Desequilibrado doce amor
Eu amei, pois, o melhor que pude fazer foi amar. Não amei da melhor forma que pude, porque amei errado. Isto é, se realmente haja alguma forma adequada de se amar. Os meus erros, penso eu, estavam relacionados ao permanente temor de perder a quem amei, um medo tão presente que me pareceu que já havia perdido os que amava, e, aos poucos, realmente eu os fui perdendo. Declinei em rumo a uma estranha e única forma de perder lentamente. Como se, progressivamente, fosse melhor desacostumar-me ao ter a presença de quem amo ao meu lado, desligando-me do apego, do carinho, do amor, dos medos e, finalmente, da saudade. Até que, de repente, não restasse nada, exceto uma lembrança dolorida que me incomodasse antes de pegar no sono. E quantas vezes desejei não acordar no dia seguinte e, assim, não sentir no decorrer dos dias que se passavam o aflitivo sentimento de perda, e a culpa de saber que perdi propositalmente (ou quase consciente). Li ou ouvi, não lembro, alguém dizer que amar é perder. O que, instantaneamente, considerei trata-se de uma verdade. Amar deveras, possivelmente, deve ser perder a razão em nome de um sentimento, de entregar-se a que amamos, sem medo que a intensidade descomedida seja nociva para nós (ou para eles). Pode ser que o maior amor seja amar ao próximo mais do que a si mesmo, de querê-lo feliz ainda que isso signifique a nossa própria infelicidade, e também o maior dos equívocos. Não sei se estou certo quanto a isso. Talvez seja apenas mais um de meus muitos enganos sobre o amor e sobre as questões que cercam os nobres sentimentos. Não sou confiável para fazer verificações sobre os sentimentos e como devemos nós administrá-los. Sofro de inconstâncias: doença rara. Sou instável para palpitar sobre estes assuntos. Então, desconsidere que estes sejam argumentos valiosos para qualquer que seja a pessoas que, porventura ou infortúnio, venha os ler. Tome-me como um desesperado que acrescenta detalhes desnecessários sobre o que sente e sobre o que pensa dos sentimentos. Deduzo que nada de proveitoso possa ser extraído das minhas próprias indagações, pois, como Camões, “eu errei todo o discurso de meus (curtos) anos; dei causa a que fortuna (que não tenho) castigasse as minhas mal fundadas esperanças (que me sobram). De amor não vi senão breves enganos.”