Maldades e maldosos IV parte

A maldade pode estar nos olhos, sem que você a perceba, Antoine de Saint-Exupéry, com sua bela mensagem sobre o melhor que podemos ser já dizia que teríamos que suportar o mal, porque não seriamos capazes de encontrar o bem onde existe o mal para confundirmos:

“Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”.

A flor e o pequeno príncipe é uma escola para quem precisa conhecer e se aprofundar nas coisas que dividem o bem e o mal, o adulto com seu tempo limitado e a criança com seu tempo aberto para o bem, para as descobertas, até hoje não entendo porque uma criança consegue olhar muito mais longe do que um adulto, talvez porque presos na maldade que carregamos, temos em mente que o outro só pode ser aquilo que enxergamos dele, e não através dele, se você é um engenheiro, não vejo você como outra coisa a não ser engenheiro, se você é advogado, não vejo você com outra profissão a não ser advogado, se você é bom eu posso duvidar se você realmente é, enquanto uma criança com seus olhos pode descobrir se você é bom em qualquer coisa sendo quem você é, seja engenheiro, advogado, médico, ou seja lá quem for.

Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.

Quando Antoine de Saint-Exupéry falava de essencial quem consegue decifrar o invisível consegue ir além do que os olhos podem enxergar, acho que na nossa criação talvez houve uma grande inquietação de Deus sobre olhos e coração, como algo tão complexo pode ser tão simples, esquecer que os olhos foram criados para definir uma pessoa e suas qualidades ou defeitos, eu posso como todo mundo pode definir uma pessoa pelo coração, olhando nos olhos e no melhor que possa ser, nos dias em que vivemos, preferimos o resumo de um curriculum de palavras vagas, quem você é, de onde veio, o que você sabe, o que você fez, e pra onde quer ir, parece até um roteiro para que as pessoas possam te levar pra onde talvez você nem queria ir, e o convite fica vago, porque o convite feito limita você a ser o mais que você poderia ser, olhar com o coração é uma coisa difícil pra quem não tem coragem de olhar no fundo dos olhos e buscar o essencial de cada um, no sentimento mais profundo do ser existe uma resposta porque não olhamos para ninguém com os olhos do coração.

Já me peguei pensando sobre as maldades escondidas por detrás de olhos brilhantes, olhos que nos apaixonam pelo brilho, mas nos decepcionam quando percebemos que o brilho está nos olhos mesmo, ou éramos nós que brilhávamos e isso refletia naqueles olhos que com tempo descobrimos não existir brilho algum, apenas o ofuscamento da maldade tentando manchar o brilho que carregamos dentro de nós, quando conseguem apagar esse brilho, precisamos cuidar para que nossa escuridão interior não ofusque quem está ao nosso redor, e quando não percebemos o essencial que carregamos dentro de nós, ofuscamos o melhor de nós que os que nos rodeiam carregam dentro de si, acredito que tudo isso foi mais complexo para aquele adulto que se preocupava tanto com sua aeronave ou outros que tinham suas preocupações do que para o pequeno príncipe que preferiu procurar respostas, e no fim de sua busca, acabou descobrindo que sua resposta estava na flor e no vulcão, no bem e no mal, regar sua flor e cuidar para que as larvas não a destruam, cuidar do seu vulcão, pois ele estará sempre em erupção, eu quero ter a flor comigo, mas se eu não cuidar do meu vulcão interior ele pode tomar conta da minha vida e acabar com a beleza da flor que carrego dentro de mim, ou que vejo no essencial do outro.

Quantas dúvidas acerca das maldades e dos olhos que nos cercam, já encontrei filósofos, sociólogos psicólogos e vários especialistas que tentaram de suas maneiras e entendimentos explicar porque existe o bem e o mal, e porque os olhos escondem o obvio de cada um, mas respostas prontas não fazem de nós especialistas em resolver o que o mundo nunca se preocupou em definir como bom ou mal, eu só sei que trinta moedas de prata não valem o bem que eu carrego dentro de mim, que muitos se perdem por não saber do verdadeiro valor que a bondade pode me dar, que qualquer bondade por menor que seja será sempre uma bondade, num mundo acostumado a enxergar com os olhos da razão e julgar pelas maldades que carregamos dentro de nós, ao invés de procurarmos um sentido no pouco e no muito, estamos correndo um risco tão grande e ver maldade em tudo o que enxergamos, mas não sabemos qual é o risco, nem nos interessamos em saber, talvez porque nos achamos acima do bem e do mal, acima da razão mas sem emoção, vejo tantos vídeos de pessoas sendo boas, fazendo bondades que chocam a sociedade e até fazem refletir se é possível ser tão bom como se apresentam no vídeo como uma propaganda publicitaria de um produto qualquer, acho que é porque estamos acostumados a ver a maldade e ser maldosos com tudo e com todos, até que ponto podemos ser assim, até que ponto podemos continuar achando que o mundo é mal porque eu o vejo mal ou eu o quero mal.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 03/11/2015
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