Desabafo dirigido a um ginete

DESABAFO - dirigido à um ginete em resposta a um comentário feito em um tal de flogbrasil (coisa das antigas mesmo), que foi tirado do ar. Isso foi por meados de 2005.

Quem ler vai perceber que nessa época, eu era bem revoltada (risadas), acho que até meio radical. Agora estou mais tranquila, e mais madura também. A gente vai aprendendo a lidar com isso, e a escrever melhor.

Quero salientar que, por enquanto, ainda não "levei nos dedos", com o que escrevi. E também que quando falo de "Nirvana" ou "algum grupinho de pagode", é no sentido de que isso não combina com pilchas gaúchas, mas de forma alguma no sentido de preconceito, (acho que naquela época eu até tinha um preconceito, mas isso já foi superado). Creio que todos tem o seu espaço e são livres para gostarem do que quiserem, e eu mesma também ouço outros tipos de música, apesar de a música nativista e a campeira serem as minhas preferidas disparado. Mas continuo concordando quando falo que tem que haver compatibilidade entre os casais.

Segue o texto:

DESABAFO

Sr. "ginete Fulano de Tal", você é meu amigo, mas desta vez vai ter que me desculpar porque eu não posso deixar de revidar sobre o que escreveu.

A história da Rosaflor e do Mariano Luna foi linda sim, pertence só a eles lógico, mas nós não queremos "O Mariano Luna", até porque com certeza ele não era tão perfeito assim. O fato é que todo mundo tem um "tipo" idealizado e o nosso está aí traduzido nessas músicas, é como o príncipe encantado, ou a história do Romeu e Julieta.

Já ouvi falar mesmo que de Flor e Luna é um caso longo e que não acaba muito bem, até parece que já veio a publico o 4º 'capitulo' (Romance pra um novo Mariano) mas ainda não ouvi nem li. O que importa é que a história começou muito bem, muito romântica e eles tinham compatibilidade. Espero que não tenha acabado como o Negro Bonifácio, porque daí é muito sangue por pouca coisa, afinal a Tudinha foi o "bode expiatório". O que eles queriam mesmo era acabar com o negro, na verdade ninguém tava pensando nela.

Mas deixemos esses causos de lado e vamos ao que me revoltou! Você diz que: "quando procuramos algo semelhante a nós, daí esculhamba tudo" ? Eu acho o contrario: que não sobreviveria com alguém que não entendesse ou não ligasse pra o que eu falo, o que eu vivo, no que eu acredito. Ia ficar sufocada tentando fazer com que a cabeça assimilasse outra cultura, outras músicas, outra linguagem, outro ponto de vista e que talvez fosse contra a consciência que herdei e construí até aqui. Posso estar sendo muito radical, pode ser preconceito, mas admito, sou contra essa miscigenação de cultura com modismos de cola fina. Pra bailear, se divertir... tudo bem... tudo é festa agora me tapa de nojo quando vejo um casal desproporcional, incompatível.

E os filhos então? Próximinhos! Um quer botá uma pilcha e ensinar coisas de fundamento enquanto o outro acha ridículo e tem nojo de tudo. Acha que pó ou barro de mangueira vai matar a criança, que vai ser cheia de alergia, (pura barda!) Ou pior ainda...uns que se disfarçam de gaúchos mas que saem do palco ou da cancha correndo pra trocar de roupa, "deuzolivre que alguém me veja de pilcha, fantasiado de gaúcho" (li isso em algum lugar). Vestem calça jeans e boné, isso se não combinarem com uma camiseta do NIRVANA ou algum grupinho de pagode.

Talvez daqui uns anos eu leve nos dedos com isso, pois ninguém sabe o dia de amanhã. E pode ser que eu tenha que engolir a seco o que escrevi, e renegar a estirpe que hoje tanto me orgulha. Mas tenho convicção que não adianta dar murro em ponta de faca, até porque já tentei e sei que não é bem assim... já dizia Dom Ávila: escolhendo a trança é que se escolhe as normas.

Por isso acredito que um dia, decerto, hay de encontrar um paisano que acredite no que eu acredito... e nem precisa vir num baio, com um poncho emalado e um sombreiro tapeado, basta ter alma de campo.

Que fique bem claro que essa é a minha opinião e não estou tentando (nem quero) mudar a cabeça de ninguém, aliás eu penso que nós de rodeio não somos comuns, somos "os diferentes". Só ainda não sei se isso é bom ou ruim.

Finalmente me desculpem todos que conseguiram ler até aqui, mas é que faz tempo que queria escrever sobre esse assunto e não achava jeito, mas o comentário do seu Adriano me deu argumentos.

Isso foi pra gente cair na real e perceber que vivemos num mundo ilusório e o pior de tudo: não queremos sair dele.

Alva Gonçalves.

Escrito em 2005.

Alva Gonçalves
Enviado por Alva Gonçalves em 09/10/2012
Código do texto: T3923615
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