Renovar

Renovar

Antes de começar a proferir o meu discurso e buscar produzir sentidos, deveria confirmar as minhas palavras referenciando: como afirma fulano, corrobora ciclano e segundo beltrano, mas, sabe-se que a minha voz, aqui, vem com ecos – eco de Umberto Eco? Foi apenas um exemplo - e, mesmo sem as aspas das citações obrigatórias, ela deixa soar sentidos que foram sentidos outrora e se apagam para quem ganhem novo sentido – renovar.

Verifico, noto, entendo e a cientificidade seleciona o verbo, a ação. É preciso organizar as ideias e, mesmo sabendo que todo texto é polissêmico, a função é referencial e, dessa maneira, o objeto a ser estudado é cercado e cerceado por vozes que confirmam e consubstanciam a propagação dos argumentos.

...e começa a minha pesquisa!

Pulula Rolant Barthes e o seu Prazer do texto; muito prazer! De longe vocifera Foucault e legitima o meu discurso. A ciência também vigia e pune aquele que não sabe dialogar com a cientificidade; eis o grande panóptico científico . Derridá desconstrói e Descartes vem reafirmar e reduzir o pensamento. Fragmentou-se o mundo em tantas partes que o todo já não consegue se encaixar.

Somos cartesianos!

Mas ouço Morin e repenso o pensamento; busco, feito Kapra, o holístico e fico no tao, simplesmente no percurso, pois, já não me interessa as polaridades.

Só o pensamento complexo é capaz de suprir as lacunas que o Método científico Cartesiano positivista cristalizou. E esse paradigma busca somente a verdade. E o que é a verdade? Nietzsche, socorra-me! E ouço a voz do anticristo bradar:

- É apenas um comboio de metáforas e metonímias.

E o melhor, Derridá aparece e confirma.

- Não há verdade, verdades! Uso o cientificismo contra o próprio fazer científico. Cito e trago vozes que alimentam e nutrem a minha defesa. Defendo-me! O trabalho precisa de defesa, por quê?

Mas, a pesquisa deve ser maculada com os gritos de quem repensa o que já foi pensado.

Mas, agora.

Ensinam resumos e querem que o mundo seja construído de compêndios e sínteses. Ficha-se e recopila! As estruturas amarram a palavra e o discurso.

Há relações de poder entre o senso comum e científico. Positivo? Negativo!

Conte, Comte, quanto tempo o mundo perdeu!

Citarei para me respaldar. Mas o autor já não sou eu, se não sou eu e são tantos, como posso assinar? Quem levará a nota? E quem receberá o certificado?

Renovar é preciso; pensar não é preciso!

Como assim?

Pensar já foi pensado; já foi determinado e apenas penso que se pensa.

Deve-se repassar! Repensar é reconstruir. É derrubar a estrutura que foi erguida no centro e construiu o seu caminho para o lugar fixo. Vivemos no entre-lugar! A pesquisa é desenvolvimento e desenvolvida a partir de vários lócus – o não-lugar. Ela fala a língua franca dos teóricos. Como registrá-la se ela é a própria diáspora?

Cito em caixa alta e rompo com a metodologia. O orientador, que foi cerceado, vem me cercear. A banca parece mais um banco, onde notas compram e vendem o meu objeto estudado. Tirei dez e broquei! Coloquial não cabe na voz da cientificidade.

Mas passo a maior parte do tempo informal. Lendo a torto e a direito e por que não esquerdo? Centro!. Encontro-me no ponto de mutação, onde o local da cultura é a poética da pós-modernidade e o hibridismo cultural é resultado da diáspora. Ufa! Interjeição!

Minhas considerações finais não querem retomar o que eu já disse. O que escrevi já não interessa hoje e imaginem amanhã. Devo ser aplaudido hoje; amanhã, devo ser rechaçado, caso contrário, se isso não acontecer, o mundo parou onde eu fiquei.

Renovar deve ser um axioma!

A minha pesquisa está aberta e é preciso desincrustá-la do autor, sempre, para que ela não se vicie de argumentos e ideologias.

A conclusão em minha cientificidade não existe e a Poesia me ajuda:

- “A única conclusão é morrer!”

Referencio sem dar nomes, sou de antigamente, por isso, não preciso chatear aqueles que sempre estiveram.

Quando a pesquisa me provoca eu, simplesmente, vou ao meu inconsciente e guardo; eu existo por lá.

Quem quiser que me cite, mas saiba de uma coisa:

- Eu sou tantos que nem sei quem sou!

Mas, o ismo do cientificismo – patológico – exige nomes, assinaturas, referência e a metodologia adequada. Que bom que legitimei o meu discurso, discursos e libertei a palavra da fábrica que o método construiu para produzir seus soltados reducionistas. Até mais, daqui a pouco, certamente, mas, por enquanto e sempre, estou livre na literatura e na poesia, que rompem e são anárquicas. Na arte o método é o não método de discorrer! E tudo termina em possibilidades!

Intelecção!?

Mas voltarei para artigos, monografias, dissertações, teses, pois o mundo quer ficar por lá... lá atrás!

Mário Paternostro

Mário Paternostro
Enviado por Mário Paternostro em 29/11/2014
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