Opinião pessoal sobre o projeto do Senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) em relação ao uso da Lei Rouanet para o redirecionamento de verbas a manutenção de templos religiosos com fins culturais
Como observação, este meu texto é resultado da minha opinião frente a uma pregação bem elaborada pelo líder eclesiástico da Igreja Batista de Barão da Taquara, Pr. Carlos Novaes, em sua pregação matutina no 68º aniversário da igreja. Ao mencionar sobre as três mazelas presentes no meio evangélico, baseadas a partir de uma perfeita análise exegética em torno de Mateus 04:01-10 (as tentações do sensacionalismo, do exibicionismo e do secularismo), Carlos Novaes, em uma parte bastante lúcida, exerce seu posicionamento pessoal e político, rechaçando a iniciativa do Senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), membro da IURD, ao atrelar a Lei Rouanet à obtenção de verbas para as igrejas. Para Novaes, a própria iniciativa de Crivella, corroborada por determinadas lideranças eclesiásticas evangélicas de preparo intelectual teológico duvidoso, traria a ameaça da volta à antiga visão do atrelamento político entre a Igreja e o Estado que tanto o liberalismo, ao longo de sua história, sempre condenou.
A partir da sua pregação, ao refletir e ponderar os pontos prós e contras da análise do Pr. Carlos Novaes, enviei ao seu blog na internet um texto-resposta, vislumbrando as demais questões presentes em sua pregação, estendidas em seu blog, ao utilizar-se da visão de artistas e políticos de diversas matizes políticas, de conservadores a progressistas - do PP ao PSOL.
Creio, para mim, foi um dos textos de fundo ideológico que pude colocar com utilidade e com convicção plena dos pontos defendidos, em meio a um tema cercado por discussões proferidas por amplos setores da sociedade civil.
Tenham uma boa leitura!
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RESPOSTA DE WENDEL PINHEIRO, em 26 de abril de 2007
Grande Pr Novaes...
Como não pude colocar a minha mensagem no tópico anterior sobre as razões pelas quais o senhor é contra a proposta do Crivella, em um debate com amplos setores da sociedade civil (entre políticos e artistas), queria colocar aqui a mensagem que eu pus por e-mail, com algumas correções gramaticais, alterações e acréscimos, sem perder a essência do texto.
Quero inicialmente parabenizar o senhor sobre a citação das três maiores mazelas que corróem o meio evangélico: a do sensacionalismo, a do exibicionismo e a do secularismo. Seja como for, o meio evangélico tem sido continuamente bombardeado pelos valores individualistas, fragmentadores, não-solidaristas e nas relações interpessoais frias (com o avanço da "era da informação" e da facilidade no acesso da comunicação promovido pela Internet) da pós-modernidade. Aliado a estas questões, a não valorização do estudo da Bíblia por muitos evangélicos e por certas lideranças eclesiásticas e a proliferação de valores amorais - confrontando os valores bíblicos -, têm sido à tônica de um evangelicalismo confuso, inerte e sem qualquer posicionamento, frente à sociedade civil e às instituições democráticas.
A necessidade mercadológica, na produção fonográfica e literária (especialmente, a proliferação de textos com viés apenas devocional, produzidas por "líderes" de denominação neopentecostais, em grande parte), tem corroborado, por vezes, a ser um evangelho subserviente, com campo moral, ético e na prática dos seus valores e conceitos de sociedade. Tudo isso, por conta de um evangelho tão guiado pelas normas do grande capital,
Creio eu que o papel da igreja, além de salvar vidas e de trazer o Evangelho aos perdidos, é, sobretudo, se inserir nos grandes temas que permeiam a nossa sociedade. Talvez, por medo da enorme dimensão em torno das funções da Igreja frente ao mundo, os setores mais conservadores do meio evangélico, ao se eximirem do debate em torno de temas que nos interessam diretamente (ou ao menos, deveriam interessar ao grosso do meio cristão), ficaram atrás dos segmentos pentecostais e neopentecostais, inclusive em torno de proposições políticas que possam, com coerência ou com equívoco, trazer ainda em tona o papel da Igreja referente ao Estado e à sociedade civil.
