...VIDA = //RAIO CÉLERE DE LUZ//...

É incrível como a vida se assemelha a um raio esparso de luz emanado dos céus. Quando ainda não gerado, enclausurada força está contida em nuvens encharcadas por águas, que um dia já irrigaram vislumbrantes jardins. Através dos átomos friccionados da água, o raio começa a tomar forma e se preparar para entrar em ação, demonstrando com ímpeto a intensidade de sua energia em majestoso trajeto que vai do celestial ao terreno em particionamento temporal calculado por milissegundos.

A formação do raio é comparada ao feto quando ainda está envolvido no casulo aconchegante do útero, esperando o momento exato para que suas energias se tornem um rebento de vida inaugurado pelo estrondoso choro da existência. E tal fenômeno natural desembainha sua força, cujo vigor é mais intenso no princípio. Espelhado na figura do raio, assim também acontece com o ser humano na idade infantil, onde o ápice da vitalidade atinge seu transcendente estado; caminhamos, corremos, pensamos de forma mais imaginativa nessa fase inesquecível da vida; tudo é sonho e fantasia, o mal é apenas uma sombra distante encoberta pela inocência e pureza de espírito, cuja química do bem resultante desses sentimentos, nutrem a criança de alegria constante.

E o raio vai descendo, na mesma medida que vamos envelhecendo e se distanciando do céu. A brandura cândida da alma e a fé incondicional nas criações imaginárias vão se desvanecendo paulatinamente, dando lugar a desconfiança e a malícia que enegrece o coração outrora pueril.

Ao tocar no solo terrestre, o raio já perdeu considerável propulsão, aquela exuberância luzidia vai se tornando opaca, e a vida vai chegando ao fim, enterrando-se no destino mórbido que a todos aguarda, deixando na eternidade o eco de sua ressonância estridente e a dissipação de suas cores reluzentes. Eis que em seu derradeiro expirar, surge a pergunta do raio célere de luz denominado vida; fui tão intenso e cintilante como deveria?