CCNA 25 anos - Chamados a santidade em comunidade
Palestra: “Chamados a santidade em comunidade”
Jubileu de Prata da Comunidade Católica Nova Aliança
Anápolis, 23 de janeiro de 2016
Irmãos e irmãs,
Deus é bom e nos chama a sermos santos como Ele é Santo.
01.Agradeço a oportunidade de estar com vocês a convite do Magno Fernando, Fundador da Comunidade Católica Nova Aliança, para celebrar esses 25 anos de entrega desta Comunidade a Deus e do serviço a Ele prestado em diversos lugares, inclusive em nossas dioceses tão carentes de evangelização. Agradeço a Deus por este momento e por ter participado direta e indiretamente do momento em que nascia esta abençoada Comunidade de Vida e Aliança sob o impulso do Espírito Santo.
02.As Novas Comunidades são frutos do Espírito de Deus no Concílio Vaticano II, o maior evento da Igreja celebrado a cinquenta anos. O Concílio foi um sopro do Espírito Santo, dizia o Papa São João XXIII ao convocar aquele grande evento. O Concílio foi uma grande convocação da Igreja toda para fecundar os novos tempos com um novo vigor da fé e do serviço pastoral. O Concílio, na sua natureza profunda, movido pelo Espírito Santo, nos convida à santificação que nos ampara e fortalece na ação de inserção nas realidades do mundo a serem fecundadas pelo testemunho dos batizados.
03.A Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, do Vaticano II, afirma que: “Todos os fiéis cristãos são, pois, convidados e obrigados a procurar a santidade e a perfeição do próprio estado” (LG, 41). É a vocação universal da Igreja, como disse o Concílio: “O Senhor Jesus, Mestre e Modelo divino de toda perfeição, a todos e a cada um dos discípulos de qualquer condição prega a santidade de vida da qual ele mesmo é o autor e o consumador, dizendo: “Sede, portanto, perfeitos, assim como também vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5,48)” (LG,40) “.
04.Todos os batizados, sem exceção, são chamados portanto, à santidade. “Eles são justificados – disse o Concílio – porquanto pelo batismo tornam-se verdadeiramente filhos de Deus e participantes da natureza divina, e portanto realmente santos. É pois, necessário que eles, pela graça de Deus, guardem e aperfeiçoem em sua vida a santidade que receberam” (LG,40).
05.São Paulo exortava os fiéis de Éfeso a viver “como convém a santos” (Ef 5,3); aos de Colossos, que vivessem “como escolhidos de Deus, santos e amados” (Col 3,12), de modo a que “leveis uma vida digna da vocação a qual fostes chamados” (Ef 4,1). O Apóstolo afirma aos cristãos de Tessalônica, com toda a convicção que: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Tess 4,3).
06. “Deus nos salvou e chamou para a santidade…” (2Tm 1,9). Desde o Antigo Testamento Deus já tinha chamado Israel, que prefigurava a Igreja, para a santidade Dele mesmo. Ele disse a Moisés: “Eu sou o Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santo porque Eu Sou Santo” (Lv 11,44-45). São Pedro relembra isso aos fiéis em sua primeira Carta: “A exemplo da santidade d’Aquele que vos chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está escrito: “Sede santos, porque Eu sou Santo” (1Pe 1,15-16)”.
07.A santidade buscada, acolhida e vivida dá à pessoa humana o sentido de sua completeza e plenitude. No ordinário de nossa vida cristã de pessoas batizadas, a busca da santidade não é algo extraordinário, mas o comum da vida do cristão. Da parte de quem é batizado não se pode esperar a falta de desejo de santidade, Não podemos dizer que não temos capacidade para sermos santos, pois contamos com a graça de Deus. A santidade não se alcança por si mesmo, visto que ela é um dom de Deus, a fonte sem fonte da santidade. Enfim, a santidade é fruto da nossa união com Cristo.
