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"Autor de No Raso, que sai no Brasil no segundo semestre, Nicholas Carr defende que a tecnologia viciou a sociedade

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Marcos Flamínio Peres

Três anos atrás, Nicholas Carr causou enorme controvérsia ao publicar na influente revista The Atlantic um artigo chamado “Por que o Google Está Nos Tornando Estúpidos?”. Nele, descrevia como o uso generalizado da internet estava modificando o processo cognitivo e criando, nos usuários, uma dependência incessante por novas informações – quaisquer que fossem.

Em 2010, desenvolveu o tema no livro The Shallows (No Raso), indicado neste ano para o Prêmio Pulitzer e previsto para sair no Brasil no segundo semestre, pela editora Agir.

É sobre ele e a ansiedade de causas tecnológicas derivada do uso intensivo da internet que o jornalista norte-americano Nicholas Carr fala na entrevista a seguir.

CULT – Por que as pessoas sofrem agora de ansiedade derivada da tecnologia?

Nicholas Carr – Acho que isso varia de pessoa para pessoa. Mas certamente a urgência de se manter a par do fluxo de informações que flui pela web gera ansiedade.

E seguramente está também em jogo uma ansiedade social ao se criar e manter perfis em sites de relacionamento e observar os perfis dos outros. No final das contas, sua própria imagem está envolvida.

Então, eu diria que, em linhas gerais, a web tende bem mais a aumentar a ansiedade do que nos aliviar dela.

A “erosão da classe média”, como o senhor diz, é também um fator adicional de ansiedade?

Se você faz parte da classe média, certamente sim.

Em No Raso, o senhor diz que “a web está esmigalhando” sua “capacidade de concentração e contemplação”. Isso também é verdade para os jovens? Eles não lidam com a realidade – a real e a virtual – de modo diferente?

Não, não acho. Geneticamente falando, nossos cérebros têm estruturas similares e limitações similares, sejam eles jovens ou velhos. Você nunca será capaz de, ao mesmo tempo, ser tenso e contemplativo – é simplesmente algo que o cérebro é incapaz de fazer.

No entanto, pode ser que as pessoas que crescem imersas o tempo todo na web nunca saibam o que se perdeu, cultural e intelectualmente falando. Você não pode sentir falta daquilo que nunca experimentou.

Como lidar, então, com essa falta crescente de “concentração e contemplação”?

Isso é difícil, porque a expectativa de conectividade constante penetra profundamente tanto em nosso trabalho quanto em nossa vida social. Mas, se você quer preservar o pensamento contemplativo, precisa recuar de sua imersão na cultura virtual, mesmo que isso requeira sacrifícios pessoais. Não há outro jeito.

Por que as redes sociais representam uma ameaça à privacidade? No final das contas, não cabe apenas aos usuários escolher se querem ou não interagir on-line?

Poucas pessoas de fato entendem a informação que está sendo constantemente coletada a respeito delas quando estão on-line. A invasão de privacidade é, com frequência, escamoteada.

No livro, o senhor recupera as ideias de McLuhan para explicar que “a informação molda o processo do pensamento”. Cem anos após seu nascimento, ele pode ser tratado como um visionário?

Sim, era um visionário, embora nem tudo que previu tenha acontecido."