Eu, professor...
Se eu gosto de ser professor?
Sim. Eu gosto!
Na verdade, acho que eu não sei fazer outra coisa. Sinto-me alimentado quando estou entre os meus alunos. Gosto quando eles estão sentados avizinhados a mim, absorvidos pelo texto que eu preparei para a aula, ou mesmo quando rirem do filme e dançam no ritmo daquela canção. Agiganto-me quando eles me procuram para falar da vida, dos namoros, dos problemas da adolescência, dos medos de existir nesta sociedade complexa, das dúvidas cruéis ou mesmo para reclamar do peso da tristeza que, por vezes, nos visita e ali eles choraram e me fazem chorar. É tão bom receber as cartas, as mensagens, postagens, os abraços o carinho... Enfim, ser referência.
Se eu não fosse professor, o que eu seria?
Seria mesmo professor... Apesar de está triste e decepcionado. Apesar de perceber que o meu muito para alguns alunos é nada. Mesmo não encontrando o respeito, a consideração de antes. Continuarei professor, mesmo quando os antigos alunos não me cumprimentarem mais, renegando-me a uma ínfima lembrança. Serei professor ainda que os pais dos nossos alunos não nos considerem indispensáveis para a constituição de homens e mulheres capazes de escolhas justas, honestas e fraternas.
Permanecerei professor apesar do meu salário não corresponder à grandeza da minha missão e os testes vocacionais orientarem a juventude a optarem por carreiras de prestígio, status e grana muita grana, afinal isso é o que importa e por isso muitos matam, roubam e abalam a paz.
Eu sou e serei professor, mesmo depois do cansaço que sinto agora. Da vontade de esquecer os juramentos, das promessas de contribuir na formação de um mundo melhor para todos nós e para aqueles que estão por chegar.
E é exatamente por isso que escrevo essas palavras... Para recordar que eu não posso deixar de ser professor. Muito embora, eu tenha medo dessa geração cada vez mais tola, vazia, raquítica, inexpressiva e violentada pelo desejo da fama, do enriquecimento obrigatório, do sexo desprotegido, da ausência do limite e dos valores que facilmente são substituídos pela roupa da moda, da maquiagem perfeita, dos corpos sarados e suados pelos movimentos frenéticos e psicodélicos do som alto, tão alto que não deixa ouvir que o essencial é tão simples.
EU NÃO POSSO ESQUECER QUE EU AMO SER PROFESSOR, AINDA QUE NINGUÉM SE IMPORTE COM ISSO.