Homilia do natal de 2006
25 de dezembro de 2006 - Homilia do Natal do Senhor
Por: Pe. Adair José Guimarães, Pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora
Aparecida de Minaçu – Go.
Tema: “Hoje nasceu o Salvador”, Resplandeceu sobre nós a verdadeira luz
Amado Povo de Deus,
Hoje a liturgia nos interpela com a mensagem da Encarnação de Cristo no mundo dos homens. Temos diante de nós uma grande mensagem, por séculos esperada pelo Povo Judeu: “O povo que andava nas trevas viu uma luz” (Isaias); “Hoje nasceu o Salvador”. O que a Solenidade de hoje tem a nos dizer? O que falta para Jesus nascer também na Câmara Municipal e na administração pública desta cidade, maculada com atos indecentes de corrupção e desmando? O que representa para nós o Menino Jesus? Seria ele apenas um folclore do passado longínquo ou a sua pessoa nos causa desconforto em razão de nossos muitos pecados?
Chegados que somos de tantos caminhos, nós nos reunimos diante de um presépio, com os olhos esbugalhados diante de um presente que se abriu. Se quiséssemos imaginar que as auréolas dos santos do céu são formadas de pedras preciosas que representam o bem que fizeram na terra, na auréola de São Francisco de Assis tem que haver uma gema fulgidíssima para lembrar o presépio que ele organizou na pequena aldeia de Greccio, na noite de Natal, três anos antes de sua morte. Foi uma beleza o bosque naquela noite, iluminado pelos archotes trazidos pelo povo do lugar e dos arredores, e os frades cantando músicas do céu!
Celebrou-se a missa ali mesmo junto do boi e do burro e das palhas da manjedoura. E São Francisco, que era diácono, cantou o Evangelho, "com voz forte, doce, clara e sonora", como nos conta Tomás de Celano na Vida do Santo. De Greccio o presépio se espalhou pelo mundo. E hoje ele é "armado" nas igrejas e em muitas casas de família, para que jamais fique esquecido o Menino de Belém, mesmo quando o comércio vai materializando o Natal, e a figura de Papai-Noel vai povoando as cabecinhas das crianças.
Acho sempre encantadora a beleza ingênua dos nossos presépios populares, onde cada figura quer lembrar algum dos elementos que aparecem no nascimento do Menino: a manjedoura com as palhas, o boi e o burro, os pastores com seus carneirinhos; e Maria e José e a divina criança; e os anjos cantando "Glória a Deus nas alturas", e a estrela brilhando no céu; e lá numa curva longínqua da estrada a caravana dos reis magos que se vem aproximando.
Os singelos presépios nos faz lembrar das palavras do profeta Miquéias que os sábios de Jerusalém citaram para os magos em resposta à sua pergunta sobre onde tinha nascido o Rei dos judeus, cuja estrela tinham visto brilhar no céu do Oriente: "E tu, Belém de Éfrata, tão pequena entre as principais cidades de Judá, de ti sairá para mim aquele que há de dominar em Israel". É como está lembrado na liturgia da palavra deste domingo (Mq 5, 1).
A pequenina cidade de Belém! Aliás, tudo é pequeno e humilde a rodear o maior acontecimento da História. Se as grandezas do mundo tivessem algum valor, Jesus teria nascido num palácio, no meio da púrpura e do ouro, servido por numerosa criadagem e honrado por uma luz da guarda. Mas Ele quis nos mostrar o nenhum valor de todas essas coisas. E nasceu na pobreza; como depois viveu na pobreza, e morreu despojado de tudo no alto de uma cruz." Por vós se fez pobre, Ele que era rico, para vos fazer ricos por meio de sua pobreza" (2 Cor 8, 9).
Pode-se até dizer que uma das lições mais vivas do Natal é essa que nos ensina a amar o que é pequeno e humilde, para alcançarmos a verdadeira grandeza. Aí está para nosso exemplo a humilde Virgem Maria. Ninguém foi maior que Ela entre as criaturas. Ela mesma vai cantar no seu canto de louvor na casa de Isabel: "O Onipotente fez em mim grandes coisas" (Lc l' 49). Mas não se esquece de se envolver na sua humildade: "Ele olhou para a humildade de sua serva", como está no mesmo canto (v 48). Como conseqüência, a confissão dessa humildade vai explodir num canto de louvor de toda a terra: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (ibid.).
