A TORMENTA EXISTENCIAL José João Bosco Pereira – 03/07/07

FINCA O PÉ NA POESIA

Aqui está o poeta

Nada o faz perfeito.

Vê o mundo e seu defeito.

Por um triz

Quis ser feliz.

Nada o prende,

Nada o satisfaz,

De nada desfaz,

Nem de si e de sua gente.

Quer apenas amor e paz.

Quer flanar um pouquinho:

Os ouvidos se fecharam de repente.

Quer olhar nos olhos os filhos dos homens,

Quer conversar com quem passa.

Ele também passa!

CUIDADO

Que pirâmide horrível!

Que sociedade hipócrita!

Que desencanto meu ver

Enquanto bela a vida,

Decepciona-me

O bicho homem.

Prudência de atos e falas

Teus atos e talentos guardas.

Teus pés andam entre invejas

E, em cada curva do caminho, levas

Oculto teu brilho e as sombras.

Vejas que obscurecem teu caminho!

A mediocridade, agora te importuna.

O CEMITÉRIO DA CIDADE – 03/07/08

Até no cemitério há desigualdades.

Veja estas lápides e epitáfios!

Veja os túmulos em destaque,

Enquanto outros pobres e esquecidos arrastam chão.

Todos pedintes de oração.

Sacudo os pés e a poenta terra

Mancham meu sapato e calça.

Somos todos o enfado

E da vida que criamos

A cidade – cheia de arranha-túmulos

Quais pirâmides e bolsões de miséria.

Estamos fartos de tudo

Deslizamos os olhos a todo lado

Vimos que há também aqui nosso lodo.

Abaixo, temos o cuidado

De não escalar e espoliar os pequenos

Enquanto bajulamos os grandes e ricos

Com falso elogio cúmplice.

Pedofilia

O sorriso infante

Não mais existe naquele rosto maroto.

Está impune o brutal infame,

Arremeteu-se tosco

No berço em traços rotos.

Roubou-lhes a inocência

Para seu prazer doentio

Que tritura ao colo a flor linda do pântano.

Encharcam-se de cúmplices infernal

Que espezinha as vítimas silenciadas

Nas calçadas, favelas, campos e mansões...

Do fel, a meninada bebe a gota perfurante

Perfuradora, petulante e impertinente...

Até quando tais lobos foram o apetite inclemente?

Até quanto e quando?

Mas o maligno se alegra

Não se objeta

No mal que se enlameia sua pérfida gentalha:

- Ó Deus, ouve esse lamentos de seus filhos inocentes...

- Melhor, jogar-te ao mar em tua nódoa de pedofilia que inteiro queimar em outro lugar.

JOÃO-DE-BARRO – 03/07/08

O que foi contigo?

Não tens ainda tua casa?

E os grandes aproveitaram-se

Do status e cada qual rumo adentro tomou

Na vida e na fama.

Estás só, ao léu?

Abras o teu véu,

Obras o teu céu.

Vês que inda há galhos,

Deus ao pó fez o barro,

Mistura fina e perfeita de uma forma que não se repete

Nunca mais para te criar...

No entanto, sofres o nosso abandono.

Talvez, um dia, meu João,

Tua tão sonhada carne alce vôo

E tua morada se faça em outro patamar.

Espinhos da Carne – 25 /07/08 – “Livra-me destes espinhos em minha carne, Senhor” (São Paulo)

Quando nasceste, mundo, com espinhos,

Tiveste e foste ser feliz na vida.

Aprendeste driblar muitos diabinhos,

Vias brilho-saudade na partida.

O tempo jeito com anjinhos,

Corrosivo devir desta saída.

Suspiras, com anelos, por beijinhos,

Fingindo responder, mesmo ferida.

Procuras meios de não te contaminares

E desejavas-te verdade logo,

Tédio, com teu medo, contra a paz.

Rezas, buscas vencer todos os pilares

Caminhas cauteloso diante do fogo,

Tenha calma antes que tua vida jaz.

