Faces do tempo
Faces do tempo
Leva-se tempo pra digerir o próprio pulsar.
Demora em nós o tempo que for pra voltarmos a ouvir a mesma música com outra sonoridade
no coração.
O tempo é algo que me desafia, me corta, me levanta, sacode, faz cócegas, me arrebata, me
mata, e volto a mim em outra cena renovada.
Leva-se algum tempo pra ver que o menino cresceu, que o vento traz um outro perfume, que as varandas ficaram vazias, e as páginas cheias, de calor, de dor, de temor, de encantamentos vastos, tardios ou não, leva-se tempo...e o tempo não adormece.
Depois de um grande passar, os anos voltam a banhar o olhar, as pastagens, miragens ao sol...
Une-se algo que fora partido, montamos e desmontamos novas emoções dentro de nós, pra assim seguir e voltar por onde se perdeu o que não se tinha.
Passa-se muito tempo pra que possa encarar teu rosto novamente, e atravessar uma melodia inteira pra ver que a canção te fez acordes e sonatas novas.
Volta-se num tempo que não durou, segue a rotina de quem canta, joga-se a pedra no lago e vemos que a ilusão não fora amiúde...
Leva-se mais tempo ainda pra descobrir segredos que já não tens.
Mônica Ribeiro
Outono de 2014