Desabafo ll
Hoje o papo é sério
(sempre é, né?)
Eu to chateada.
Cada vez mais me orgulho, por assim dizer, da minha tatuagem que diz que temos de ser fortes.
Hoje você é só cobrada. São tantas coisas que nada aparece, em evidência.
Você tem de cuidar da casa e cuidar da roupa, mesmo que a "menina" venha.
Você tem de fazer comida, comer direito, guardar tudo na geladeira e deixar em ordem.
Você tem de não se importar por andar de trem, mas também tem de saber dirigir - e ter um carro.
Você tem de estudar, malhar, dançar, trabalhar, namorar - não se importar se o namorado não atende o celular numa sexta a noite, falar com as pessoas da forma que for melhor PARA ELAS, bater meta, índice e ser simpática.
Você tem que não fumar, não beber - só o suficiente, que a revista de saúde fala.
Optar pelo peixe - mesmo frito - ou pela picanha assada.
Até o Twix que você come no almoço é amaldiçoado na aula de abdominal.
Você tem de estar preparada para receber uma resposta grosseira quando pensam que você perguntar algo indica puro "interesse desinteressado pela sua vida".
Ah! E você não pode dizer que não quer saber. É falta de educação...
E você tem de ser educada.
Você tem de ser perfeita, do contrário, não vale.
Você tem de ser forte...
E você tem de acreditar - e lutar por um - num mundo melhor.
Daí você até vê a galera, acompanha pelas redes sociais e percebe que já é tarde. Não tem jeito.
São e sempre serão como são.
Não cabe julgá-las, mas também não fico esperando nada melhor de ninguém.
Você é obrigada a se dar bem com todo mundo. Mas só você!
Todo mundo não tem que se dar bem com você. Lidar com o seu jeito...
Você tem de entender o jeito dela, não ela o seu.
Você tem de ler revistas, livros, jornal, ouvir música, escrever. Em português e em inglês, no mínimo.
Você tem de dar passagem sempre porque senão esbarram afinal, se você não desvia ela vai desviar?
No fundo, todo mundo tem que fazer tudo isso. E eu faço. Mas não sem refletir a respeito.
E procuro melhorar para não ter que pensar sempre SOBRE A MESMA COISA.
Além de chateada, eu to cansada, de saco cheio, e quero que se foda!
Se o papa é argentino ou paraguaio, se anda de jegue ou de carro blindado, eu continuo acordando cedo, trabalhando muito, indo dançar, para a academia, para o inglês, ver os amigos, o namorado, lendo revistas, livros, ouvindo música, sendo cobrada por ficar pouco em casa, sendo cobrada no trabalho e com dificuldade de me relacionar com pessoas que acreditam que um bom relacionamento só depende de mim.
E, por tudo isso, ouço que sou dramática.
O que eu faço com tudo isso?
Eu choro... Às vezes, eu choro...
*Ao som de No woman, no cry - Bob Marley
16\03\13 - 09h15 - No trem