FILHOS DE ALAÍDE E ANTÔNIO LOBO.

A família é um núcleo de convivência, unido por laços afetivos, que costuma compartilhar o mesmo teto. Pelo menos é a definição jurídica que conhecemos. Mas para efeitos sociais, a família é e será, sempre, a base e fundamento da sociedade. Parte dos problemas das pessoas começa na família, ou pela falta dela. Família é constituída por relações de amor e está na origem de tudo.

A família é um veículo de transmissão de valores e, como todas, possuem suas particularidades, desenvolvendo formas de se relacionar diferente. Ao analisar as famílias, vemos como cada uma se comporta e, com certeza, não são iguais uma das outras. - Penso que todos nós tivemos ou temos a impressão que a família dos outros, é sempre melhor que a nossa.

É bem verdade que se existe uma coisa na vida que não podemos escolher é a família em que nascemos. - Essa é uma daquelas heranças que recebemos sem pedir... Exceto quando é chegada a hora de escolhermos o cônjuge. Mesmo assim, neste momento, não estamos elegendo tão somente, alguém para amarmos e partilhar a vida conosco. Junto com o cônjuge, formaremos uma nova família. Nesta formação, no entanto, se faz mais que necessário usar da sacrossanta sabedoria para obter uma convivência harmoniosa.

Com a dinâmica do mundo moderno, de bom alvitre será, portanto, conviver com as diferenças e aceitar o padrão individual das pessoas, às vezes diferentes, mas nem sempre errantes. Não existe família ideal, e sim família real. Uma família real não é perfeita e uma família perfeita não é real. Portanto, aceitar a individualidade de cada um é a base do elo. Nós por exemplo, somos, em tese, um conjunto de pessoas que nos defendemos em bloco e nos atacamos em particular. – Se nos falta a perfeição familiar, as vezes motivada por “picuinhas” domésticas, sem nenhuma conseqüência, mas, em contra partida, nos farta de cuidado e preocupação, um para com o outro. Isso nos remete ao cume da grandeza familiar comparada as inúmeras famílias que conhecemos. E para ampliar e melhorar essa felicidade familiar, necessário se faz, pois, que reconheçamos os nossos defeitos, nossos desajustes e, sobretudo, as nossas limitações, porque nem mesmo a Bíblia Sagrada nos mostra famílias imaculadas e sem defeitos. Então vejamos:

Na família de Adão e Eva houve muito dissabor; a família de Abraão e Sarah teve sérios problemas, envolvendo conspirações e mentiras; a irmã de Moisés o recriminou por ele ter-se casado com uma negra; Davi teve problemas de fidelidade conjugal e seus filhos, eram tão problemáticos a ponto de um deles querer lhe tomar o trono de Israel. Jacó enganou o pai e o seu irmão Esaú, com a aquiescência da sua mãe Rebeca. Nem mesmo a família de Jesus fugiu a regra; sua mãe e seus irmãos, em determinado momento, queriam interferir na sua agenda...

Contudo, nestes tempos em que tudo e todos exigem eficiência, coerência e firmeza, é um bálsamo saber que, com os irmãos, podemos ser inseguros, indecisos, carentes, mal-humorados ou excitados em excesso. Nestes tempos de valores tão distorcidos e efêmeros, é um conforto saber que podemos contar com os irmãos para as coisas fora do nosso alcance e comprovar a máxima: O pior parente é melhor que o melhor amigo. O parente se reconcilia com facilidade; o amigo leva para o túmulo o rancor.

Os parentes são devotados á voluntariedade; a reciprocidade é o elemento preponderante da sua existência. Quando o nosso “Castelo” desaba e a estrutura danifica, ninguém melhor que o irmão ou irmã para nos acompanhar madrugada adentro, para ouvir os nossos queixumes e nos afastar do pesadelo da solidão, da tristeza e da angústia.

Deus, em sua infinita sabedoria, criou a família, para que os seres humanos tivessem um lugar de apoio, de encorajamento mútuo e consolo nas horas difíceis. Enfim, um espaço par rir, chorar, sonhar e buscar a harmonia. A família é um presente que na qual, não existe devolução ou troca. Família é pra toda a vida!

Amor e ódio, às vezes, também, andam juntos no núcleo familiar. O amor e o ódio são irmãos; sendo o ódio um irmão bastardo. E para o ódio ser vencido pelo amor, não basta a vontade e a determinação; necessário se faz, contudo, respeitar as diferenças, desarmar os espíritos e se perdoarem...

Um Jesuíta francês, quando solicitado para apaziguar um conflito familiar disse o seguinte: “Os homens não poderão viver juntos se não se perdoarem sempre”. Estas palavras tornam-se ainda mais verdadeiras quando refletimos sobre a convivência com os mais próximos: irmãos e cônjuges; pois os relacionamentos são muito frágeis e vulneráveis, rodeados por freqüentes conflitos. Todos nós precisamos de um grande cemitério onde deveremos sepultar as nossas culpas. A vitória das famílias não acontece naturalmente com o tempo; é algo que requer da nossa parte muito investimento, humildade para reconhecer que somos limitados, que erramos, e muita disposição para aprender.

Ontem, éramos todos adolescentes e jovens. Hoje, dos dez filhos vivos de Alaide e Antonio Lobo, sete já estão tutelados pela Lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Os tres restantes, Sara, Cesar e Tonha, já carregam em suas algebeiras, mais de meio século de vida e experiência. - Como podemos ver, teremos menos tempo para viver daqui para frente do que já vivemos até agora. Temos muito mais passado do que futuro.

Olhemos, então, para trás com gratidão e para frente com muita fé e esperança! Este encontro servirá para lembrar o que nos resta e celebrar o presente com muita alegria, sem nenhuma pressa... O “HOJE” para nós é de vital importância. Levantemos, então, um brinde à vida; fortifiquemos de boas lembranças para reestruturarmos um novo dia e esperançar... Vamos tomar consciência do que somos hoje, sem nos preocuparmos com o que se foi ou será.

Embora tenhamos todos, uma cabeça jovem e atual, sentimos falta, sem dúvida, da energia dos 30 anos para fazer frente ao pensamento moderno. Certifiquemos, então, que uma série de decisões não poderá esperar mais. Essa idade tão fugaz nas nossas vidas chama-se “PRESENTE” e tem a duração do instante que passa...

Estamos envelhecendo, é verdade. A velhice é um processo pessoal, natural, indiscutível e inevitável, para qualquer ser humano, na evolução da vida. Fiquemos cônscios, então, que temos que aceitar as mudanças biológicas, fisiológicas e econômicas que compõe o nosso cotidiano. - Contudo, busquemos envelhecermos com dignidade e, sobretudo com sabedoria. A idade mais bela não é a jovem ou adolescente. A mais bela idade é aquela em que estamos vivos e vivendo, sobretudo com simplicidade.

Pode ser um tanto redundante falar conceitualmente sobre simplificar a vida. No entanto, quando saímos da abstração, vemos que o processo não requer nada mais do que alguns passos firmes na direção de uma vida mais afinada com aquilo em que acreditamos. Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.

É de bom alvitre, contudo, conscientizarmos de que muito pouco aprendemos, e, quase nada sabemos da vida para afirmamos o que é certo ou errado. Talvez, quem sabe, a gente ignorando todos os modelos que usamos até aqui, como correto e eficaz, possamos dar um norte, doravante, para outra direção distinta da que sempre usamos. Já vimos que em nada resulta imprimir uma velocidade excessiva no trabalho buscando reconhecimento, porque a morte é certa e não nos avisa quando quer a nossa presença para responder expediente em outra dimensão.

Se olharmos de longe, uma Favela, embora com todas as dificuldades e ausência do básico, veremos que para aquele povo, falta tudo, menos a alegria para viver a vida, a propósito de todos os obstáculos. Aquela gente nunca pára de sorrir, cantar e dançar. - Porque será? O que eles têm de especial, capaz de transformar a dor e o sofrimento em um poema cadenciado? - O compasso rítmico que forma essa cadência de harmonia, é o compasso da IGUALDADE. Entre eles todos são iguais, não existe competição e sim cooperação. – Quão inteligentes são esses homens, que adquiriram um coração sábio... Eles acumularam o que não se corrompe e descartaram o que muda ao longo dos tempos.

