A negritude do povo brasileiro
O Brasil também é negro, sim, senhor!!
No passado, o negro foi encarado como um elemento subversivo na sociedade chamada organizada. Mesmo com uma Constituição que afirma hoje serem todos iguais perante a lei, texto perfeito, letra clara e objetiva somente no papel. Nas mentes, porém, ainda soa como algo distante da realidade cotidiana, em que ser de outra cor não significa ser igual em direitos. Ao depararmos com a grande desigualdade presente desde a abolição, num ato de “suprema bondade” da querida princesa, sob a qual foi posta a tarefa de assinar uma lei que pouco acrescentou em questão de liberdade para os negros. Liberdade? De quê? Esta foi só adquirida muitos anos depois com as leis trabalhistas de Getúlio Vargas, estabelecendo normas para o exercício da cidadania, não só para os negros, mas também para os demais cidadãos explorados naquela ocasião.
Os negros possuíam força o suficiente para conquistarem seu espaço, através de mobilizações culturais segundo as quais conseguiram inserir-se como parte da formação do povo brasileiro. As conquistas através das lutas sociais, a criação do Teatro Experimental do Negro, através da ação de nomes como o de Abdias do Nascimento, em 1944, trouxeram à tona, a discussão sobre a aparição dos negros em espetáculos, quando antes eram impedidos, sendo substituídos por atores brancos caracterizados.
O estigma da cor nos dias atuais, permeia a realidade nacional. Contudo, há de se ressaltar o esforço conjunto de historiadores dispostos a trazer discussões sobre o tema racismo. Mas que isso, apontar diretrizes firmes no combate aos falsos estudos acerca da inferioridade negra. A mudança deve ocorrer desde a infância, com o esclarecimento sobre a valiosa contribuição do africano para a formação do Brasil.
Dentre as várias influências já conhecidas, estão: a culinária, o vocabulário, o vestuário, o comportamento em geral. Negar essa realidade é rejeitar valores, a essência de ser brasileiro. Quem renega suas origens, tende a parecer caricato, sem identidade. Está além da cor, é formação; afinal, não há um brasileiro sem uma gota de sangue negro nas suas veias.
Ainda se percebe o medo de alguns quanto ao contato com os negros. O fantasma do “sangue ruim”, dele não ser confiável, daí justificando uma segregação camuflada. Mudar mentalidades de uma hora para outra é difícil, porém cabe aos estudiosos conduzirem de forma honesta, os fatos relevantes e pertinentes de nossa formação. A espontaneidade africana como marca da alegria brasileira, precisa ser valorizada pelos afrodescendentes. A inteligência ao negociar no período da escravidão aqui no país, quando trazidos da sua terra, possuíam habilidades manuais e intelectuais nas mais diversas funções.
Aprenderam a sobreviver diante da hostilidade dos brancos num país estranho, aprenderam a falar a língua portuguesa, enfim, é notório o valor hoje por nós absorvido.
Ser negro é ter coragem de avançar mesmo em meio às dificuldades, é ter a convicção do quanto representa sua luta e a de seus ancestrais pela liberdade de praticar seus ritos, perpetuando o valor de sua origem.
Vergonha, nunca!
Ser negro é ter orgulho! Sim, senhor!
Referência Bibliográfica:
Afrodiáspora, revista trimestral do mundo negro, ano 3 n°5 janeiro/março de 1985
NASCIMENTO, ABDIAS DO. Teatro Experimental do Negro: Trajetória e Reflexões, disponível em: www.scielo.br/pdf/ea/v18n50/a19v1850.pdf