Por tudo isso o Natal é uma data que fala muito ao coração dos pequeninos. Não só das crianças, mas de todos os que são pequenos e humildes: os pobres, os operários de salário mínimo, os favelados e todos os que são postos à margem da sociedade. Nunca se deixem abater pela sua pobreza. Lembrem-se de sua dignidade de filhos de Deus. Olhem para o presépio, onde, no frio da noite de Belém, foi deitado na palha o Menino-Deus, o Rei e Senhor do céu e da terra.
Deus feriu de alegria nossos corações. Um raio de sua luz divina irrompeu nas trevas dos séculos da humanidade. Certamente houve tantos clarões de aurora desde o primeiro instante da criação, desde a criação do povo de Israel e mesmo no paganismo. Mas somente ali, na gruta humilde é que explodiu em nossa humanidade a divindade. Tantos seres e coisas, até homens foram feitos deuses, somente Deus se fez Homem. Ali. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
É uma noite de luz. A liturgia dessa noite de Natal está toda iluminada. Rezamos: “Deus que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz...” (Oração da Missa). Essa luz ilumina os povos, de modo particular o sofrido povo de Israel, portador das promessas divinas para o mundo: “o povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Há um grande paralelismo entre no Natal e a Ressurreição, tanto que um calendário litúrgico dos anos 350 (O Cronógrafo) anota: “Natal do Senhor na carne. Páscoa”. A luz do Natal sai da gruta - na Ressurreição a luz sai da gruta do túmulo. O Menino foi envolto em faixas - no túmulo estão as faixas. Alegria dos pastores - alegria das mulheres. Os anjos aparecem aos pastores - os anjos estão no sepulcro. O Ressuscitado é aquele que veio na carne. Na eucaristia celebramos o mistério pascal de Cristo unindo ao mesmo tempo todos os acontecimentos de sua vida. A mesma luz resplandece sobre nós “para que, vislumbrando na terra este mistério, possamos gozar nos céus de sua plenitude (Natal)” – somos chamados a viver “na luz da vida nova” (Páscoa). A celebração é um empenho de vida.
As leituras de Isaias comentam sobre a paz que Ele nos traz: Houve uma liberação e Ele é o Príncipe da Paz (Is 9,6). O profeta continua dando boas notícias vendo de longe a libertação do povo. Agora Cristo traz essa liberação: “Como são belos sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz de quem anuncia o bem e prega a salvação e diz a Sião: ‘Reina teu Deus!’” (Is 52,7). O Natal é festa da fraternidade que, sendo a Paz, introduz-nos na busca da paz. “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens”, cantam os anjos. “Nasceu-nos hoje um salvador”.
A fé precisa ser ligada com a vida, com a história. O Menino Jesus, luz da nossa fé cristã, desconcerta os corações soberbos e maus. Nossa Cidade vive tempo de penúria, sob densas nuvens escuras do desmando e da corrupção. O povo precisa reagir a tudo que estraga a nossa história. O próprio povo precisa mudar; ter mais ética e responsabilidade. Precisamos entender que é urgente uma mudança na política de nossa cidade. Doa a quem doer, mesmo sob as ameaças dos covardes que não se condoem com o sofrimento dos pobres e infelizes.
O que está acontecendo precisa ser passado a limpo. As pessoas precisam ter a coragem que poucos põem em prática e denunciar. Calar é omitir e impedir que o bem prevaleça sobre o mal. Precisamos apoiar o Ministério Público para que tenha guarida e segurança na averiguação dos processos. Esperamos que a comunidade reaja com coragem e ordem a fim que as coisas possam mudar.
O endeusamento do dinheiro, a agiotagem e a falta de escrúpulo e de moral, dão base de sustentação ao mal na nossa cidade. O apelo do Menino Jesus é que todos os que estão praticando o mal voltem do seu mau procedimento e se converta.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo.