Ainda mais miseráveis - um século e meio depois

"Repitamos o grito: Luz! mas repitamo-lo obstinadamente. Luz! Luz! Não são as revoluções, transfigurações? Caminhai, filósofos, ensinai, esclarecei, iluminai, pensai alto, falai alto, correi alegres para o sol, confraternizai nas praças públicas anunciai as boas-novas, prodigalizai o alfabetismo, proclamai os direitos, [...]. Fazei da ideia um turbilhão. Essa multidão pode ser sublime. Esses pés descalços, esses braços nus, esses farrapos, essas ignorâncias, essas abjeções e essas trevas podem ser empregadas na conquista do ideal. Lançai-a na fornalha, essa vil areia que calcais aos pés, deixai-a fundir-se e ferver, e tornar-se-á cristal esplêndido".

Faz tempo que foi dado o alerta, mas as autoridades ignoraram. Em "Os miseráveis", grandiosa obra publicada em 1862, Victor Hugo, conforme o trecho acima, foi bem claro ao indicar a educação como caminho para evitar a triste situação em que muitos jovens hoje se encontram, abandonados à própria sorte, afastados de seus lares, vivendo miseravelmente nas ruas, entregues ao consumo de drogas, andando a passos largos em direção à morte prematura.

A educação faz parte de todo o círculo que envolve a natureza humana e é um processo contínuo de formação no qual o homem está ou deveria estar envolvido em todas as idades, recebendo os estímulos necessários para formar-se em sua totalidade. A educação proporciona ao ser humano tornar-se apto a desempenhar seu papel na sociedade, abre possibilidades, valoriza e dignifica a pessoa. Quando a educação falha ou mesmo inexiste, o homem se vê impedido de alçar voo rumo às descobertas, de construir seus sonhos, de ter uma existência significativa.

Embora os motivos pelos quais jovens e crianças se envolvem com drogas sejam complexos e variados, não é preciso ser grande conhecedor do assunto para compreender que um dos principais é a falta de perspectivas no futuro, fato recorrente entre aqueles que não tem acesso à educação. Sem um caminho definido para seguir, sem ocupação que proporcione prazer e socialização, muitas vezes desrespeitado como ser humano, é natural que o jovem facilmente passe a fazer parte de um grupo no qual ele é aceito sem maiores exigências.

E assim, a cada dia aumenta o número dos esfarrapados, dos abjetos, dos nada sublimes, dos mergulhados nas trevas, que se reúnem ao ar livre, em qualquer lugar onde possam ser ignorados, para consumir a “pedra”, e rapidamente multiplicam-se as areias vis que jamais se tornarão cristal.