Pirassununga – 25/07/08

Do lindo recanto paulistano

Imigrava seu passado;

Em tradições nativas,

Quando se fixou o lusitano,

Depois, veio o imigrante

E a fé no Senhor dos Aflitos

Pairou nestas paragens.

Ouve-se a ema nas cachoeiras,

Tintilam-se as aves entre laranjeiras.

O convite à oração retoma

A gratidão de seus filhos

Pela luta vencida por mais

Este dia!

Continua a canção das gerações

Saudando-lhe a vocação altiva

De conquistas da terra, do comércio,

Rumo ao progresso a cada ano.

Seu cinturão verde lisonjeia

O avanço das quadras urbanas

Como a esperança gorjeia

O interior das almas tolerantes.

Em cada olhar, brilha o sol poente.

Em cada mão, firma o céu límpido.

Em cada pirassununguense, o porvir certeiro,

Parabéns por ser assim!

A CORUJINHA – 28/07/08

Pequenas, tão necessárias,

Nesta criação,

Camuflas a ponta de moirões

Dos perigos atentos ao gavião

Ou da serpe passarinheira.

Entre os campos e as matas,

Voas discreta e matreira,

Rodopiando certeira

Tua singular cabeça, com lentidão impressionante,

Cujos olhos nos atraem

Por serem perfeitos, amarelos, arregalados

Nas pupilas hiper-hipnotizantes.

E vê mais

Que as nossas aqui.

Escutas o ruído de camundongos

Ou pequenas serpentes e insetos,

São sua saborosa refeição

Diurna, vespertina e noturna.

Com teu pio característico,

Penetras a paisagens

Comunica a outros além

De nossa audição e visão limitadas,

Avisos de fugas sorrateiras e rápidas

Enamora a fêmea cativa

E modestas contrasta com outras aves atrevidas;

Ó MENINO

Não tens ainda no coração

A dor deste desvario do mundo

Inclemente.

Tem-se, já o sofrer das gentes das tardes de luta

Ou os traços no rosto da pisada do trabalho

Da fome

Dos sinais da morte cultural

Revelas tua pobre condição.

Que hás de quereres?

E quem as de te querer?

Se vives no campo ou na cidade

Em um seio de lar, sorrias e chores neste lugar,

Que sonhas agora acontecer

E o que vês sem demora?

Sei que cada menino

És único e impreciso e nem preciso

Dizer-te és múltiplo em rostos desfalecidos e

Desconsertadamente, ainda sorris e caminhas....

Não sei se o progresso te adotou

E teu familiar te enxotou,

Se tens ainda alimento e uma tenda como a minha...

É o homem fez fardo e fado...

O homem despojado e nu frente ao amanhã

Oculto que, em ti, se manifestará.

E o talento ou a dor

Que se construirá

Em ti, ó menino!

OS PEIXES COLORIDOS

28/07/07

São peixes coloridos da praça

Colorem a vida e os olhos da gente.

É bom limpar a fonte da água

Vejam água não polutas

Sem cigarros e catarros...

São sinais de tempos antigos

E rios límpidos.

Mergulhados em nosso imaginário

E histórias de gente simples e pescadores

Sem rede

Com sede de vencer.

Meu Deus, por que multiplicastes os peixes para o povo,

Enquanto nos desmultiplicamos a vida de lagos e águas?

Que cobardia estranha

Na nossa maré e na frágil nave da vida.

Cuidado, o bicho homem vem aí!

Castelo no Ar

Sonho do meu pomar

Utopias que vou somar

Projetos dispersos do meu lagar,

Artemanhas que não posso deletar

Remédios para meu tédio e mau humor,

Vida-criança aqui: palpitando

Entre-lugar a me incomodar.

MEU RIACHO

Era pequeno, eu me lembro,

À tarde, ao riacho me achegava,

Era este o riacho que alegrava meu coração.

Cheio de peixinhos lindos,

Pedras com cor e cheiro da natureza

A cantiga amiga a embalar meus tempos idos.

Não acreditava que tudo mudaria

No meu mundo que

Abafou o meu riacho,

Este foi o meu tempo,

Hoje maltrato na cidade pelo esgoto

Os seres alados ali desapareceram

E a manhã não é a mesma.

Tudo passou tão rápido como um tufão.

A pedra descorolada e descorada

E o cheio de poluição descomedida

É a crueza da malvadeza

Des-humana.

Este era meu doce riacho,

Ele ficou esquecido na foto amarelecida no armário.

E a minha infância perdida na memória.

GARUPA

A lambreta de meu pai

Era a delicia de minha viagem

À sua garupa amiga.

Na cidade e no campo,

Eu atrás com braços-cipós em arvore altaneira

Crescia em sombra firme.

E o filme segue à emoção,

No fechar de olhos, recordo, feliz,

O vento no rosto, enquanto a manhã desponta lá fora

Como outrora,

E vejo como observador em outros pontos incríveis

A minha história com meu pai,

A paisagem permite na mente que lembra

O que foi à luz do que não sou mais:

A lambreta a conquistar espaços como em um filme

Evocando pedaços do meu passado

De momento inesquecível

E ergo ao céu a oração e o silêncio completa esta sensação de que não estou só

meu pai está indo comigo e eu à sua garupa feliz.

Inverno

Quase tudo azul

Se não fossem estas queimadas.

As práticas e heranças nativas

Persistem

Enquanto o aquecimento da calota polar

Preocupam cientistas e ecologistas

E a fatalidade mortal

Incondicional ronda nossas casas e corpos frágeis e fáceis

Diante das torrascas e repentinas monções

Em partículas noviças, insípidas e invisíveis

Detonam nos sistemas endológicos

E do olho vem uma gota lacrimógica indomável e indopável.

De protesto, de denuncia, de desespero ínclito e mudo

Nas manchas não celestiáveis

De veneno antivida a in-vitaminar os pulmões dos tempos

E o céu continua quase e não mais azul.

Tarde com você, meu coração

Não escrevo na madeira da sala

Para não rabisca-la , por ordem sua.

Escrevo na ladeira de seu coração

Sem rabiscar nosso amor fiel.

Não grito palavras torpes ao seu ouvido

Deixo vir aqui meu gemido tonal à sua alma

Não peço contra a etiqueta da ética

Na certeza de que brutalidades e indelicadezas vão nos macular.

Toco as mãos em palma como quem eleva a prece em alma

Nas cordas do amor da harpa da musicalidade do templo divino.

Decepção

Alguém me liga

Não quer saber se estou bem

Deixa-se antever pela intriga,

Esqueceu que foi minha amiga.

Não falem mal de mim.

Fiquei sabendo coisas assim...

Quem não deve não teme.

As fofocas quais esporos ao ar

São capazes de matar a verdade

Foram diluídas, rápidas e nefastas.

Não há um só em quem confiar.

Parece que o circo fechou as portas.

Parece que o fogo alastrou-se

E as comportas se ruíram...

Parece que o círculo vicioso

Da maldade completou sua sina e quer ferir

Quem quer que seja...

Querem um bode expiatório, compulsório,

Neste território sem ninguém,

Tiradentes, um tolo confesso, todos se calam em pleno júri e processo.

Cumplicidade e silêncio omisso

Às escondidas armam rede

Para apanhar o justo ainda hoje, sem dó neste arredor.

PROFETA

Eis que a voz grita ainda neste deserto

A pá foi colocado à raiz maldita.

Ele pagará por ser profeta.

Anuncia a verdade crua

E não pensa nas conseqüências.

Todo profeta infesta o sistema.

Denuncia a corrupção, fica sozinho na contramão.

Ainda que ele seja ele mesmo imperfeito,

Dá ares de perfeição, a preço de quê?

Sra jogado à vulnerabilidade,

Pegou contra nossa sociedade.

Anátema da marginalidade,

Será mal-visto, sem direito e sem passaporte...

Terá ficha suja e réprobo ao exílio, sem fim.

Não terá ninguém pena dele até aqui.

Esse bando de covardes, assim pensam.

Incomodara os grandes, esse pequeno nome.

Desmascara os intermediários,

Inquieta os acomodados presos no gargalo

Que aceitam a perfídia

Do mundo de conluios...

É a cultura da cumplicidade e da omissão.

E muitos ainda justificam: o mundo será sempre assim!

Quem manda ser o tal!

Que ele pague pelo que fez!

Pois quis ser diferente, moralizar, apareceu demais, mais que nós...

Vamos ver se Deus o tira desta

Enrascada em que se meteu.

E Jesus diz: “Também trataram assim, deste modo,

Os profetas antes de vocês.”

A MODERNA SOLIDÃO

As crianças se refugiam

Nos jogos de mídias e computadores,

Adultos se entediam de rotinas e profissões,

Mulheres vão à luta, cansadas, enfeitam-se em salões,

E resolveram estar em fã-clubes,

Fumando, bebendo, até amanhecer...

Tanto quanto homens,

Não importam se grávidas ou não.

Tanta loucura, fofoca, lamúria, violência,

Que alergia contagiante,

Do mundo em alvoroço.

No almoço,

Não há tempo, é preciso,

Ganhar dinheiro,

Deixe para depois, esse assunto de lar, l

Que coisa enfadonha.

Nada de rezar, quero as vitrines da moda,

Não importa quem passa fome lá fora.

Bocas e olhos vorazes empanturam-se de bolos e achocolatados nos natais,

Enquanto milhares não tem casa, emprego, nem natal em seus quintais.

E guloseimas irresistíveis, vamos ficar diabéticos, obesos, hipertensos.

Não aquentando o tédio e a solidão.

Vamos aproveitar e dançar. Ah, ah, ah!….

PALAVRAS MÁGICAS

Quando acordo, vejo mais pais e conhecidos, digo: _ Bom Dia!

Quando preciso de você, digo sereno: : - Por favor, ajude-me!

Quando você me ajuda, digo, então: - Muito obrigado (a).

Quando vejo algo que você tem, eu nada tiro, apenas digo confiante: - Empresta-me, por gentileza?

Quando à mesa quero o prato de legumes e salada, digo: - Passe-me, por obséquio, este prato?

Quando, na rua, cruzo o olhar aos meus amigos, digo logo surpreso: _ Olá, como vai você, meu amigo?

Se chego atrasado, infelizmente, digo cuidadoso, digo assim: - desculpe-me pelo atraso, posso entrar?

Posso ainda dizer tantas outras boas e mágicas palavras aos outros, durante o dia de acordo com as situações mil.

Posso terminar meu dia,

À noite chegando, dizendo assim:

- Boas Noites! Bênção, pai, mãe, obrigado.

- Obrigado, Jesus, hoje caminhei em sua luz!

- Mais um dia findou, amei, vivi e aprendi...

E pergunto ao meu pai, de repente: (29/11/08)

- Você fez tudo?

- Estudo!

Ele disse:

- Quase tudo!

- E estudava Milagre

- Na mesa de jantar.

TAMBÉM HÃO DE ME SUPORTAR – 30/08/08

Passei a minha imagem

Deixei aqui e ali uma miragem

A todos ficou minha mensagem.

Fui humano demais

Não sabia da virtude

O meu limite.

Então, vi-me entregue

A mim mesmo.

Ao meu canto, só e silente

E perdoei.

Mas agora aqui

Vem à memória

Traços desta vida

Percorri

Tive pena de animais e gente.

“Tive raiva de muita gente.” (Milagre)

Cai na rede do passarinheiro

Ergi prece a Deus primeiro

Denunciei o contraditório

Paguei pelas noites sem sono

Com medo de meu paradeiro.

E todos me suportaram

Suportaram meus defeitos

Riram de minha atividade

Torceram pela minha fatalidade

E eu dei a volta por cima.