Quando menciono sobre os setores conservadores, não falo no aspecto ético-moral, em torno de temas como a família, o casamento e a atenção aos valores primados na Palavra. Menciono o conservadorismo no comportamento político-ideológico de muitos setores evangélicos, na manutenção do "status qüo" promovido pelo sistema capitalista, escondendo se por trás das formalidades e tradições religiosas, para evitar certas discussões políticas, em torno do grau profundo de desigualdade sócio-econômica entre os segmentos sociais extremos. São os mesmos setores conservadores que despolitizam as discussões em torno de temas que interessam à igreja e ao mundo, no que tange ao social-cristianismo ou ao socialismo-cristão, baseado na premissa do "amor ao próximo", no solidarismo entre os homens e a busca dos valores cristãos, na superação do capitalismo de fundo nitidamente opressor e anti-cristão.
Talvez, embora concorde em linhas gerais com as suas críticas em torno da postura do Senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) na aplicação da Lei Rouanet nas verbas para os templos (acrescendo na proposta os Arts. 1º, IV e 3°, IV, "d" da Lei 8313/91), acho que se isso aconteceu, foi por culpa nossa! Reitero: culpa exclusivamente nossa! Repito mais uma vez: culpa dos demais setores evangélicos, muito mal representados na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, sem qualquer atuação político-ideológica, inclusive na diferenciação entre o que a Igreja pode fazer e o Estado pode também, além dos graus de colaboração da Igreja com o Estado e vice-versa expressos na Carta Magna.
Foi com a despolitização do meio evangélico, baseado "nas coisas de cima", esquecendo-se "das coisas que são da terra", que caímos na falácia de que "irmão vota em irmão", sem construirmos, suprapartidariament e, um corpo de proposições comum pela bancada evangélica, em consonância com os ensinamentos bíblicos. E se tudo isso aconteceu até hoje, Pr Novaes, a culpa é nossa... é minha, sua e dos 20% de evangélicos presentes no Brasil.
Com tristeza, talvez com a exceção do nobre parlamentar de esquerda do PT, Walter Pinheiro (PT-BA) - um evangélico batista -, os demais exemplos soam como demagogia e até como afronta ao meio evangélico, naquela falaciosidade que volta e meia somos acossados, por afirmações generalizadas como a da Fernanda Montenegro, em um discurso com claro recalque da histérica antiga UDN, que dá até pena, seu eu não conhecesse:
"Se não estou enganada, todos os cultos, por serem atividades sem fins lucrativos, já estão isentos de tributação. Além disso, a Rouanet já serve para tantas coisas: festa junina, fogos de Ano Novo... - destacou Fernanda. - Por favor, senhores pastores, tenham um pouco mais de compostura com os ganhos do dito vil metal. Cuidem mais dos ganhos espirituais. Por favor, senadores, ministra Dilma Roussef e ministro Gilberto Gil, socorro! Presidente Lula, tende piedade de nós, que recorremos a vós!" - FERNANDA MONTENEGRO
E porque a dita Fernanda Montenegro não questiona também ao Lula sobre a política superavitária do seu governo, privilegiando os grandes bancos. Os grandes bancos que, com taxas absurdas por seus serviços e por obtenção de capital especulativo (sem promover empregos e rendas ao Estado), tiram a possibilidade do governo investir em Educação, Cultura e Lazer e que, volta e meia, quando denunciados pelo trabalhismo, são ridicularizados pela grande imprensa e por setores "domesticados" da intelectualidade acadêmica, amestrados ao discurso petista-tucano-neoudenista (idem às "viúvas" do PT, como o coerente, porém equivocado Chico Alencar - PSOL-RJ).
