Maldades e maldosos III Parte
De onde vem aquele sentimento maléfico que sentimos no olhar ou no tom de voz de alguém comentando que “sua roupa é muito bonita e você está super bem”? De onde vem o ódio expresso pela boca daquela torcedora, chamando de macaco, com gozo e ardor, o jogador negro? De onde vem o prazer irresistível da fofoca? E, de forma ainda mais grave, de onde vem o prazer sádico de se torturar e matar alguém? A psicanálise aponta: Vem de dentro. Nós nascemos, constitucionalmente, dotados da capacidade de amar e de odiar. Alguns são mais dotados de capacidade de amar que outros. Estes acabam por sucumbir aos prazeres mortíferos do ódio e da destrutividade (sim, há prazer nisso!). Shakespeare, em uma passagem belíssima de “Rei Lear”, buscando compreender o mistério desta profunda questão – a de porque alguns seres humanos são predominantemente bons e outros maus – diz:
"Deve ser por causa das estrelas a diferença de temperamento dos seres humanos. Pois, mesmo entre dois irmãos, gerados pelo mesmo pai e pela mesma mãe, quanta diferença há".
Este trecho nos lança diretamente no misterioso da questão: de onde vem o temperamento humano? De onde vem a capacidade de perdoar? E porque algumas pessoas nunca conseguirão experimentar isso na vida? No caso da peça, porque a amorosa Cordélia, mesmo tendo sido renegada pelo pai em sua necessidade de demonstração falsa de afeto, ainda assim o perdoa e cuida dele em sua loucura e velhice? E porque suas duas outras irmãs, consumidas pelo ódio e pela fúria narcísica, enredadas pelas seduções e pelas ilusões da bajulação e da cobiça, não respeitam a sagrada velhice do pai (que representa, em última instância, a sabedoria humana atingida na aurora da vida) e, ao final, se matam envenenadas pelo próprio ódio?
São questões para as quais, conforme aprendemos com Shakespeare, não há respostas lógicas. Trata-se de algo misterioso, vindo das estrelas. Penso que é disso que deriva nossa condição humana: deste quantum de mistério e de enigmático que cada ser humano carrega dentro de si.
A bondade é mais poderosa, mais potente que a maldade humana?
Quem pode nos dar uma resposta melhor do que as próprias pessoas que as praticam, são nos resultados de cada uma que podemos observar o quanto elas podem ser poderosas, o quanto elas podem modificar uma pessoa, seja para melhor ou pior, e assim foi de geração em geração assim foi desde o início dos tempos da humanidade a milhões de anos quando o homem descobriu que o fogo além de aquecer e iluminar poderia também matar, acredito que as primeiras e mais cruéis maldades surgiram através desta descoberta, certa vez em uma aula de cidadania eu fazia o argumento do arrependimento de Deus sobre o homo sapiens, alguns não acreditam, mas uma das formas mais interessantes de acreditar em um poder divino é saber que de um ser sem inteligência pode ser milagrosamente agraciado com uma inteligência, e ai vem o dito arrependimento de Deus, por tanta maldade Deus deveria ter criado o homem primeiro e ter visto que valeria mais a pena ele ser macaco mesmo, pois a única maldade de um animal está em não ter maldade, ai vem o argumento, e o leão, o tigre, as cobras, o tubarão, a piranha, entre outros animais que matam ferozmente, acho que essa dúvida é fácil de ser respondida, se alguém tenta invadir sua “privacidade” ou o conforto de sua casa como você reage? , no mínimo vai tentar de alguma forma se defender e defender aqueles ao qual você se julga responsável, não é diferente com os animais, eu só ataco se me sentir coagido pela maldade que o outro pode cometer contra minha pessoa, a forma do ataque que diferencia para cada ser.
Outro questionamento muito interessante: Não é natural que o filho seja herdeiro do pai? Então, de onde vem tanta maldade? De onde vem essa nossa tendência para a maledicência, para rir da queda do outro, para desejar o sucesso alheio e não hesitar em diminuir aquele que se destaca da mediocridade geral? Um filósofo disse que o ser humano é um anjo montado num porco. O filósofo tinha uma certa razão. O problema é que o porco de cada um de nós ainda prevalece sobre o nosso anjo interior. Mas o objetivo da nossa existência é que o anjo se sobreponha ao porco. Ou seja, que o nosso lado bom prevaleça sobre a nossa ainda incomensurável perversidade.
Que lado nosso é esse, que fica feliz com a desgraça alheia? Quem é esse em nós, que ri quando o outro cai na calçada? Quem é esse que aguarda a gafe alheia para se divertir? O que é essa coisa em nós, que dá mais ouvidos à maledicência do que ao elogio? Quem é essa criatura em nós que desconhece a lealdade, que ri dos honrados e debocha dos fiéis? E que ainda é capaz de mentir e inventar para manchar a honra de alguém que está trabalhando pelo bem?