Ah, essa tendinite

Olho o crucificado

Aqui deitado

De repente, a dor

No ombro esquerdo.

Eu lerdo e quieto

Vejo o mundo

Vejo o dolorido

Esfrego os olhos

Turvos

Indignado

Com a falta de ética

Com os que tanto lutam

Pelo de cada dia

Sem que eles consigam

O valor que merecem

Na hipócrita sociedade.

Estou, aos poucos, aqui

Cruficado. Olho para meu

Mestre –servo. Eu sou bicho da terra.

De ignota floresta.;

Agora, deixei a pomba no céu.

Ferida, ela está na sobra do chão.

Prove o contrário.

Todo mundo

É bom.

Ou quase bom

Se não sofresse

Do pecado original.

E dizem

Que eu devo ser original

No capitalismo

Ocidental.

No nosso cristianismo

Superficial.

Todo mundo

É quase mal

Ou mal

Ou bem mal

Até que prove o contrário.

E a estrada de mão dupla

Nos insufla

A perseguir quem somos

E para onde vamos

Para centímetros

Do campo santo.

Todo mundo e ninguém

Nos reduz e seduz

Muitos de vida dupla

E moral dúbia

São assim

Até que prove o contrário

AORISTO

Eu sou isso

Não sou grego

Nem falo sânscrito

Apenas sou combustão

Um cosmo de químicos

Neurônios acessos

A emocionar.

Sou cisco

No olho do mundo

Do irmão que passa

Ao lado

Uma sombra

Na vida renhida.

Sou preciso

Impreciso

Para mim mesmo

Ainda vou devagar

Já tive pressa

Desgastei minha presa

E trabalho para pagar

Minha despesa.

Com água e sabão

Tenho que limpar-me

De minha sujeira

Sem beira e eira.

Aoristo e idiossincrasias

É um tornar-me

A cada dia

Sem saber para onde

E por que tem que ser

E ter.

Detenho em modos de ser,

Pensar e agir

Cada um vai com seu olho

Fareja seu caminho.

Uns com carinho,

Outros com trilho,

Vão, todos vão,

E são para algo e alguém.

Ninguém se basta

Senão fica preso

A sua pobre casca.

Defino-me na minha indefinição.

Fui folha branca que alguém escreveu.

Fui massa-côsmica que alguém modelou.

Sinto-me à estrada

No devir

No frigir dos ovos e óbulos,

Um caso em aberto,

Uma obra inconclusa,

Uma estrela errante,

Um astro cadente.

Torna-se o que é?

Tonar-se o que quer?

Tornar-se o que buscas?

Torna-se novo.

Torna-se o futuro

Que vislumbra

Planeta a tua semente

Agora

E se não colheres

Ou colherias outro

O que plantaste.

E a vida flui.

E não reflui.

Segue em frente.

E a gente sente

Que parece que

Ainda não chegamos

Somos indefinição

Até a morte.

A morte nossa definição!

OLHAR CANSADO – 14/01/09

Achava certo nadar

Não contracorrente das águas.

Era ilusão!

O tempo fechou

Vejo apenas cinzas.

Não há saída

O povo continua espoliado

Indiferença global.

A roça secou

A minha garganta emudeceu.

Choro! Ergo meu canto de lamento.

Para os ricos, tudo azul,

mas eles ainda estão verdes

e nos amadurecendo à força

e o trabalho é mais uma forca

somos tratados com gado

numerados para o matadouro

não estamos prontos, morremos.

Embora desesperados, ainda

Somos lição de esperança.

Nossa utopia é viver

Um dia num mundo justo.

GRATUIDADE

Quero agradecer tua graça

Que não passa

Em cada amanhecer

Em cada anoitecer

Ele me basta

E penetra além

Desta casca

E pulsa dentro de mim

E ela não me arrasta

E não me afasta nunca

De ti, Senhor.

HIPOCRISIA

Hoje sinto o que sentias

Quando as coisas são arranjadas

E você, fora.