08.A esse propósito o Catecismo da Igreja no n° 1709 nos ensina que a santidade vem a partir da fé em Cristo: “Quem crê em Cristo torna-se filho de Deus. Esta adoção filial transforma-o, dando-lhe a possibilidade de seguir o exemplo de Cristo. Torna-o capaz de agir com retidão e de praticar o bem. Na união com o seu Salvador, o discípulo atinge a perfeição da caridade, que é a santidade. Amadurecida na graça, a vida moral culmina na vida eterna, na glória do céu”.
09.Este ensinamento é a base para que possamos entender o crescimento na santidade em comunidade. Na vida fraterna, em comunidade, somos interpelados pelo Espírito a viver nossa santificação pessoal que favorece o crescimento também da comunidade na qual me encontro.
10.Mas como buscar esta santidade pessoal dentro da comunidade que livremente abracei por me sentir chamado a esse modo de vida? Sabemos que não somos por nós mesmos capazes de atos santos, sabemos entretanto, que a medida que renunciamos à vida natural e pecadora a qual herdamos de Adão, renunciarmos também a satanás e as suas obras, para vivermos segundo Cristo, para vivermos a vida de Jesus Cristo, de modo que aos poucos, Jesus vá ocupando todas as áreas do nosso ser, para que Ele viva em nós, atue em nós e nos agracie com a experiência salvífica.
11.Na comunidade o diabo, não poucas vezes usa dos irmãos e irmãs, com os quais convivo, para criar obstáculos à nossa santificação, à minha santificação pessoal. Santa Terezinha viveu essa realidade com aquela irmã que a perturbava o tempo todo, subtraindo-lhe a paz até mesmo na capela de oração, ao passo que a santa a elegeu como destinatária do seu amor. O amor verdadeiro é aquele que se dirige à pessoa que não nos atrai ou satisfaz. A vida fraterna é o cerne da vida cristã. É ela o vinho do amor! Um dos pilares da santidade é a fraternidade. Para uma comunidade que procura viver a santidade, quando chega um irmão ou uma irmã que está a ingressar no caminho da entrega, é sinal que chegou Jesus: Vamos amar essa pessoa, mesmo que não atraia a minha simpatia.
12.A vida em comunidade não é nada fácil, pois exige de todos um ato de kénosis, de rebaixamento, como fez Jesus. Isso se chama humildade. Quem não exercita a virtude da humildade não poderá alcançar um grau maior de santidade. Contrapõe à humildade o orgulho que nos coloca em pé de guerra com os outros, nos levando ao criticismo, à falta de caridade com os irmãos.
13.A crise que vivemos com a saída de tanta gente das novas comunidades, de nossos seminários, da vida religiosas, da vida sacerdotal e as intermináveis separações conjugais se situam dentro de uma crise do humano. Estamos em crise, pois não sabemos quem somos nós. É uma crise antropológica. Por falta de fé a pessoa humana pós moderna não sabe quem é, de onde veio e para onde vai. A heresia de certas seitas pagãs, com linguagem cristã, prega a falsa teologia da prosperidade, incute também uma mentalidade de que é possível uma vida sem sacrifício e sofrimento. Não há cristianismo sem cruz; não há santidade sem o sacrifício de carregar a cruz de si mesmo e da comunidade. Viver é difícil! A vida exige muito de nós! Não há na existência a ausência dos desafios e dos sofrimentos que muitas vezes os outros nos causam.
14.A santidade inclui esse abraçar a cruz com Cristo. Amar e sofrer, foi a dinâmica que marcou a vida dos santos de ontem e de hoje. O outro não pode ser visto como “meu inferno”, mas como auxílio para o meu céu. A tentação que o inimigo semeia dentro de nós atiça o orgulho e suscita em nossa vontade aspectos de crueldade espiritual e começamos a matar o outro em pensamentos e desejos. Isso breca o caminho de nossa perfeição e, consequentemente, não ascendemos à santidade.