A felicidade consiste em ser o que se é. Conhecer e respeitar aquilo que somos, pode ser um caminho saudável para a existência. - Distante de padrões estipulados socialmente, longe da hipocrisia social que exige a anulação do que se é, como forma de ser, podemos valorizar tudo o que produz vida em nós. - Existem duas maneiras de alcançar a felicidade: possuindo mais ou desejando menos. Entretanto, a idéia central é não levar tudo muito a sério... “A felicidade não é um destino, mas um modo de viajar”. Precisamos nos profissionalizar como viajantes; termos comportamento despojado, carregarmos mochilas mais leves, contendo o necessário para essa viagem e embarcarmos na locomotiva dos sonhos. Sem sonhos, os monstros que nos assediam, nos encontrarão.

Pensamos que somos felizardos quando podemos satisfazer nossos desejos, mas, no momento em que piscamos os olhos, esses desejos se tornam necessidades. O que antes era opcional se torna essencial. “Quem acumula fardo para carregar é porque não teve tempo para usar”. - Leveza é a palavra-chave. Não quero dizer que todos devemos abrir um sorriso permanente e começar a achar bom tudo o que nos acontece. - Leveza significa entender que até as melhores sensações têm fim, assim como não há tristeza que dure para sempre. Devemos atentar para a diferença entre "ser feliz" e "estar feliz". Um jeito garantido de ser feliz é se preocupar menos com a felicidade...

O tempo urge e nos convida a refletir sobre as nossas idades. Encontro como este deve ser promovido sempre e com mais freqüência antes que seja tarde demais... Tempo é uma questão de preferência; logo não podemos nos queixar da falta de tempo. Nenhuns de nós têm filhos menores; todos nós sacrificamos ao máximo para lhes darem tudo o que não tivemos dos nossos pais, e, de forma positiva, nós os preparamos para vida. Nossas casas já foram por demais arrumadas; o que podíamos construir de patrimônio já construímos. Já fizemos de tudo por todos. Portanto, não podemos jamais esquecer que doravante, o nosso maior patrimônio é o resta de dias que ainda temos para viver. Temos que viver o HOJE como se fosse morrer a manhã, porque só existem duas idades: A idade dos vivos e a idade dos mortos. A dos vivos é para ser vivida; a dos mortos para ser lembrada... Mas somente os vivos lembrarão os mortos. Então, vamos lembrar de VIVER bem, enquanto vivos, porque depois de mortos os vivos nos lembrarão...

A Locomotiva do prazer está partindo, agora, desta Estação. Vamos pegar a carona no vagão da alegria e desembarcar na Estação do Bem Viver, que à felicidade nos espera. Não vamos esperar que cheguem as circunstâncias ideais, nem melhor ocasião para atuar, porque talvez não chegue nunca. Cada momento que passa é único, e é a única realidade palpável em nossas existências. A vida bem vivida é aquela que se sobrepõe a morte. A nossa vida muda, quando nós mudamos. Nós somos o que queremos ser. Então, ninguém poderá nos trazer a felicidade, se não nós mesmo. E, se faltar-lhes motivação e exemplo, eu vos lembro: Durante toda a sua existência, ninguém jamais viu ALAÍDE LOBO triste ou infeliz. Ela viveu intensamente, a propósito das intempéries e das dificuldades por nós conhecidas, e nunca se apresentou a nenhum de nós, com queixumes ou desalento. No dizer de D. Helder Câmara, ela era como “cana”; mesmo posta na moenda, reduzida a bagaço, só sabia dar doçura... Ela era uma mulher sábia; pouco estudou, tampouco leu livros de auto-ajuda, para entender que a alegria é a transportadora da felicidade. Lembrando dela, nesse instante, vamos embarcar no Trem da Vida e dar Graças a Deus.

Fim.

Manoel Rocha Lobo
Enviado por Manoel Rocha Lobo em 08/08/2012
Reeditado em 20/09/2021
Código do texto: T3820855
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