“Encontros e Despedidas”
DISCURSO PROFERIDO NA COLAÇÃO DE GRAU DA UERN-TURMAS 2012.2
ORADORA:
FRANCINEIDE BATISTA DE SOUSA PEDROSA (Fran Souza)
FORMANDA EM PEDAGOGIA
Gostaria, antes de tudo, de ressaltar a minha alegria em representar as turmas concluintes, como também dizer que a felicidade que me toma, nesse momento, não cabe em palavras, portanto, nada do que expor aqui se iguala a emoção desse momento. E de antemão, em meu nome e em nome de todos os formandos, agradeço aos familiares, amigos, professores, funcionários da UERN, e a todos os que se fazem presentes hoje aqui e torcem pelo nosso sucesso. Muito obrigada!
Como diz Milton e Brant em sua canção, há encontros e despedidas, e:
[...]
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete [nessa] estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
Esse foi o lugar que escolhemos para construir parte de nossa história. No entanto, contrariando a canção, o trem que chegou há alguns dias atrás, não é o mesmo trem da partida. Pois nesse trem embarcam saudade, afeto, carinho, e o mais importante, conhecimento. O trem chegou nessa estação com lugares vazios e parte, superlotado. Novos horizontes, visões diferenciadas da vida, do ensino, do campo de trabalho. Pessoas mais humanas lotam os vagões desse trem que brevemente seguirá rumo a outras estações.
Daqui embarcam muitas pessoas, e por lugares diferentes vão esvaziando sua lotação. Tudo que lhes foram confiados espera-se que seja partilhado. Em seus locais de trabalho, nas ruas, nas igrejas, nas praças, nas salas de aula, em outras estações. O importante é semear, o importante é transformar!
E como diz o mestre Paulo Freire: "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo". Pensemos nisso, e embarquemos nesse trem com a convicção de que podemos transformar o mundo, já que fomos modificados pela educação. Pois o mesmo mestre nos diz: "Não posso continuar sendo humano se faço desaparecer em mim a esperança". Parece utópico, em dias atuais, acreditar na educação, em um mundo melhor, mais igualitário, mais humano. Mas, se eu, que fui mudado pela educação, não creio nisso, como semear conhecimento? Como desembarcar em outras estações e ser percebido pela plateia que não me espera? Contraditório, não!
Na plataforma da nossa vida vamos encontrar os que, a exemplo da canção de Milton, chegaram pra ficar e por isso fizeram a diferença; os que se foram para nunca mais, por que não encontraram aqui sua identidade profissional; aqueles que vieram e quiseram voltar por falta de coragem de ir à luta; há também os que vão querer ficar, porque não se conformam com o que adquirem e sempre irão buscar mais e mais conhecimento, e assim frequentarão mais e mais estações; e infelizmente, há também os que vieram só olhar, são os que acreditam que a educação transforma o mundo e não se deixam mudar, por isso ficam de braços cruzados esperando sempre um milagre.
Peço licença ao poeta Gullar e faço um precário parafraseado alertando a "essas gentes" que todos os dias acompanham o "vai-e-vem" da vida nessa estação, que ao embarcarmos nessa viagem façamos de uma parte nossa multidão e de outra, estranheza e solidão. E que sendo multidão percebamos o outro e o quanto precisam de nós, e quando afetados pela estranheza saibamos construir o diferente, ou ser o diferencial de que tanto necessitam; e quando assolados pela solidão saibamos fazer dela, ponto de reflexão, silenciando os que não acreditam em nós.
Que uma parte nossa pese, pondere, e a outra delire. Pesar nossas decisões, ponderar nossos atos para melhorarmos profissionalmente, pois, segundo o mestre "aprender é um exercício constante de renovação"; mas, que não esqueçamos o delírio e que ele, ao contrário da loucura, seja símbolo de nossos sonhos, de nossos devaneios. E ainda na voz do poeta que diz "Uma parte de mim/almoça e janta:/outra parte/se espanta", que saibamos transformar essa nossa parte que almoça e janta, ou seja, que agora embarca no trem da vida, em espanto, ou, em outras palavras, em protesto em busca de melhorias, e deixar nossa contribuição para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Que saibamos traduzir nossas partes e indagarmos: será essa a educação que eu quero? Será esse o novo mundo que almejo? Será?
Enfim, como diz a canção, a hora do encontro é também despedida e "a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar..." (Antoine de Saint-exupéry). Até agora estávamos tão bem, embarcando na estação. Fizemos ótimas amizades; risos, lágrimas, conversas, brigas, amores... Ah... "Mas, de repente, uma farpa meio intrusa/Veio cegar minha emoção de suspirar/Se eu soubesse que o amor é coisa assim/Não pegava, não bebia, não deixava embebedar" (Saga/Felipe Catto). Tarde demais! "E agora andando, encharcado de estrelas", não nos resta outra, senão, nos fazermos "tão forte quanto o escuro do infinito/E tão frágil quanto o brilho da manhã que [...] [vai] chegar"; só assim suportaremos a saudade que inundará nossos corações.
Para finalizar eu pergunto: valeu a pena? E respondo: para mim, valeu. Embarco na plataforma da saudade com a sensação de dever cumprido e espero que sintam o mesmo. Dificuldades? Sim, encontraremos. Pois como nos alerta outro poeta, Guimarães Rosa, "todo caminho da gente é resvaloso. Mas também, cair não prejudica demais - a gente levanta, a gente sobe, a gente volta!... O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". Então, meus amigos: coragem! Essa "é a vida desse meu lugar".
Obrigada pela atenção.