Autoajuda contra si mesmo

Um dia qualquer, em um lugar e momento onde ainda não estivemos e nunca conseguiremos estar, pois vivemos na época da ilusão, do ter e do poder, do ser mais ao invés do ser melhor, um lugar onde só podemos estar com nossos pensamentos e imaginação, alguém escreve a beira da praia, na areia, não sei o quê, mas também não importa, pois carrego uma vontade imensa de ser juiz do que não me convém julgar, vejo aquele alguém não se importar com o mundo, nem se irritar pelas palavras que o vento e a praia apagam, um alguém que aos olhos insanos e pervertidos a simplicidade e a humildade são afronta, onde o desumano coabita ao juiz imoral que carregam em seus peitos, bajuladores dos poderosos, pessoas incoerentes, incapazes de amar as diferenças e as necessidades, chegar alguns com uma mulher de choro fácil, de face abatida e aceita apenas como meretriz de um bando de lobos covardes, ou será sua raça rejeitada por um acaso do passado?, não consigo imaginar o porquê, só sei que disseram aquele homem, naquele dia qualquer, em um lugar onde ainda não estivemos e nunca conseguiremos a não ser pela imaginação, disseram a ele que aquela pessoa havia sido pega em flagrante de seu crimes, que crimes? Crimes contra honra de alguns que cometem o mesmo crime com outros, que homem era aquele que escrevia na areia coisas que nunca saberemos, pois, o vento e a água do mar apagaram suas letras, pois nem ele era capaz de julgar, irritados os juízes perguntam:

----Podemos Apedrejar por seus crimes?

E naquele dia qualquer, em um lugar e momento onde ainda não estivemos, ouvi dizer que aquele homem que escrevia coisas incompreensíveis para o tempo registrar, ouvi dizer que seu rosto resplandecia ao questionar tal poder de juízo:

---Quem aqui não tem nenhum crime? Quem nunca imaginou fazer algo de errado? Quem nunca fugiu das próprias regras da honra ao qual condenam com tanta facilidade? Quem nunca pensou em levar vantagem?

Sem mais perguntas, o homem voltava a escrever na areia, naquele dia qualquer, em um momento e local que nunca conseguiremos estar, seu rosto voltava-se para a areia, preocupado apenas em registrar o que nunca se descobriu, pois o vento, a água e o tempo apagaram, o silêncio aprofundou do lugar, mas a paz estava clara, naquele dia qualquer, de um momento que nunca conseguiremos estar, o homem olhou para aquela pessoa condenada pela hostil corte de juízes famintos que agora dispersam pela praia onde não ficaram suas pegadas, e sozinho com a ré de uma multidão, pergunta sem precisar saber da resposta:

---Onde estão os juízes que te condenaram pessoa?

Em um dia qualquer de um lugar e momento onde nunca conseguiremos estar, a pessoa condenada da o veredito ao homem que sequer fazia parte daquele tribunal de insanos:

---Foram todos embora senhor.

E naquele dia qualquer de um momento e lugar fascinante, onde aquele homem escrevia coisas que não ficaram gravadas para os séculos saberem e discutirem suas vãs ideias de julgamento, a voz do homem ecoou a beira da praia com um olhar estrelado:

---Se ninguém a condenou, porque eu iria condená-la? Vai, mais não tornes a fazer errado.

Naquela hora de um dia qualquer, num momento e lugar onde jamais conseguiremos chegar a não ser na imaginação dos séculos e milênios que se passaram, não ficaram registros do que era escrito, mas o que importa o que estava sendo escrito, se tudo pode mudar a partir de agora, depois de algum tempo, depois de muito imaginar, cheguei a uma conclusão só minha, aquelas palavras que o vento, a água e o tempo apagaram, era minha vida sendo escrita por suas mãos, que o julgado e os juízes são apenas sombra de mim mesmo, uma hora réu outra hora juiz de meus atos, mas o tempo, o vento e a água apagaram aquelas palavras quando descobri que não posso me entregar a maldade, nem as opressões as quais essa sociedade nos impõe, jogo minhas pedras ao chão, e ouço novamente a frase daquele dia qualquer em um momento e local que nunca conseguiremos estar, mas sempre estivemos:

---Vai, e não tornes a fazer errado novamente.

2.000 anos se passaram, e todos os dias ainda preciso jogar minhas próprias pedras ao chão, e ouvir a mesma frase todas as noites antes de deitar e adormecer, juiz e réu de si próprio, e assim a história se repete, e sempre se repetirá todos os dias, até que todos possam jogar suas pedras ao chão, nunca saberemos que dia foi aquele, nunca poderemos estar naquele momento e local, nunca saberemos o foi escrito, mas sei de uma coisa, ele ainda continua escrevendo.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 22/10/2015
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