Por que a Fernanda Montenegro não questiona na necessidade do atual governo investir 10% do PIB em torno da Educação (quando a ordem hoje é de 4%!), onde, dentro da verba destinada à Educação, o governo destinaria, dentro das rubricas destinadas às universidades públicas, uma verba específica para incentivo a novos talentos culturais, em associação com o Ministério da Cultura!?!?
Seja como for, seria muito bom se fosse realmente verdade, se eu não conhecesse a matiz ideológica neoudenista da Fernanda Montenegro, ao bater, de tabela, todo o meio evangélico, por conta da iniciativa do Marcelo Crivella, enquanto outros parlamentares da base evangélica sequer possuem uma atuação política condigna do cargo que eles exercem.
Amigos e amigas. Não vi UM deputado ou senador evangélico (tirando o Magno Malta, PR-ES, Gilmar Machado, PT-MG, Marcelo Crivella, PRB-RJ, e Walter Pinheiro, PT-BA) a propor questões que atingem diretamente ou não o meio evangélico. Não vi quase ninguém tratar sobre a questão referente à união civil gay, ou sobre a adoção de crianças por casais homossexuais, ou sobre a questão do aborto e da eutanásia, ou mesmo sobre a Reforma Política, Universitária, Previdenciária e Trabalhista, que afetam milhões e milhões de brasileiros e brasileiras.
Talvez, por conta da dita secularização da igreja e por conta dos evangélicos não saberem do seu papel transformador na sociedade, é que ficamos apáticos politicamente ou intelectualmente e, depois que alguns grupos evangélicos agem em "nosso nome", queremos nos queixar da ação deles.
Mas aonde estavam os evangélicos tradicionais (batistas, presbiterianos, metodistas, congregacionais) e os pentecostais tradicionais (como a Assembléia de Deus) no momento em que outros grupos neopentecostais ou pentecostais estavam formulando leis corporativistas para beneficiar o meio evangélico, ainda que pudesse comprometer, ideologicamente, a visão entre Igreja - Estado?????
Acho que não é hora de nós criticarmos "x", "y" ou "z", mas formularmos proposições alternativas, dentro na nossa formulação doutrinária cristã e fazermos uma auto-crítica sobre o nosso papel, frente às instituições, aos movimentos sociais, aos partidos políticos, aos órgãos que atuamos ou trabalhamos, dentre outras questões.
Pr Novaes... encare as minhas considerações como críticas construtivas, embora sempre admire o grau ideológico de suas colocações e proposições às suas pregações - coisa que como o senhor disse, tem certos "teólogos" que sequer conseguem formular intelectualmente (e para que evitemos a proliferação indiscriminada de teólogos, nada melhor que a discussão em torno de uma Reforma Universitária que regulamente os seminários que obedeçam aos parâmetros do MEC, com teólogos de qualidade pautando as linhas didático-cientí ficas dos cursos de Teologia).
Creio, Pr Novaes, que a divergência de idéias, longe de representar qualquer oposicionismo, reflete, por meio da lógica dialética (seja a hegeliana ou a marxista), a oportunidade de crescermos mais as nossas idéias e formular propostas para o nosso meio evangélico tão conturbado, tão combalido e com ausência de valores ético-morais, influindo diretamente nas concepções educacionais, culturais, políticas e sócio-econômicas.
Acho que a minha mensagem é um pequeno passo, dentre os demais, para uma reflexão que só tem a agregar valores e a reencontrar o nosso caráter identitário, tão perdido pelos valores da pós-modernidade.
Podemos até não mudar o mundo. A Igreja Batista de Barão da Taquara até não pode mudar a sociedade inicialmente, com suas próprias pernas. Mas se, ao menos, cada membro estiver engajado, em seu papel como servo de Deus e em uma atuação social e política clara (em consonância com os valores cristãos, claramente progressistas) , tenho certeza de que, ainda à médio ou longo prazo, conseguiremos trazer o norte dos primados cristãos nos diversos setores da sociedade e influindo na opinião pública, calcado nos princípios bíblicos.
Um forte abraço a todos!
Saudações cristãs e nacionalista-trabalhista!
Em Cristo,