15.Anteontem o Santo Padre, o Papa Francisco, celebrando o dia de Santa Inês, teceu algumas considerações importantes para nossa meditação. Fico impressionado porque todo mundo fala bem e elogia o Papa Francisco no que fala e faz, mas pouca gente tem peito e coragem para pôr em prática o que esse homem ensina. Muitos admiram a pobreza, a simplicidade do Papa, mas continuam a edificar mansões suntuosas ao lado de casebres miseráveis, a trafegar com carrões caros no meio dos que andam a pé por não ter dinheiro para pagar o ônibus. Nós, clero católico, precisamos escutar o que o papa tem falado sobre a pobreza, a sobriedade e a mansidão misericordiosa. O dinheiro, o carreirismo, a sede de poder foram e são um obstáculo à santidade pessoal e comunitária.
16.Francisco, naquela homilia, alertou sobre o ciúme e a inveja, pecados existentes também nas comunidades cristãs e que usam a língua para matar os outros. O Santo Padre comentou a Primeira Leitura do dia, que fala do ciúme de Saul em relação a Davi depois da vitória contra os filisteus, chegando a pensar em matá-lo. O ciúme, segundo o Papa, é uma doença que leva à inveja. “Coisa ruim é a inveja! É um comportamento, um pecado ruim. E no coração o ciúme e a inveja crescem como erva daninha. É um coração atormentado, é um coração ruim! Mas também o coração invejoso leva a matar, leva à morte. E a Escritura o diz claramente: por inveja do diabo entrou o mal no mundo”.
17.A inveja mata, afirmou o Papa, ressaltando que o coração do invejoso e do ciumento sofre. Trata-se de um sofrimento que deseja a morte dos outros. Francisco admitiu que não é preciso ir muito longe nas comunidades cristãs para ver que, por ciúme, se mata com a língua. Quem tem inveja dos outros começa a fofocar e as fofocas matam. Isso que diz o Pontífice é o freio que impede a santidade de crescer nas nossas comunidades e casas de missão, nos seminários, no meio dos religiosos e do clero.
18.Nao adianta muito eu falar isso aqui para vocês, pois estamos vivendo um dos tristes pecados da parte dos católicos de nosso tempo: a rotina e o acostumar-se com as coisas santas. Tudo eu já sei. Tudo já vivi. Preciso de coisas estupendas que fale à minha alma, pois já não me deixo encher pela presença de Jesus Sacramentado, já não me emociono ao confessar meus pecados, a missa não me toca mais, a Bíblia já me é tão familiar que não a respeito mais, palestras e homilias não alcançam mais meu coração porque já sei tudo e não confio na santidade de mais ninguém que prega. Que baita heresia! Que triste realidade. Que dor ao coração de Jesus ver nossos corações que andam assim. Estamos nos tornando católicos de corpo presente nas atividade e celebrações, enquanto o espírito perambula pelas cavernas e solapas do vazio, do pecado e da imundície da curiosidade carnal.
19.Será bom que, nesta ótima ocasião destes 25 anos da CCNA cada um perguntar para si mesmo: tenho sido céu ou inferno para meus irmãos de comunidade. Muita gente na Igreja está carregada pelo espírito religioso, uma espécie de demônio, que leva as pessoas a fazerem as coisas de Deus, mas sem Deus, criando divisões, contendas e diabolizando as comunidades e pessoas, afugentando assim a graça da santificação em comum. Perguntemos a nós mesmos, a que espirito estou servindo?
20.Na comunidade eu devo me santificar e santificar os irmãos. A vida fraterna deve ser um grande espaço a vida de santidade. Devo ver Deus no outro, mesmo que seja aquele outro ou outra que ostenta em si tanta limitação, pirraça, negativismo, amargura e etc. Se orarmos na intenção do que me fere e me põe a prova terei mais lucro do que falar mal, caluniar e tentar rebaixa-lo. Enfim, a santificação inclui esse morrer de mim mesmo e abraçar as chagas de Nosso Senhor, mergulhar no arrependimento contínuo e impor a servidão à carne mediante a meditação, penitências e jejuns, oração e prática das obras de misericórdia corporais e espirituais.
