A MARCHA
Alguns gritam que desejam a prisão de todos os saqueadores da pátria, de qualquer partido, ninguém pode estar acima da lei. Outros declaram que não importa se há tortura, afronta aos direitos civis, os fins justificam o expurgo da famigerada quadrilha, mesmo que seja numa câmara de gás. Querem, ansiosamente, a prisão do líder, o ex-operário que representa tudo aquilo que eles desejam prosseguir desprezando, sem que sejam importunados. Destituam também a mulher que sobreviveu aos militares, afinal, é mulher e foi subversiva, lutou pela liberdade, a comunista inconveniente que ganhou duas eleições. Provas são detalhes diante do laço da forca.
Sim, eles desconfiam que há algo errado, sentem a manipulação tendenciosa da mídia, mas é irrelevante. Precisam pisar e cuspir sobre os calhordas vermelhos, é o que almejam com o fervor dos justos. Prevaleçam aqueles que preferem ensinar a pescar e que nunca darão um grão para matar a fome de ninguém. Que comprem o peixe ou comam farinha. Acabem com as cotas para negros, privatizem o ensino, entreguem o petróleo aos estrangeiros. O mundo é para quem nasce para o conquistar - declamou Fernando Pessoa. O mérito não pode se ajoelhar para a miséria. Mérito de quem?
Sábios, afirmam que a tecnologia vai acabar com algumas profissões, é o preço, danem-se as pessoas. O futuro é inevitável diante de um humanismo supérfluo. Detestam taxistas, motoristas de ônibus, pedreiros, flanelinhas e zeladores de prédio. Fazem piada, riem e compartilham somente o que possa humilhá-los, mesmo que coisas boas pudessem ser contadas. Para que exaltá-los? Preferem estar em harmonia com a manada.
Lerão este texto, mas não até final. Antes disso, virá um bocejo seguido pelo gesto de enfado. Talvez me chamem de petralha, não interessa se sou ou não. Por que ecoar qualquer solidariedade entre uma classe média que ignora as favelas ou o extermínio de quem as habita? Por que insistir com gente que não enxerga os confins do sertão nem mora na periferia? É inútil. Para os caçadores de corruptos, nada disso é opinião, é afronta, é conversa para boi dormir. Clamam por justiça, desde que se limite apenas a do Moro. Se for para falar de igualdade, já acolheram o Joaquim Barbosa, ir além é abuso. Em breve, marcharão com a nostalgia dos coturnos, orando e cantando pelos virtuosos, se é que eles existem.
Alguns gritam que desejam a prisão de todos os saqueadores da pátria, de qualquer partido, ninguém pode estar acima da lei. Outros declaram que não importa se há tortura, afronta aos direitos civis, os fins justificam o expurgo da famigerada quadrilha, mesmo que seja numa câmara de gás. Querem, ansiosamente, a prisão do líder, o ex-operário que representa tudo aquilo que eles desejam prosseguir desprezando, sem que sejam importunados. Destituam também a mulher que sobreviveu aos militares, afinal, é mulher e foi subversiva, lutou pela liberdade, a comunista inconveniente que ganhou duas eleições. Provas são detalhes diante do laço da forca.
Sim, eles desconfiam que há algo errado, sentem a manipulação tendenciosa da mídia, mas é irrelevante. Precisam pisar e cuspir sobre os calhordas vermelhos, é o que almejam com o fervor dos justos. Prevaleçam aqueles que preferem ensinar a pescar e que nunca darão um grão para matar a fome de ninguém. Que comprem o peixe ou comam farinha. Acabem com as cotas para negros, privatizem o ensino, entreguem o petróleo aos estrangeiros. O mundo é para quem nasce para o conquistar - declamou Fernando Pessoa. O mérito não pode se ajoelhar para a miséria. Mérito de quem?
Sábios, afirmam que a tecnologia vai acabar com algumas profissões, é o preço, danem-se as pessoas. O futuro é inevitável diante de um humanismo supérfluo. Detestam taxistas, motoristas de ônibus, pedreiros, flanelinhas e zeladores de prédio. Fazem piada, riem e compartilham somente o que possa humilhá-los, mesmo que coisas boas pudessem ser contadas. Para que exaltá-los? Preferem estar em harmonia com a manada.
Lerão este texto, mas não até final. Antes disso, virá um bocejo seguido pelo gesto de enfado. Talvez me chamem de petralha, não interessa se sou ou não. Por que ecoar qualquer solidariedade entre uma classe média que ignora as favelas ou o extermínio de quem as habita? Por que insistir com gente que não enxerga os confins do sertão nem mora na periferia? É inútil. Para os caçadores de corruptos, nada disso é opinião, é afronta, é conversa para boi dormir. Clamam por justiça, desde que se limite apenas a do Moro. Se for para falar de igualdade, já acolheram o Joaquim Barbosa, ir além é abuso. Em breve, marcharão com a nostalgia dos coturnos, orando e cantando pelos virtuosos, se é que eles existem.