NOSSA TERRA: ÁGUAS BELAS
(Discurso realizado no dia 21/03/2014, na Rádio Comunitária nossa Senhora da Conceição, 87,9 fm)
Hoje meus amigos e irmãos ouvintes desta emissora, venho pela segunda vez, dando continuidade a este quadro como o próprio nome já diz: ‘Um olhar sobre a nossa região’, trazer à tona alguns contornos que por muitas vezes possa nos passar despercebidos. A semana passada abordamos a questão do êxodo rural em nossa região, com enfoque em alguns fatores humanos e principalmente naturais, como foi o caso da diminuição das precipitações, ou seja, as chuvas e nossas ações. Com algumas infelizes visões que foi possível observar daqui mesmo da cidade nestes últimos meses e, principalmente, nesta última semana, quando olhávamos (pelo menos eu) transtornados para a Serra do Comunaty em chamas todos os dias.
Quando abordei a semana passada a relação de chuvas nas décadas de 80, 90 e início dos anos 2000 até a atualidade, percebíamos a grande diferença neste índice e uma queda de cerca de 70% das chuvas aqui em Águas Belas do valor inicialmente medido pelo IPA. Não necessariamente temos que ser um especialista para ‘vê com os olhos de quem sabe vê’ como diria o papa Francisco, para olhar e sentir de forma mais sensível, sentir verdadeiramente na pele os efeitos nocivos de nossas atitudes para com o meio ambiente. Gosto muito de conversar com pessoas de mais idade, principalmente os anciões, que trazem consigo normalmente uma bagagem bastante proveitosa de conhecimento, não conhecimento científico muitas vezes, mas conhecimento de vivência, o que os cientistas chamam de conhecimento empírico. Tão logo, ao travar conversas com qualquer um destes que tenham conhecido nossa região, eles logo se reportam as belezas naturais que outrora Águas Belas já teve, com enfoque e orgulho singular a bela Serra do Comunaty: “que saudades de quando essa serra tinha só mangueira meu filho.... De quando esta ribeira a água era bem limpinha...” me dizia um destes senhores outro dia.
Mas olhemos para este ditoso pedaço de chão hoje, e o que vemos se não fumaça e fogo? Até parece por muitas vezes, aqueles incêndios incontroláveis de filmes de Hollywood. É, infelizmente não estamos sabendo cuidar daquilo que Deus nos deu. O talentoso escritor e teólogo Leonardo Boff, escreveu um texto esta semana que nos traz uma luz para esta reflexão, ele dizia ao falar das relações que desenvolvemos com a natureza: “Ao invés d(o) homem) estar junto com as coisas, convivendo, colocou-se acima delas, dominando. E houve um crescente até aos dias atuais. Com isso rompeu com a solidariedade natural entre todos os seres. Contradisse o designio do Criador que quis o ser humano como con-criador e que por seu gênio completasse a criação imperfeita.”
Hora, co-criador significa ajudar a criar e não destruir. Sabem quando achamos bonito um pássaro cantar, ou sua plumagem e decidimos prendê-lo estamos nos colocando no lugar de Deus, pois é dele a vida e a Ele compete possuir, dar-lhe o fim e não a nós. Ao contrário fazemos questão de termos um belo choro em nossas casas, ao invés da harmonia da natureza com a ausência de nossa dominação. Não critico aquele tipo de criador de pássaros que assim o faz dentro dos parâmetros da lei, com reprodução em cativeiro.
Voltemos ao caso de nossa bela serra, é sabido que é de lá que advém todo o nosso manancial hídrico, nossas reservas d’água... mas olha só que contratestemunho: é lá onde primeiramente derrubamos, desmatamos e se ainda não fosse o limite, queimamos para ter certeza do fim trágico da vida natural e, consequentemente, de nosso sofrimento contínuo.
Para sermos co-criador não é preciso formas miraculosas, mas sim uma reflexão, um ato de se reeducar: se o caminhão do lixo passa duas vezes por semana em nossa rua, não é nada demais guardarmos o lixo e só coloca-lo do lado de fora de nossas residências no dia da coleta, ou fazermos a coleta seletiva que está sendo implantada em nossa cidade; ou de juntarmos pilhas, celulares e baterias que não tenham mais serventia e darmos um destino correto como o captador destes resíduos que existe no Banco Santander em Águas Belas, ou que a Secretaria de Meio ambiente do município deseja implantar; ou ainda, ao visitarmos os restantes de biomas pouco preservados da Serra do Comunaty e Serra das Antas, não jogarmos lixo que levamos conosco ou depredarmos patrimônios históricos como casarões antigos, capelas, residências que lá tenham...
Ser co-criador, também passa pelo ser cidadão ciente de seus deveres, é também ter atitude de preservar, de dar o direito da vida continuar, do patrimônio existir. Lembremos que ou respeitamos a natureza, ou ela com certeza imporá o seu respeito, e eu garanto que os maiores prejudicados seremos, se já não somos nós.