(DES)CONSIDERAÇÕES
Todos os dias, ao ligar o rádio, a TV ou o computador, eu fico sabendo de alguma coisa que me choca ou me desgosta, deixando um sabor amargo na minha boca. Atos de desprezo e desconsideração pelo outro, humilhações, casos de bullying e de falta de respeito, preconceito, mentiras, ódio.
As pessoas parecem ter perdido o bom senso completamente. O velho ódio entre classes renasce, e dois times de pessoas são estabelecidos: ricos X pobres. Quem se considera do time dos pobres, enxerga aqueles que ele acha serem ‘ricos’ como sendo seus opressores, dando-lhes adjetivos que variam entre ‘burgueses nojentos’ e ‘coxinhas.’ Enquanto isso, o que se coloca do lado dos ‘ricos’, vê os pobres como malandros, vagabundos e aculturados.
Ao mesmo tempo, vejo que o ódio racial – que muitos acreditavam estar praticamente abolido neste país – ressurge de repente das formas mais vis. A mais recente vítima foi a apresentadora do Jornal Nacional, Maju Guerra. Lamento profundamente que este texto e todos os que foram ou serão escritos sobre este assunto, nada poderão fazer para mudar a cabeça dos preconceituosos. Nada do que se diga é capaz de sensibilizar ou educar pessoas assim, que parecem ter nascido com o ódio e o preconceito nas veias. Elas estão perdidas. Não creio que um dia poderão pensar diferente, e para elas, desejo apenas a punição da lei.
Só há uma maneira de melhorar esta situação, e ela começa dentro de cada lar: educar e aconselhar as crianças, dando a elas valores e bons exemplos. Acho que o que antes era apenas uma necessidade, hoje torna-se urgente. Quando penso que estas pessoas que espalham o ódio, o preconceito e a violência tem ou terão filhos que crescem ou crescerão sob seus tetos e aprenderão a pensar como elas e a fazer as mesmas coisas, eu me pergunto o que será de nós.
O ser humano é a criatura mais ambígua do planeta, pois ao mesmo tempo que cria coisas maravilhosas, como a internet e os computadores, acaba dando a elas os piores usos. Chamam de liberdade de expressão o direito de difamar, caluniar, ofender, e diminuir os outros. Usam esta mesma liberdade de expressão que tanto pregam a fim de tentar, veladamente, constranger e calar aqueles que pensam diferentemente deles – os “ignorantes.”
Acredito que só há uma única coisa que gera toda a violência, ódio, preconceito, disputas, pretensão e abuso: ela é um das coisas mais arraigadas na alma humana, que deveria ser trazida à tona, examinada, compreendida e trabalhada, a fim de ser diminuída à níveis toleráveis que tornem seus possuidores pelo menos passíveis de conviver de forma saudável com os outros; este sentimento, esta coisa pegajosa, é a burrice.
Não a burrice de quem tem pouco estudo, pois a intelectualidade pouco significa quando se fala em inteligência, mas o pior tipo de burrice, a que é a filha do orgulho exacerbado e da autoestima exagerada, e que leva seu possuidor a achar-se sempre mais que todos, melhor que todos, acima de todos. O preconceito de classe, racial, sexual ou religioso só pode ser explicado quando olhamos para estas pessoas mais de perto e percebemos o quanto elas são burras.