Desconforte-se

Escrevo esse texto para pessoas entediadas com a situação atual de suas vidas, como uma forma de refletir e quem sabe mudar de opinião, como assim o fiz.

Começo explanando sobre nosso objetivo de vida: satisfação sucesso e felicidade, dentre outros. Partindo do pressuposto que somos obstinados jamais busquemos a calmaria, pois ela nos faz infeliz e encare isso como um fato pelo menos agora.

O conforto que tanto procuramos é enxergado como uma mais valia nas nossas vidas. Facilita-nos, traz plenitude e aquela nirvana almejada. Traiçoeiramente ele cria a sensação de uma meta enfim atingida com o cessar do labor. O conforto é a maior conveniência adquirida da humanidade, mas é o incômodo que nos edifica. A intersecção do desafio com a motivação é o que conduz-nos a transformação pessoal e cada desafio enfrentado é uma lasca tirada pelo cutelo que nos lapida, criando a oportunidade de nos capacitar ou habilitar.

A zona de conforto nada mais é do que nosso estado de estagnação, é o nosso comodismo conveniente e ludibrioso, encarado como a aposentadoria do arrojo, abandonando assim o pensar, o fazer, o sentir, até atingir a esfera do esclarecimento. O refúgio naquilo que controlamos e que somos experientes, converte-se na nossa limitação, afinal, quanto mais experientes somos em não fazer diferença, mais confortável é nossa situação, amplificando a zona de conforto. Nessa situação, inexoravelmente jamais nos capacitaremos, nossa mente fica encarcerada na escuridão de seu próprio claustro.

O crescimento pessoal ocorre fora desse ínterim e é fundamental aventurarmo-nos no desconhecido, pois no conhecido não há nada de novo. A repudia e temor ao incógnito é a chacina ao nosso iluminismo quiescente. Para crescer não podemos fazer aquilo que estamos fazendo no momento. Pense se os resultados bons que obteve foram assim...

Grande parte da razão pela qual todos abordam esse tema, inclusive eu, é que este conceito tornou-se um preditor acerca do comportamento e reação das pessoas às situações. O movimento de curtos passos na zona de conforto é um sinônimo da estagnação na vida e a permanência nessa bolha impedirá qualquer tipo de expansão mental, cultural ou criativa, basta ver as pessoas entediadas no trabalho: colhem os frutos que plantaram, esgueiraram-se da audácia ao tentar evitar cometer erros e assumir riscos. Não se nasce com manual de instruções para a vida e a apesar dos conselhos de seus educadores, de livros de auto-ajuda e desse singelo texto, é você meu caro amigo que vai ter que tomar uma atitude e levantar dessa poltrona. Reflita ao menos um minuto sobre construir sua própria trilha versus seguir a dos outros, a opção é sua, mas pense. Tomar uma atitude importante, certamente bagunçará sua rotina, mas a bagunça algumas vezes não é pecado. O arrependimento de errar é maior do que o de não tentar? Leve isso em consideração. Eu sempre aprendo com erros e nunca aprendi nada com o que não tentei.

A abdicação da zona de conforto pode causar algum transtorno inicial, mas isso é temporário, uma vez que temos uma capacidade enorme de aprendizagem e adaptação. A melhora da vida brota pela expressão da autoconfiança, ao ultrapassar aquilo que julgava ser o seu limite. Sempre estamos nos propondo a enfrentar algo desconhecido, seja em relacionamentos, saúde e isso requer algum grau de esforço e abdicação. Por que então paradoxalmente somos covardes com as oportunidades que nos surgem na vida? O receio de abandonar o que é familiar, embute em nós a premissa do fracasso ao encarar nossos medos e consequentemente evitamos o novo, continuamos fazendo aquilo que sempre fizemos. A mesmice que conforta.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 21/02/2016
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