paciência impaciente
Quanto nos afeta a diferença de alguém, que nos parece insuportável, também se manifesta uma revelação de nós a nós mesmos. Quando sentimos a debilidade de uma pessoa aborrecida e incômoda aos nossos olhos, isso pode ser simplesmente a expressão de sentimentos egoístas e racistas, ou de medo e de rejeição do confronto. É gritante a rejeição da paciência e da capacidade de suportar alguém que nos parece aborrecido, mas também um caso heroico de capacidade de suportar e de paciência frente ao caráter insuportável do outro, transformado em violência agressiva.
A paciência é o olhar generoso, olhar que não se detém nos detalhes, no acidente de percurso, que não considera o pecado definitivo, mas que o coloca no contexto de todo o caminho existencial que o homem é chamado a percorrer, a paciência declina-se como perseverança e constância nas tribulações e nas provas, como capacidade de suportar e de tolerar quem causa aborrecimentos e suscita conflitos, como olhar longânime frente às incapacidades alheias. A paciência é a arte de viver a insuficiência. E a insuficiência, encontramos nos outros, mas também em nós, na realidade. O suportar paciente do outro, que é sentido como aborrecido ou hostil, caminha a par e passo com a paciência para consigo mesmo e para com as suas incongruências, frente aos acontecimentos que se opõem aos nossos desejos e à nossa vontade, cujo desígnio de perfeição continua incompleto.