigam ou nos incentivam a voltarmos ao ponto inicial quando adentramos vereda da corrupção. Os que prezam apenas pelo próprio bem estar caminha junto com o que se desviou do rumo inicial, e ambos cairão num lamaçal. Ainda que pareçam limpos por fora, estão imundos por dentro. Amizades á parte quando o assunto é o bem coletivo!
Escrito em 21/8/16