Amargos da doce vida

Tenho pensado muito no valor dos pequenos gestos e suas repercussões. Não há mágica que possa nos salvar do absurdo. O jeito é descobrir esta migalha de vida que sob as realidades insiste em permanecer. São exercícios simples, por isso sei que toda vez que eu quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer do outro uma representação daquilo que me falta. Isso não é amor, isso é coisa de criança, assim aprendo que a beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência.

A maior prisão que podemos ter na vida é aquela quando a gente descobre que estamos sendo não aquilo que somos, mas o que o outro gostaria que fôssemos. Geralmente quando a gente começa a viver muito em torno do que o outro gostaria que a gente fosse, é que a gente tá muito mais preocupado com o que o outro acha sobre nós, do que necessariamente nós sabemos sobre nós mesmos, por isso quero viver para fazer esquecer, Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Há mais beleza em construir que destruir, e assim vou tomando cuidado com aqueles que deixam cair qualquer coisa sobre mim, afinal, eu mereço muito mais que qualquer coisa, e cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós,será plantação que poderá ser vista de longe.

Todo mundo, quando se vê uma situação ruim, tem duas opções: passar em cima de todo mundo que está na sua frente e se salvar, ou ajudar os que estão a sua volta, e correr o risco de sair machucado, Isso vai da índole de cada um. e eu sei qual é a minha, a minha é vencer a maior de todas as batalhas, a contra mim mesmo.

A muitos dragões para serem enfrentados, e muitas princesas a serem resgatadas de suas torres, só não posso mais esquecer de verificar se elas querem mesmo ser resgatadas, não enfrento mais dragões que não valham à pena, sofre-se muito nessas batalhas, e descobre-se que muitas vezes acreditamos em pessoas que imaginamos infinitas em capacidade e, de repente, descobrimos serem menores que grão de areia e a própria expressão do nada.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 11/03/2016
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