SOU FRUTO DA SUA CORRUPÇÃO
Às vezes saio por aí a vagar sem rumo, sem ponto de partida ou parada até mesmo sem um lar. Não sei onde estou nem como estou, nem para onde vou. Paro em alguma calçada de uma rua qualquer e fico a observar tantos seres bem vestidos, comendo, usando celulares bonitos, calçados confortáveis, belos carros, motos ou outros transportes que os leva de um lado pro outro da cidade.
Caminho mais um pouco sem força, com as pernas meio tropas, a barriga a roncar, os ouvidos zumbindo e aí lembro que estou sem comer a dias, o cérebro já não comanda o pensamento, por acaso chega alguém e me oferece cola, eu não conheço esta comida respondo meio zonzo.
Não é comida não macho! É uma substância que vai te deixar zem, sem fome, no mundo da lua e cheio de felicidade. Felicidade? Pergunto. Eu não sei o que é isto, você pode me explicar? O silêncio impera e fico sem resposta, ando mais um pouco e já anoitece, preciso dormir, onde? Numa calçada qualquer, coberto por um pedaço de papelão e lá vou eu pro meu canto esperar que a noite passe sem trazer chuva ou muito frio.
O dia amanhece e lá estou novamente a vagar sem ter o que comer, vestir ou calçar e sigo andando olhando as mesmas senas. Pedir já não resolve o meu problema, as pessoas fogem de mim, me esquecem, passam ao longe, nem olham, mas eu continuo ali sem lar, sem escola, sem família, sem saúde, sem ninguém, sem esmola.
Um dia tudo muda de figura, chega um cidadão e põe na minha mão uma arma e me leva para um lugar qualquer escondido da sociedade e me ensina a atirar dizendo que este é meu destino e eu por não ter mais esperança me agarro a esse tal de destino e vou em frente. Um mês, dois e já estou na rua novamente só que desta vez para roubar, matar, estuprar, extorquir, tudo aquilo que os homens me negaram.
Sei que não está certo, mas olho disfarçado nos jornais histórias de milhões roubados do povo, de gente que trabalha e vive honestamente e continuam como eu sem saída, sem roupa, sem comida, sem lar desiludido da vida.
Sei que nada justifica ser ruim ou fazer errado mas esta foi a única opção que a sociedade política me deixou, me ensinou e assim vou levando a vida até o dia em que eu, pobre destino, esbarrar numa polícia ou num muro de concreto sem saída com alguém apontando pra mim uma arma igualzinha aquela que tantas vezes apontei pros outros também.
E assim vai se formando mais um destino, buscando uma razão que explique a desigualdade que forma esta nação cheia de corrupção.