Sábios perturbados

Impossível o sábio não ser alguém perturbado, com um limiar de tolerância beirando a zero. Já passei da fase de acreditar na serenidade de um grande pensador ao repassar seus conhecimentos. Mentalizava uma pessoa de voz suave e tranquila, onde a consciência de sua erudição expressava-se na forma de uma brandura clarividente. Categorizei que os sábios são extremamente impacientes, mentalmente perturbados e intransigente com palpites estéreis que deve receber. A blasfêmia irradiada da sua repulsa, talvez seja o propósito de ter deixado um legado apenas impresso em papel. Desistir da sua infrutífera boa vontade não o faz covarde, para mim o faz um herói. Como vencer a estupidez se nessa arte o ignorante é exímio? Os perturbados impacientam-se facilmente com a lentidão alheia e a decepção ao ver ruir seu sonho de difundir em uníssono alguma ideia, extingue a boa intenção.

Atualmente minha imagem converteu-se no oposto. Tenho hoje ciência do quanto inexequível é ensinar algo a indivíduos que não querem aprender, esses famosos bacharéis da “escola da vida”, portanto, imagino aqueles mesmos educadores na forma de mentores irritados, sarcásticos e intolerantes. É humanamente impossível alguém ter tamanha quietude e paciência ao levar um tapa na cara de uma indagação ou contestação infundada de um sujeito tão parvo e boçal. Viver nesse mundo parasitado por xucros orgulhosos fez-me simplesmente enxergar que a divergência do esclarecimento e cultura não é atribuída a sua heterogeneidade, mas sim ao seu antagonismo: a homogeneidade, justificada pela capacidade da ignorância em fundir-se e adaptar-se. A burrice é cômoda, basta não pensar em nada.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 21/02/2016
Reeditado em 07/03/2021
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