São Sebastião, um personagem brasileiro
A principio, minha intenção era escrever sobre pontos semelhantes entre a vida de São Sebastião e a vida do carioca. Mas percebi que sua vida se confunde não só com os filhos da Cidade Maravilhosa, mas com a vida de todos os brasileiros, com a vida de cada um de nós. Gostaria, então, de destacar três pontos da vida do mártir que se assemelham a vida dos brasileiros.
1° Ponto: Sebastião, o Idealista - São Sebastião, assim como todos os cristãos que perderam a vida no martírio, foi um grande idealista. A Tradição relata que ele entrara para o exercito romano para difundir o cristianismo. Sua intenção como soldado romano era a de ser um missionário. Queria, assim, visitar cristãos presos, ajudar os doentes e sofridos. Assim como Sebastião, o povo brasileiro é um povo idealizador. Estamos sempre a montar projetos, elaborar planos para o futuro, a sonhar com dias melhores. Acho que todos nós, pelo menos uma vez na vida, já ouviu falar que o Brasil é o país do futuro. Isso não é novidade. Desde quando meu avô nasceu fala-se isso. E cadê o País do Futuro? Acho que ele ainda não chegou por aqui, e acredito que não chegou para nenhum brasileiro. Contudo, continuamos a esperar esse dia, o dia em que o País do Futuro chegará. Estamos sempre em devaneios, idealizando um país sem pobreza, sem fome, com educação para todos. Vale ressaltar que muitas vezes nos prendemos nos ideais, mas muitas vezes não lutamos para que ele venha, para que ele aconteça de fato. Deveríamos nos espelharmos na figura de Sebastião. Ele não só idealizou, ele correu atrás, lutou para que seus ideais fossem concretizados.
2° Ponto: Sebastião, o Perseverante - Na vida do santo mártir é nítido o quanto ele foi perseverante. Sebastião foi martirizado duas vezes. Imagino que ser martirizado uma vez não seja tão interessante, duas vezes então, seria realmente um tortura. O primeiro martírio se deu por meio de flechadas. Por ser um soldado romano, Sebastião não poderia professar a fé cristã, visto que esta era perseguida pelo Império Romano. Por não submeter-se ao imperador e não negar sua fé, Sebastião foi condenado à morte por flechadas. Milagrosamente, Sebastião sobreviveu e foi socorrido por uma mulher muito piedosa. Após a recuperação, Sebastião continuou a evangelizar e apresentou-se diante do imperador, que ordenou que ele fosse açoitado até a morte. Dessa vez, o santo não resistiu. Olhando esse quadro, muitas pessoas podem facilmente identificar-se. O brasileiro é um povo que não desiste fácil. Lembro-me do filme "Lula o Filho do Brasil' (Não quero com isso fazer nenhuma propaganda ao ex-presidente nem ao seu partido). No filme, Dona Lindu, mãe de Lula, mostra-se uma mulher forte, que estimulava o filho a lutar. Dizia sempre a seu filho: "Teima, filho. É só teimar". Somos, de fato, um povo teimoso. Quantos martírios sociais não enfrentamos todos os dias? Somos sempre assolados por alguma dificuldade. É um martírio conseguir uma vaga para um filho nas escolas públicas, um martírio para conseguir uma consulta no hospital, um martírio para conseguir um tratamento emergencial - Quantas pessoas não morrem de câncer todos os dias nesse país devido a precariedade do sistema de saúde? E mesmo com todos essas dificuldades, não desanimamos. Daí a célebre frase: "Sou brasileiro e não desisto nunca". Não desistimos, não desanimamos na luta. Conheço uma senhora que está há cinco anos na fila do INTO (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia) e não desiste. Está sempre aligar para lá, cobrando a data de sua operação na bacia. Conheço um homem, jovem ainda, que devido a uma acidente de trabalho perdeu os movimentos do braço direito e até hoje não conseguiu nem sequer um auxílio doença. Oque fazer? Ele concerta televisões (com uma só mão) para sustentar a família. Sem contar na mãe que tem um filho desaparecido há 3 anos e ainda não desistiu de procurá-lo. De quinze em quinze dias ela revira a cidade em busca do filho. Esses e muitos outros casos que poderiam ser citados expressam o quanto somos perseverantes.
3° Ponto: Sebastião, o Forte - Esse ponto está muito ligado ao ponto anterior. Na verdade, os três pontos relacionam-se entre si. Não falo da robusteza física, mas da força psicológica, da força de resistir às dificuldades. Sebastião não temeu à morte, não temeu ao sofrimento. Nosso povo também é assim, não vacila diante dos perigos. Somos um povo resiliente. A psicologia usa o termo resiliência- emprestado da física- para expressar a capacidade humana de resistir às dificuldade e continuar forte. É como um elástico, que estica e consegue voltar ao seu estado natural. Os brasileiros são a todo tempo puxados, pisados, esticados, humilhados. Mas conseguem resistir a isso tudo. Parece que quando resistimos a uma dificuldade, ganhamos mais força para enfrentar às outras. Lembro da reportagem de uma professora que sofria de uma doença crônica e que deixava seus ossos curvados. Tinha a doença desde que nasceu e na escola todos a chamavam de corcundinha e monstrinho. Ela não se conformou com aquilo. As críticas e zombarias das pessoas fizeram com que ela se esforçasse, lutasse e vencesse. Hoje ela é formada e trabalha numa escola para crianças especias.
Vemos, então, que São Sebastião poderia facilmente ser um brasileiro. Poderia certamente ser um personagem entre nós, compartilhando das mesmas alegrias lutas. Seria um representante nosso, um ícone para os brasileiros. E de fato ele o é, é um exemplo para todos nós. Não digo apenas religiosamente, mas pela pessoa que foi, pela sua personalidade. Foi um pré-brasileiro, que experimentou antes de todos nós o fel que séculos mais tarde experimentaríamos.
São Sebastião, rogai por nós.
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