Academia São José de Letras, discurso de posse -

Oração proferida durante a posse solene na Academia São José de Letras, da cidade de São José, Sc. - 2013 -

" Senhor Presidente,

Senhores Academicos,

Ilustres convidados,

Saudações acadêmicas!

A Língua Portuguesa é a mais importante das inúmeras expressões culturais do país. Principal responsável pela formação e consolidação desse imenso país ilhado entre povos de outras falas, que permitiu resistir as investidas de conquistadores pela comunicação fluente e única.

Foi desde os primórdios Coloniais fundamental para a construção da nacionalidade e assim continua nesses anos de globalização, redes sociais, multinacionais apátridas e instrumentos midiáticos diuturnos que se valem de estrangeirismos vulgarizados na intimidade das famílias, nas esquinas das metrópoles e sertões perdidos.

Muito além da vocação pelo futebol, da espiritualidade musical, da ginga e balanço de alegria, do sabor da cachaça, do feijão com arroz, do doce de coco entre outras marcas inconfundíveis, é o sotaque brejeiro do dialeto americano da Língua Portuguesa, mais brasileira do que lusitana, que abraça os elementos formadores da federação, mantendo-a uma única nação.

O pavilhão verde amarelo, é hasteado em todas as fronteiras ao som emocionado do hino nacional, com a mesma compreensão e patriotismo face o linguajar que adotamos.

A Língua é o Brasil. É a saudade daqueles que distantes choram a terra natal. É o patrimônio que agredido está cada vez mais fragilizado e pede socorro.

Saibam pois que essa é a principal razão de estar entre os cultores desta ilustrada Academia. Sinto-me na obrigação de empenhar-me na tutela da delicada flor que das margens do Tibre se expandiu ao Tejo, e se firmou pelos continentes e mares distantes.

É assim honra e alegria adentrar nesta Academia de Letras e me integrar ao selecionado rol de cultos artesões do melhor traquejo da Língua Portuguesa. Sinto-me importante e pela responsabilidade assustado, porém preparado para os enfrentamentos.

O assento que me é oferecido leva o nome de Nicolau Nagib Nahas, cujo patrimônio literário legado aos catarinenses revela sua ousadia em edificar o movimento modernista regional, antecipando-se trinta anos dos autores que vieram a integrar o notabilizado Grupo Sul.

Resgatou, como é sabido, a linguagem popular e padrão, sempre preocupado com os valores da terra, trazendo consigo através de suas obras, a agitação cultural herdada da Semana da Arte de 1922 que de São Paulo, espalhou a cultura nacionalista então inexistente.

Ocupar a Cadeira nº 35 da Academia, para o anônimo chegante que sou, torna-se inexplicavelmente grandioso, mormente lembrando de Gilberto Nahas, recentemente falecido, meu antecessor a quem rendo respeito, e modestas, porém sinceras homenagens.

Militar laureado, também se dedicou às letras. Foi colunista de periódicos dos mais diversos, se revelando exponencial cultor das letras catarinenses. Seus poemas foram publicados em obra coletiva deveras aplaudida pelos críticos.

Assim, com a lanterna na popa, desta fortaleza cultural pretendo seguir a trilha dos que me antecederam, valendo-me da experiência e exemplo dos Dígnos Confrades no melhor aperfeiçoamento em defesa da última flor do Lácio, difundindo e fortalecendo a rica cultura do litoral no qual nos encontramos.

Seguirei a trilha aberta pelos que lapidam as letras regionais, buscando enfrentar as investidas rasteiras que, diuturnamente sofre a linguagem fluente popular, cedendo espaços para a verbalização importada disseminada pelos meios de comunicações.

A fala do litoral catarinense, quase desenhada, construída artesanalmente ao longo dos séculos, implantada pelos transloucados colonizadores, se impôs regionalmente e sofre agressões constantes pelos falares trazidos de tantos cantos e recantos.

A linguagem singular sofre investidas que a conspurcam.

Quero pois, com a caneta e a lupa ser mais um dos soldados a combater o bom combate e prosseguir na defesa e aprimoramento da prosopopéia natural, construída desde os primeiros navegadores que encalharam na costa desse pitoresco litoral.

Quero ajudar a Academia tutelar a fala dos primeiros bandeirantes que, audaciosos, ignoraram o Tordesilhas e souberam conquistar e impor, sobre o território castelhano de então, o mais precioso instrumento de unidade nacional, introduzindo na Capitania de Santana a mesma fala e as mesmas letras, que foram plantadas por toda Pindorama.

Como já dito, A MAIOR EXPRESSÃO CULTURAL DA NAÇÃO É A LÍNGUA DE SEU POVO. DEFENDER A LÍNGUA PORTUGUESA É DEFENDER O BRASIL.

Essa é a proposta: Trazer o som típico, próprio da raiz da serra, das praias, das escolas, dos bares, dos armazéns e demais sítios da orla atlântica para os livros, cadernos e alfarrábios perpetuando e disseminando o linguajar erudito, culto e popular do povo barriga verde.

Boa noite, muito obrigado. "

Roberto J. Pugliese

Roberto J Pugliese
Enviado por Roberto J Pugliese em 20/05/2016
Reeditado em 20/05/2016
Código do texto: T5641821
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