DISCURSO DO LANÇAMENTO DO LIVRO PARADOXOS NO CÁRCERE.
Senhoras e Senhores, Autoridades presentes, meus amigos e familiares. É com muita felicidade e apreço que divido esse momento com vocês. Quando imaginei a realização desta obra apartir da conclusão do curso de bacharelado em Teologia, pensei em um trabalho que pudesse agregar valores ás pessoas, de forma que possamos repensar a perspectiva da ressocialização dos apenados á luz da Teologia. Muito havia se falado acerca da ressocialização no sentido sociológico, porém, hoje, há uma necessidade de se dar oportunidade e voz a Teologia para dizer alguma coisa. O cárcere tornou-se um lócus theologicus, o lugar outrora concebido como tétrico, sem possibilidades práticas de ressocialização transforma-se num centro de reabilitação, com apoio da Teologia e isso é um paradoxo!
Através da Teologia da ressocialização, cintilou uma luz na escuridão do presídio cearense, é o primeiro curso superior dentro da prisão. Paradoxos no cárcere narra essa história e porque o título? De acordo com Wikipédia Um paradoxo é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum. Qual é a intenção aqui? Por exemplo,uma dela é reconhecer que presos são “gente”,possuidores de direitos,independentemente dos crimes cometidos.Ou seja, em termos simples, um paradoxo é "o oposto do que alguém pensa ser a verdade.
Um conceito que é ou parece contrário ao comum, um contra senso, um absurdo, um disparate! É opinião contrária á comum, incompatibilidade de ideias ou termos afirmados. É um total paradoxo pessoas encarceradas serem recuperadas com tanta reincidência penal. Paradoxo no cárcere é presos terem oportunidade de cursar faculdade dentro da prisão. Paradoxo no cárcere é quando uma verdade aparentemente absoluta é confrontada por uma outra verdade,de que todos possuem os mesmos direitos.Esse pensamento é um paradoxo num sistema que não consegue recuperar ninguém,que se alimenta da própria violência.Paradoxo é um conceito que apresenta duas opiniões diferentes,aplicadas ao mesmo pensamento,causando indecisão,na procura da autonomia e liberdade numa sociedade que suga tudo isso de seus cidadãos à margem.
Paradoxo no cárcere é reconhecer duas definições para um só fato: Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? Perguntamos então:
Quem é o marginal?
- O marginalizado ou a sociedade marginalizante?
Isso é um paradoxo! É o que parece e é contrário ao senso comum, implicando reciprocamente entre uma proposição e sua própria negativa, ou seja, lembrar-se do futuro de um presidiário é um paradoxo, pois dificilmente será diferente de um ex-presidiario-reincidente. Em retórica, antítese extrema que dependendo do caso, da situação, e de outras coisas, é viciosa ou enfática. Os paradoxos viciosos contidos no livro podem ser explicados da seguinte maneira:
1-MONOPÓLIO INCLUSIVO- Onde o poder público detém o direito de violentar a população quando não disponibiliza oportunidade de emprego, saúde, educação e inclusão social para egressos;
II- GRITAR BAIXO- Exemplifica o clamor surdo dos presidiários para serem ressocializados e reinseridos socialmente;
III- VERDADE FALSA-É quando se diz que presos estão tendo todas as chances do mundo e que o simples fato de estar em liberdade ou com alvará da soltura seja uma oportunidade em si, sem mecanismo para lograrem sua reinserção social;
IV- CONVIVER SEPARADAMENTE-Atitude da sociedade em relação ao preso e ex-presidiário. A sociedade não reconhece que toda convivência deve implicar conviver (juntos e não separados).
V- EXULTAR DE TRISTEZA-Acontece quando a imprensa e a sociedade de modo geral espera que o bandido seja morto pela polícia e a partir disso, acredita-se que a justiça foi feita. No entanto, para nós, isso é uma vingança na roupagem de justiça. Os paradoxos produzem resultados que parecem absurdos mesmo sendo verdadeiros.Não é com a morte do presidiário que se consegue a justiça social.
A partir desse momento, devo reconhecer que nenhum ex-presidiário consegue vencer sozinho, sem apoio, sem incentivo. Tive e tenho a felicidade de ter várias pessoas que me apoiaram, nas pessoas de PE. Marcos Passerini, coordenador da pastoral carcerária do Estado do Ceará que articulou a implantação do primeiro curso superior dentro da prisão, juntamente com o PE. Luis Sartorel que acreditou na minha regeneração dando-me a chance de estudar enquanto era diretor do antigo instituto de ciências religiosas (ICRE ) a professora Márcia Pereira Bastos, (coordenadora do projeto uma alternativa para reintegração social) o professor Carlo Tursi, o professor Sérgio Lobo, o professor Geraldo Francken, prof.Gondim, Lucho, João Jorge e o atual diretor da faculdade católica de fortaleza PE. Almir Magalhães. Quero agradecer a minha namorada Lana Bento Campos que tem sido um anjo na minha vida. Desejo igualmente agradecer todos os professores (as) das unidades prisionais do Estado do Ceará pela presença e incentivo. Privilégio também foi contar com apoio da turma acadêmica Renascer Divino, seu coordenador Manoel Firmino Batista e companheiros França da silva, Filomeno Batista Neto, Tardeli Estácio os quais lutamos juntos para testemunharmos reconhecido o nosso direito de fazer faculdade dentro do presídio, fato inédito no sistema prisional Cearense.
Como já dizia schopenhauer, no paradoxo do silêncio que “o silêncio é o grito mais forte”. E digo junto ao Reinaldo Dias. Bastou ouvir o teu silêncio para chorar de saudades.
Por fim e não com menos intensidade, agradeço imensamente a todos pelo apoio e atenção com a realização e sucesso deste lançamento.
Muito obrigado a todos !