Amargura
Eu poderia começar o meu texto assim:
"Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão, mamãezinha quando dorme, põe a mão no coração".
Ou então:
"Pus a cama na varanda, me esqueci do cobertor, veio o vento na roseira e minha cama se encheu de flor"
"Fui no Tororó, beber agua não achei, achei bela morena..."
Mas o mundo se transformou, as pessoas se tornaram violentas, por nada, por coisinhas atôa. Os relacionamentos se desfazem hoje com uma facilidade incrivel e as mulheres ganharam sim, merecidamente, o mercado de trabalho, mas grande parte delas são objetos e expõem no dia a dia a sua sexualidade na TV, nos jornais, internet, expondo partes intimas do corpo, reforçando a idéia de que a profissão mais antiga do mundo vai continuar na contramão da dignidade feminina e são induzidas no cotidiano à pratica da vulgaridade para chegar à vitrine da amargura e vivem em grande parte numa situação de pré-prostituição. O homem, o jovem, da mesma forma foi treinado e instruido pelos mecanismos existentes de publicidade e programas do tipo "reality show" a se esbaldarem numa vida mundana, para de certa forma compacturem com essa situação.
Minhas palavras não estão aqui soando como falso moralismo e tampouco possuem um cunho religioso. Pelo contrário sou ateu e falo por mim mesmo, pelo que sinto.
E muitos aqui falam em poesia, em alegria, em festa, em corações que perdoam, que esquecem como se estivessemos vivendo num mar de rosas.
A gente pode ler por aqui, vários textos que quase todos nós gostariamos de escrever sempre e sonhamos acordados que essa possa ser uma possibilidade constante.
Quando se vive em locais mais digamos civilizados, onde a probalidade da violencia, um assalto à mão armada, uma bala perdida, é menor, talvez ainda seja possivel, viver "sorrindo", "alegre" solto(a) extrovertido(a), cantarolando e extrapolando manifestações de felicidade, mas a realidade da vida é outra.
As pessoas amargas não são amargas porque querem ou desejam, ou nasceram assim. O mundo cão em que vivemos as criou, as transformou.
Vivemos de sobressaltos, de sustos e principalmente de ver o outro (o proximo) em situação desconfortante. De que adianta, eu desfilar com um carro zero, num shopping de chamada zona sul, com vários cartões de crédito, com limites estratosféricos e que posso usar e pagar, almoçar o que quero, onde quero, ir a Punta del Leste, dar um giro e chegar ao La Bocca em Buenos Ayres, ou viajar pro Canadá e tentar a mesma sorte de Luiza, se a minha consciência está chorando pelo meu irmão faminto aqui, analfabeto que somente vota em corrupto, porque ele não sabe distinguir e vota no que o Pastor manda ?
De que adianta eu fingir que sou feliz num mundo onde os comedores de hamburgueres matam por prazer e levam todo petroleo dos vencidos?
Onde está Deus, o seu Deus, esse Deus inventado por todos, que não resolve p.... alguma.
Quer que eu sorria quanto um pivete num caixa de banco, ou quando eu estiver descendo de minha caminhonete, me ameaçar com um revolver e der a ordem "tio" passa o dinheiro e a chave do carro pra não morrer?.
O que é que de fato, um Paulo coelho e um Chico Xavier fizeram para estancar esse ódio e auto-flagelo milenar exposto na cara de cada bandido que nos aborda com a expressão nítida e debochada de revanchismo? É como se você percebesse em seus olhos assustados e decididos a matar, ou no sorriso de deboche a expressâo:
"Você tem muito mais do que eu, mas eu posso tomar na marra e levar tudo e você é impotente para fazer qualquer coisa e se reagir MORRE"
Pregam esses dois gurús amor e paz e estão cegos e trancados em suas seguras residencias, onde a guerra não chega em suas belissimas pÁginas psicografadas(chico que já morreu) ou clonadas(Paulo Coelho)que sequer vive no Brasil e últimamente resolveu treinar o esporte mais elitizado do mundo - O arco e a flexa, um instrumento de guerra dos tempos do medievo de onde ele traz suas retóricas xerocadas.
A frase AÇÃO E REAÇÃO é correta sim, mas eu diria que o tempo de ação de nossos antepassados (a elite colonizadora dos tempos do café e da cana de açucar), surte o efeito catastrófico hoje e nossa geração que nada tem a ver, colhe frutos com efeito retardado, com gosto de vingança.
Estamos pagando por tudo que não fizemos há duas centenas de anos.