São coisas que lá dentro

Ficam estranhas.

E mexem co nossas entranhas.

E respiro fundo

E junto de mim

Mantenho o silêncio

E observo os homens e os filhos dos homens,

Como ficam nos arranjos

E querem ser atores

E não frios objetos

Deste sistema hipócrita.

ATIRANIA DESTE TRABALHO

Frustram os cartões e relógios de ponto.

São prisões inúteis de medir o tempo.

Foram feitos para os acomodados

Não quero a chefia tirânica

Que persegue e engana com seu olhar

Fútil, fingido e indolente.

Nem aceito seus sequazes

Cuja bajulação esconde o desejo de subir e ter poder.

Para vigiar querem algo mais

E delatar logo.

Amofo todos os que se grudam ao poder

E o querem tão-só.

Querem ser superior aos outros.

Aborreço-me com os elogios

Para massagear egos...

Protesto contra os submissos,

Os que adulam e deixam os chefes

Pisarem só para não se imporem.

Que pena será a vida toda?

Se há autoritarismos, existe quem

Os credita facilmente.

Deixam que algum Tiradentes se apresente!

Sairemos bem disso após

A morte do herói.

Abaixo os tiranos e cúmplices malditos

Que se apipocam e apodrecem os ambientes de trabalho.

ALGUÉM

Alguém está disponível

Alguém procura alguém.

Você precisa de alguém.

Você quer alguém.

Todo mundo deseja na vida alguém.

Mas, paradoxal é ver alguém sem ninguém.

Alguém está só.

Eu sou alguém.

Poderia ter mil possibilidades

Mas vivo uma de cada vez.

Na curva da vida, posso encontrar alguém

Ou este alguém me encontrar.

Vamos procurar?

VENDEDOR DE SONHOS

Somos atores na vida

Aproveitando o dia de cada vez.

Contemplo meu futuro.

Não posso ser marechal.

É urgente conhecer-me

A cada opção para acertar

Evitar a contramão.

Somos apenas frágeis terráqueos

Não dá para viver como Etê.

A vida é o meu palco.

Não dá para ficar fazendo shows.

É caro e cansativo

Por isso, nos bastidores estudo-me.

Se falhar, não desisto do meu sonho.

Eu aqui vivo cada dia de cada vez.

OBAMA

Deus o ajude!

Seu discurso é ambíguo;

porque ser negro ainda é ambigüidade:

servir-se do sistema para vencer

servir o sistema para padecer.

Discursa para agradar gregos e troianos.

Discursa para incutir fé e esperança.

Não nos enganemos

Não é nada fácil ser presidente negro.

Ele sabe que não é super-homem.

E a decadência da potencia

Ainda esconde a prepotência.

O processo foi desencadeado e

Os estilhaços da crise vai nos atingir.

Porque somos ocidentais

E os orientais estão de olho em nós.

Abaixo o capitalismo

E nem aceitamos os fundamentalismos mútuos.

O sistema é duro demais,

Nos mata a cada curva da história

Concentrando dinheiro e poder na mão de poucos.

E o homem fica à margem;

Ainda não sabemos como ficará o centro.

MEUS TEMPOS

Sinto-me oprimido,

Não sou omisso.

Frente questões de meu tempo,

Ainda sabemos tão pouco –

a teoria não resolveu ainda a prática.

As culturas ainda

Vivem tantos paradoxos insustentáveis.

A fome grita em todo planeta.

A natureza humilhada reage violenta

E sua revanche tem proporções esmagadoras.

Os crimes de guerra

Que vergonha

Continuam por todo lado.

Civis e pobres sofrem conseqüências.

Tudo isso me faz pensar e chorar.

Até quando, meu Deus!?

Os juizes e políticos em conluio.

Invertem o jogo do poder com facilidade

Os pequenos vão ao tribunal.

Os ricos e injustos são liberados.

Tanta demagogia deslavada,

Mentem deslavadamente bem.

