MONÓLOGO
Se vivemos à mercê de nós mesmos,
procurando explicações para o inexplicável,
como podemos querer que os outros nos expliquem?
Se tantas vezes somos vítimas
daquilo que fazemos e carrascos de nós mesmos,
como podemos supor que outrem vá ter as respostas?
Se a eterna batalha de subjugar o próprio eu nunca terá fim,
então não há como prever o tempo necessário para que o que está oculto seja revelado
e que a verdade se manifeste encarnada na pessoa da justiça.
Se supormos que a justiça triunfará,
então a verdade terá sido a juíza de todas as causas?
Se é mister que a verdade venha à tona,
então será preciso resgatar as embarcações
que jazem nas profundezas de um mar dantesco e revoltoso.
Se o nosso maior inimigo habita no âmago do nosso pensamento,
se podemos ver a sua face quando olhamos no espelho;
então por que vasculhar nas gavetas do passado procurando aquilo que queremos esconder?
Se a vida revelada em fatos e fotos é o que nos satisfaz,
então como recusar "o vosso reino" e desejar apenas "o venha a nós"?
Se formos julgar a nós mesmos,
sentaremos no banco do réu com a sentença já desferida e o julgamento,
seja ele qual for, não será imparcial.
Se, por outro lado, somos isentos de culpa,
então não necessitamos de ser perdoados e nem de perdoar;
somos como deuses que podem, mas não atiram a primeira pedra.
[ "É somente a oportunidade, quer dizer, a possibilidade de
êxito que decide se a preferência deve recair sobre este ou aquele ponto de vista." Carl Gustav Jung ]