Do Angola ao Djumbay: imprensa negra 02

Identificaç O conjunto identificado como “Imprensa

Negra” é composto por jornais

de diferentes características. Daí a advertência

do historiador Flávio Gomes

quanto à dificuldade de enquadramento

da imprensa negra em conjuntos homogêneos.

Para Gomes,

Considerando a quantidade e diversidade

desses jornais que apareceram do Rio

Grande do Sul ao Recife desde a década

de 1880, é muito difícil analisar sua

produção como um conjunto homogêneo.

Sua riqueza reside na diversidade

de formatos, tendências e objetivos de

atuação2..

Diante de tamanha diversidade,

resta-nos ir ao ponto inicial: o que caracteriza

a imprensa negra? Bastide a considera

como “uma imprensa que só trata

de questões raciais e sociais, que só se

interessa pela divulgação dos fatos relativos

à classe da gente de cor”3. Portanto,

o que caracteriza a imprensa negra para

o citado autor é a temática. Para Moura,

apesar das diferenças, há um eixo central:

(...) o núcleo básico do pensamento é o

mesmo: a posição do negro diante do

mundo dos brancos. Algumas vezes,

eles assumem um caráter reivindicativo,

2 GOMES, Flávio. Negros e política (1888-1937). Rio

de Janeiro: J.Zahar, 2005, p.32.

3 BASTIDE, Roger. A imprensa negra do estado de São

Paulo. In: Idem. O negro na imprensa e na literatura.

São Paulo: Universidade de São Paulo/ECA, 1972, p.51.

(Série Jornalismo)

outras vezes, um conteúdo pedagógico e

moral, mas sempre procurando a integração

do negro.4

Nesse caso, são os objetivos que

definem a imprensa negra. Para Ferrara

(1986), “trata de uma imprensa de integração

do negro – como grupo minoritário

– na sociedade brasileira, expressa

através de suas reivindicações; porém,

sob a influência da ideologia dominante.”5

Aqui, o elemento definidor é o sujeito de

produção, o negro. Em sua pesquisa sobre

a imprensa negra no século XIX, Ana

Flávia M. Pinto (2006), a partir de Antonio

Cândido (2000), adotou o seguinte

procedimento: “tomo as categorias ‘autor’,

‘obra’ e ‘público’, na qualidade de

momentos da produção comunicativa,

como estratégia de explicação.”6 Nesse

ponto, comungo com a opção de Pinto,

portanto, por ser uma obra que trata de

questões da cultura negra; produzida por

agentes negros e que tem a comunidade

negra como seu público prioritário. Tais

requisitos não precisam ser atendidos na

totalidade para que um informativo seja

definido como imprensa negra, devendo

ser considerada a conjuntura de tessitura

do jornal e sua atuação.

As pesquisas de Bastide, Ferrara e

Moura, que abordam a imprensa negra

paulista, buscam respostas para as se-

4 MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São

Paulo: Ática, 1988, p.206.

5 FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista

(1915-1963). São Paulo: FFLCH/USP,1986, p.40.

6 PINTO, Ana Flávia Magalhães. De pela escura e tinta

preta - a imprensa negra do século XIX (1833-1899).

Brasília: UnB, 2006, p.24. Dissertação Mestrado (História).

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Martha Rosa Figueira Queiroz
Enviado por ZEGUGA em 28/06/2013
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