Por que é tão difícil para um carioca viver em Sampa

Este é um texto sincero. Tenho 27 anos, sou carioca da gema, mas moro em São Paulo a quase 5 anos. Comecei minha jornada aqui por puro acaso. Trabalhava em uma companhia de navios, me apaixonei e escolhi Sampa entre o Rio, por ser, exatamente, o que eu odeio hoje. Escolhi Sampa por não ser minha cidade, por não estar perto da minha mãe e por estar longe de tudo que conhecia. Pra mim, não é um desafio mudar, eu estou em constante evolução e tenho plena consciência disso. O difícil pra mim é não mudar. Nada muda nessa cidade. As pessoas, as oportunidades, os preconceitos e as diversidades.

Aqui em Sampa tudo é cinza. Pode parecer mentira, mas é verdade. O mais verde que tem aqui é o Ibirapuera, mas ele é igual a praia do Rio, a maioria do povo mora longe, não da pra ir todo dia, e quando você decide ir no final de semana, ta sempre lotado. Ao invés de procurar lugar pro guarda sol, você procura lugar pra colocar sua cesta de pequenique, ou, se você for hipster enough, andar com o seu patins, mas o que mais me cansa mesmo é o paulistano, ô povinho sem graça.

Aqui fiz alguns amigos, dos bons mesmo, só dois, mas não coloco peso nisso, bons amigos são difíceis em qualquer lugar. O problema do povo aqui de Sampa, é que ele não é povo. Aqui todo mundo ta sempre de nariz em pé, ocupado demais postando fotos em seus smartphones para olhar à frente.

Até a gentileza deles aqui me incomoda. Pra que você exige um espaço à esquerda da escada rolante? Sempre tem uma escada normal do lado que você pode usar. Aqui é sempre e tudo assim, todo mundo sempre com pressa, mas o pior mesmo, o pior de tudo, é a glorificação do ocupado que o Paulistano faz questão de gritar e deixar claro para todos que queiram ouvir. Eles sempre tem alguma coisa pra fazer. Lá no Rio, a gente se encontra na rua, e se estiver sem nada pra fazer, voltando do trabalho por exemplo, encontra e senta ali mesmo pra bater um papo. Aqui não, aqui, se você encontrar alguém na rua e quiser bater um papo, vai ter que acompanhar até em casa, por que só o “ir para casa” já é uma “coisa a se fazer” e eles classificam isso como ocupado. Fala sério.

Pra mim, carioca folgada, nascida e crescida na zona Norte do Rio de Janeiro, essa adaptação aconteceu um pouco orgânica á cinco anos atrás. Entrei na faculdade, encontrei umas pessoas legais, e iludida, achei que fosse como o Rio, que viveríamos felizes para sempre no nosso mundinho particular. Você precisa entender o tipo de pessoa que eu sou. Meus amigos, um grupo seleto de 5 ou 6 pessoas que conheço a mais de 10 anos, estiveram comigo em praticamente todas as partes importantes, dormimos juntos muitas vezes, algumas semanas dormia mais com eles que em casa, vivemos muitas histórias e muitos prazeres juntos. A gente tem mania mesmo de ficar junto, de se trancar em casa e conviver na maior tranquilidade possível, carioca, no geral, é assim. A gente gosta de conviver e não apenas conhecer.

Em São Paulo já é outra história, aqui o povo convive no trabalho, na faculdade, mas mal sabem seus sobrenomes e muito menos o que eles costumam pedir de sobremesa. Aqui ninguém é muito amigo de ninguém, e eu queria dar a velha desculpa deles sobre trabalho. Me desculpem Paulistanos, mas eu conheci poucas pessoas tão aficionadas em trabalho assim como vocês se descrevem. Lá no Rio a galera trabalha também e não vai à praia todo dia, mas eles param entre a ida do trabalho pra casa ou pra faculdade, eles tomam uma cerveja em um dia frio e um caldo em um dia quente, no Rio a gente segue o flow. A diferença que eu consigo visualizar, é que em São Paulo todo mundo é alguma coisa. Pudera, é uma cidade grande que aglomera uma também grande, quantidade de pessoas espertas querendo ser alguém na vida (lê-se ganhar dinheiro). A grande revelação é que essa gente esperta sabe muito bem incrementar sua listas de facetas e sua gama de vitórias com mentirinhas. Mentirinhas essas que fazem de São Paulo a grande cidade do mimimi. Aqui é um monte de gente esperta contratando mais gente esperta, e no final não sai nada direito, mas alavanca a economia então todo mundo fica caladinho.

Eu estou muito triste em Sampa. Odeio trabalhar aqui, não admiro ninguém aqui, e as oportunidades de emprego que passei, não foram de longe, algum desafio. E morro de medo de voltar pro Rio, por que a gente sabe que lá é muito difícil arrumar um emprego com salário bom, então eu fico presa aqui, ganhando bem, mas gastando bem também, por que não é uma cidade barata, sem ter dinheiro pra visitar o Rio. Me sinto tão confusa, em sinto sem saída. Lembro que faço parte da geração Y e falo muitos “mas” em minhas frases, mas nada me motiva. Vivo tão cansada de acordar 5 chegar 23 que quando penso em mudar minha vida penso primeiro em mudar meu sono. É tão difícil para uma carioca viver em Sampa.