Um pouco de religião contemporânea
Observemos a seguinte frase:
“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles. “ (Mt. 18:20)
Esta frase foi dita, segundo registros da bíblia, por Jesus. E essa frase, se interpretada adequadamente, acaba levando ao chão todos os prédios criados para esse intuito. Leva ao chão pelo fato que Deus está dentro de cada um de nós, seja ele chamado de Deus, Alá, Oxalá, Braman, Adonai ou qualquer outro nome, o que importa aqui é a figura, é o ser supremo.
Se lermos a citação de Lucas (17.21) “O Reino de Deus está dentro de vós", entendemos também que não precisamos de um templo homérico para buscá-Lo por aquelas paredes e que a verdadeira “salvação” só você pode alcançar por seus próprios esforços e não pela palavra do outro. A palavra é uma: amor. E é por meio da busca de sua essência que conseguimos nossa iluminação e não pagando dízimos para nos redimir e nos sentir menos culpados. Além do que, o dízimo em seu início nada tinha a ver com os 10% cobrados hoje em dia da renda pessoal do fiel. Havia na época, para alguns, a oferta espontânea de seus bens produzidos a fim de ajudar os demais da comunidade, tinha uma ideia da produção agrária partilhada. A propósito, se todo o dinheiro dos fieis fossem revertidos para eles mesmos, certamente estariam em condições muito melhores enquanto alguns pastores preferem comprar aviões particulares e mansões com mil e um luxos.
A questão é que se o homem começa a pensar por si por meio de reflexões sobre a verdadeira ética e sobre a verdadeira religiosidade, essas Igrejas certamente teriam um fim, e justamente para não acontecer isso é que alguns pastores alimentam a ideia do inferno como recompensa por maus hábitos e por não ajudarem financeiramente suas instituições.
Acredito que haja, sem dúvida, pessoas com boas intenções e que criticam esse modelo capitalista de se gerir as igrejas, todavia, são minorias.
E eu acredito que as pessoas não precisam usar da igreja como se ela fosse uma muleta espiritual. Argumentos do tipo “o que eles fariam sem isso?” muitas vezes entram por meus ouvidos, mas acredito que manter as pessoas alienadas e presas a tal “regime” é o mesmo que dizer àqueles que lutaram contra a ditadura que se acomodem à tirania autoritária dos generais. É um tanto hipócrita ao meu ver. Se todos somos seres humanos e devemos buscar nossa autonomia acima de tudo, então porque deixar que se enganem em falsas profecias e em falsos profetas? Essa é minha visão e uma visão baseada inclusive em preceitos bíblicos como citados acima.
O homem almeja a liberdade e será livre enfim quando as paixões terrenas se acabarem. Buda alcançou, por exemplo, o estado de iluminação abdicando-se dos bens materiais e por profundas meditações acerca de si e dos seres à sua volta; Jesus ascendeu aos céus por dar-se e doar-se completamente àquilo que chama amor e, no caso de ambos, conseguiram tanto a iluminação quando a verdadeira liberdade, sem contato estarem presos à alguma instituição religiosa e tampouco oferecendo dízimos para conseguirem seu pedaço no céu.
Eles aplicaram a Lei do amor e quem prega o contrário está servindo a qualquer outro Deus exceto o cristão, judeu, budista etc. Quem prega a intolerância, o ódio e quem deturpa a verdadeira Palavra, não é e jamais será homem de Deus. Muitos serão os falsos profetas que falarão em meu nome (Mt. 24:11) já dizia o apóstolo. A casa de Deus não é a Igreja de São Pedro, não é o Novo Templo de Salomão da IURD, não são os templos espalhados por aí, somos nós e cada um de nós é que tem que buscar esse “templo” sob o nome que desejar.
Só acho muito pouco legitimar a prática de fieis que são enganados por dizer que eles não têm outra escolha ou porque “precisam disso”. Eles precisam encontrar a si mesmos e aprender a lidar com as dificuldades da vida praticando o bem que sai do coração e não do bolso.
E sigamos o exemplo de pessoas puras de coração e que verdadeiramente ajudaram o próximo e que morreram sem milhões em suas contas bancárias, como por exemplo, Chico Xavier, Madre Teresa, Mahatma Gandhi dentre outros brilhantes que dividiram tudo o que tinham e o que não tinham. Não são como uns aí que até cartão de crédito com senha pedem.
Sejamos críticos e não aceitemos e legitimemos tudo como se fosse o “melhor” para aquele ou este. Sem crítica o mundo não evolui. Sem crítica, pensadores e reflexões estaríamos ainda na Idade Média e o diferente ainda seria levado pras fogueiras ou enforcados.