Sinto-me oprimido,

Vendo e vivendo nesses tempos.

Querem que nos sintamos

Inoperantes,

Impotentes,

Conformados,

Anestesiados com o mal – normal.

Vai meu protesto

E minha atitude a cada dia

Com o trabalho honesto e a favor dos pequenos.

Justiça não declina com corrupção.

Fome não rima com democracia.

E democracia não pode mascarar a tirania.

CHUVA

Ela cai leve e me faz dormir – obrigado, meu Jesus.

Ela cai forte e não deixa dormir o pobre, que pena, meu povo.

Levanto os braços em mutirão para ajudar...

Levanto os olhos para anunciar e denunciar.

O povo não tem casa e há gente correndo risco perto de rios.

Que arte das gotas virem

Fertilizar os campos?

Que desastre dos homens

Desmatando florestas e assoreando rios?

As gotas são milagrosas e perigosas ao mesmo tempo.

Elas alimentam usinas hidrelétricas,

Elas afogam nossos filhos e famílias perdem tudo.

Se continuar assim, a natureza vai exigindo respeito.

Deus perdoa sempre, os homens às vezes,

A natureza nunca!

Mas não nego a primitiva dádiva divina,

As chuvas têm sua musicalidade,

Aos olhos brincam de todo modo,

Aos ouvidos, destilam ritmos e versos cadenciados ou não.

Capte o show da natureza.

RAIOS X DO MILAGRE

Quem lê Sebastião Milagre?

Eu gosto tanto de sua poesia.

É verso engajado – critica sutil à ditadura.

Maduro sofre perdas e crises.

Teve olhar atento à cultura local.

Nome da agenda cotidiana.

Declamava, compunha e defendia nossa gente.

Sofreu, amou e morreu como tanto quis.

Sem Lilia, ele se sentia infeliz.

Tantas poesias lindas

Para dar sentido às labirínticas

Vivencias sociais.

Critico da cultura

Foi fundo em seu mundo.

Nada será igual

Depois de sua partida.

Agora vive do outro lado da vida,

No casamento espiritual.

Amar e refletir foram suas metas

Cujas premissas ficaram retintas

De versos e músicas, preces literárias.

Como é caro para nós

O preço do progresso;

A ética e fé não ficaram em escanteio

Pois vez da poesia seu imortal celeiro.

Deus fez Divinópolis;

E Divinópolis ama Milagre.

ABSURDO

O absurdo das desigualdades

Gritantes

Tem como contrário aparente

O enriquecimento do oligopólio

Surdo,

Que ofende o silenciamento de vozes da multidão empobrecida.

Em janeiro, o cidadão comum

Paga muitos impostos

Enquanto vereadores

Todo ano

Aumentam a bel-prazer

Sua remuneração.

Que vergonha!

Vergonhosa democracia.

E ninguém faz nada

O povo aceita submisso e omisso.

E a maquina viciosa

Continua fabricando

A desigualdade escandalosa do sistema,

Que justifica esse ato.

Pobre continua pobre para rico ficar mais rico.

Precisamos de uma revolução,

Em plena crise mundial,

A economia deveria ser inclusiva.

Não vale mais plantar pobres,

Para ricos ficar dominando tudo.

Até quando?

Protesto, isso está errado!

Amaldiçoo esse sistema cruel

E enganador.

Tudo que tem início tem fim.

Tomara que chegue logo esse fim.

Ouvi de Reginaldo Moreira

Isso que me chamou a atenção:

- - Gosto de tudo, um pouco!

De nada, muito.

Gosto de cada coisa em seu lugar.

O problema é que nem tudo tem seu lugar.

A gente tem o trabalho de arranjar lugar para coisas fora de lugar.

Há discursos fora de lugar como há pessoas fora de seu lugar.

Cabe a ela descobrir seu lugar no mundo.

Fernando Pessoa aconselhava:

- - Que nada em ti exceda ou exclua,

Seja inteiro no que fazes como a Lua Alta

Brilha em cada lago inteiramente.