21.O verbo “cuidar” precisa ser conjugado em nossos dias, sobejamente, sobretudo em nossas comunidades. Cuidar dos irmãos e irmãs que carregam tantas enfermidades espirituais e corporais. Temos que aprender a cuidar dos outros. É muito triste a realidade de feridas abertas que não foram fechadas por falta de humildade e do deixar-se cuidar. Tem gente que não muda, não converte porque ostenta a capa da soberba e do orgulho, por isso servem ao diabo, fazendo as coisas de Deus. Que coisa medonha, isso. Numa comunidade de vida, onde os membros vivem a experiência do Batismo no Espírito, é inconcebível que ao fazer as transferências o conselho tenha que estudar com quem aquele membro pode ficar, visto que não dá certo com tantos irmãos da comunidade. Este é o sofrimento, também, das congregações religiosas e dos bispos. Trabalhamos sobre a regra do orgulho, da pirraça e dos ciúmes de tanta gente que ao invés de ser graça, torna-se desgraça para os outros. Penso que pessoas assim, deveriam tomar consciência de suas situações e se o orgulho não cede, deveriam deixar a vida fraterna, visto que se tornaram cadáveres espirituais que vão infectando os que as tentam carregar, cuja fedentina espanta o odor de Cristo que deve exalar as comunidades. É impressionante as pessoas que já receberam e recebem tantas oportunidades de se converterem mas não cedem a Deus e criam o ídolo de si mesmo. São Paulo chega a recomendar que certas pessoas devem ser entregues ao diabo para serem joeiradas e voltarem a Deus. Deixemos Deus nos curar e nos renovar. A vida comunitária deve ser um elemento sempre novo na nossa caminhada de fé. Quando nos abrimos a Deus e à sua Graça, a comunidade carrega-se de frutos sazonados pelos carismas do Espírito Santo. Esse fogo de Pentecostes nunca deve ser apagado, pois é uma realidade tão antiga e tão nova que nos santifica. .
22.Daqui a 25 anos a CCNA completará 50 anos de caminhada. Muitos de nós já deve estar na eternidade. Quem de nós vai estar lá? Este público não será mais de jovens apenas, mas uma mescla do novo com o velho. Espero que todos perseverem nesse caminho de santificação e não se desanimem. Até lá, no ano 2041, as comunidade novas já não serão mais novas, as realidades serão outras e os desafios também outros. Preparem-se, pois os idosos vão chegar na vida das novas comunidades. Vocês de hoje serão os missionários idosos de amanhã. Preparem-se para se santificar também com a alta idade e não serem pedras de tropeços para os que terão que cuidar de vocês. Lembrem-se, o processo de santificação não se conclui com as etapas da vida, pois se realiza até o último suspiro de nossas vidas.
23.Devemos consumir nossas vidas na missão e na oração se quisermos ser santos. O ativismo e o comodismo são os insetos mais danosos ao nosso processo de santificação pessoal e comunitário. Todos nós precisamos buscar a santidade diuturnamente. É a nossa meta. Temos a nosso favor essa grande particularidade das comunidades novas, advindas da Renovação Carismática Católicas, não podemos esquecer isso, o Batismo no Espírito Santo. Não abandonemos essa particularidade essencial em detrimentos de tantas coisas acidentais. Vivamos o fervor do Batismo no Espírito Santo e seremos incluídos entre os que se apresentaram santamente ao lado do Cordeiro com as vestes brancas, pois passaram por este mundo de tribulação sem as mancharem no paganismo, mas ao contrário às alvejaram no sangue do Cordeiro Redivivo, Apc. 7,14. Que Nossa Senhora do Amparo passe sempre à nossa frente para vencermos sempre na busca da santidade. Amém!