Cavaleiro de Malta

Quando a gente passa por uma vida, seja ela boa ou ruim, sempre temos algo a aprender, e nunca poderemos dizer que já aprendemos tudo, ideologias mudam, teorias podem ser provadas que também mudam, se me perguntarem o que eu sei de tudo isso, posso responder com outra pergunta, o que você sabe sobre meu conhecimento, de onde eu vim, e o que estou fazendo aqui, se não souber me responder tente descobrir porque você você está aqui, já vivi o suficiente para experimentar das maldades que o ser humano é capaz, das ideologias de controle absoluto as teorias de maldades camufladas, lutei com espadas e escudos, e nessas lutas, cada uma delas, só o que vi foram pessoas sendo feridas com palavras e atitudes, e a cada vez que a espada transpassava um corpo, só o que eu percebia era o suspiro de alivio de uma alma machucada, que pior do que ser transpassado por uma lâmina afiada era viver entre seres que ferem com a lâmina embainhada dentro da própria boca, lâmina essa que não precisa afiar, pois a maldade também pode a tornar mortal.

Larguei a espada após a guerra, onde vi crianças sem vida, sem chance, não existem argumentos o suficiente que possam fazer um soldado continuar lutando ao ver que ideologias e teorias controlam uma civilização, ter medo da morte para si, e não ter medo de matar, quando pegamos na espada pela primeira vez, esse é o sentimento, e cada vez que ela é transpassada no inimigo, nossos olhos ficam fixados nos olhos do inimigo ferido, pelo prazer de ver a vida se esvaindo como se fosse pó, que graça tem um soldado matar um inimigo que não pode olhar nos olhos, de todas as gerações que vivi, essa é a mais cruel, a menos sensível, a mais desprezível, onde as noites vazias se tornam lugares cheios, os dias cheios de pessoas vazias e sem vida, todas olhando para um objeto, já mortos por dentro.

Nas cruzadas, um soldado sem espada era um soldado morto, hoje um soldado morto é um soldado sem tecnologia, mesmo que já esteja morto antes de perder suas armas, triste morte destes soldados, por isso acho que minha morte é um desejo sábio, essa luta é muito desigual, muito desonesta, quando guardei minha espada jurei nunca mais usá-la enquanto não existir um soldado que lute justo, já que justiça virou uma ideologia, deixou de ser questão de honra.

Me pergunte quantos anos eu tenho para falar destas coisas, e te responderei que tenho o suficiente para saber que essa civilização moderna não evoluiu em nada, a não ser na maldade que pratica, escondendo e camuflando os crimes que cometem, continuam com os mesmos erros, as mesmas barbáries de gerações e séculos passados, não sei o que ainda faço por aqui, vagando pelos corredores e vielas vendo as sombras de maldades sorrateiras, procurando a próxima vítima, mas agora minha espada é outra, minha espada é minha educação, meu escudo é minha reputação como ser humano que um dia no passado jurou lealdade protegendo a vida de inocentes, só não luto mais por ideologias e teorias prontas, crenças rasas e pessoas vazias e interesseiras, minha luta é pela vida, única coisa de valor que existe nesse mundo escuro e cheio de mortes, já vi tantas, aprendi a não ter medo dela, estou sempre a espera, só os valores sobre ela se inverteram na minha mente, hoje tenho medo de torná-la real na vida do outro, acho que estou pronto para morrer, pois descobri que não estou mais pronto para matar, seja lá para onde eu for, quando a morte estender as mãos para me buscar, vou sorrindo, feliz, pois descobri que não foi para matar que estive aqui, foi para proteger.

Estou pronto, posso encará-la de frente.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 07/11/2015
Reeditado em 07/11/2015
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