Monólogo
Obrigada por deixar-me ficar, e por convidar-me à sua mesa, e também pelo fato de não me odiar ou fingir que eu não existo. Estou aqui por um motivo justo, e por mais desagradável que possa ser a minha presença, ela é necessária, e você tem muito a aprender comigo. Sou uma das professoras da vida, talvez, a mais eficaz.
Estive ausente por muito tempo... mas tenho certeza que você ainda se lembra da última vez em que nos encontramos: tantas coisas aprendidas! Como você mudou, de lá para cá, e mudou para melhor! Eu jamais parto sem deixar alguma mudança em quem me acolhe. Sou uma fada-madrinha, e meus presentes agem no futuro.
Foi necessário que nos encontrássemos novamente, pois a vida estava se tornando morna. Os sentimentos estavam se tornando dormentes, e as pessoas, se afastando umas das outras, deixando que coisas tolas e desnecessárias, como o orgulho, o preconceito e a competição, ficassem entre elas. Sou aquela que une. Minha missão, é reaproximar.
Você não sabe, mas enquanto dormia, eu velava seu sono, e sabia que teríamos de nos encontrar em breve... não que eu deseje ou aprecie fazer sofrer; apenas cumpro ordens. E enquanto você dormia, eu planejava a maneira de despertá-la novamente. De fazer de você alguém mais solidário, pois só nos sentimos realmente solidários, quando já sentimos aquilo que o outro está sentindo. Eu sou aquela que desperta memórias.
Não sei quanto tempo ainda terei de ficar, mas enquanto eu estiver aqui, seja piedosa comigo; aceite-me como eu sou. Cure-me, curando a si mesma! mas para isso, você precisa me entender, saber das minhas razões, abrir-se a mim. Pois sou aquela que penetra na alma e a faz renascer.
Não fique tão triste; um dia, eu irei embora. Mas deixarei uma sementinha dentro de você, para que sempre se lembre do tempo que passamos juntas, e jamais se esqueça das lições que aprendeu. Quando eu tiver ido embora, tenha certeza: você estará transformado em alguém melhor, mais maduro e mais sensível.
Pois eu sou a sua dor.
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Imagem: da autora