nunca sei o que quis dizer

É tudo sobre as noites. Ou hoje à noite. Eu não sei, eu não sei se você notou, mas a maioria das canções dizem “somente hoje à noite”. É como se você só tivesse uma chance, sabe? Mas você tem ela trezentos e sessenta e cinco vezes por ano. É estranho de explicar, principalmente quando eu tô olhando pra tela do computador esperando que alguém entenda. Só uma pessoa, vai. Eu sei que você consegue. Então, é tudo sobre ter uma chance e ter ela várias vezes. Difícil, com o tempo você começa a perceber algumas diferenças. Como quando eu aprendi a diferença de adorar e amar, de odiar e não gostar, de entender e perceber, sentir falta e sentir saudade. Adorar é contemplação, amar é a porta bater de repente e você culpar o vento sabendo, no fundo, que foi alguma pessoa que penso em você naquele instante, mudou o ar de tudo e fez com que a porta batesse pra você perceber. Odiar é o ‘d’ da palavra cortando a boca, não gostar é indiferença. Entender é procurar, perceber é ser procurado. Sentir falta é rotina, saudade é sentimento. Viu? É tudo sobre as noites serem únicas e aparecerem sempre. Uma vez uma amiga minha me disse que eu me escondia dentro de coisas que sempre aparecem. Eu penso, penso no que pode ser. Sempre caio em noites, eu sempre caio em opções da prova de biologia que nunca são as certas. Ou então caio nas vezes que não sabia que a prova de biologia tinha sete páginas quando eu só vi seis. É isso, é ser notado antes do amanhecer. Como se você esperasse o tempo inteiro - na verdade, somente naquela hora do escuro - que as coisas não precisam do Sol pra ficarem claras. Sabe, o escuro da noite vai mais do que se vê. É sobre não saber se as coisas tem outra forma quando você não tá vendo. Se a sua avó, na verdade, é a sua tia que quis ser de alguma forma louca de ser sua mãe também. Mas já existe a sua mãe então ela quis ser o mais próximo. É isso, é tentar ficar próximo do que não existe, do que não pode de jeito nenhum acontecer. Eu sei que tá ficando complicado explicar o que tem de demais nisso, mas eu vou tentar explicar. Quando você pega uma caneca e coloca café lá dentro, a luz não bate e faz uns círculos estranhos na superfície do café? Sério, acho que só eu que vejo essas coisas. Mas tenta notar, tentar notar como é complicado explicar algo que eu nem sei direito e tô inventando pra tampar os buracos. É tudo sobre você não saber se aquilo vai estar ali quando não tiver luz; quero dizer, por que tudo tem que ser culpa de alguém? Por que quando o médico te operou, não deu certo e você morreu, ele é o culpado? Tem coisas que vão ser e não importa o que aconteça no caminho, elas vão ser mesmo assim. Deixa pra lá. Acho que é sobre o amanhecer, como ele nos traz esperanças fodidas de como o dia vai ser e nunca será. E à noite a gente não percebe as coisas ruins porque tá escuro demais pra ver. Pra se ver.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 10/07/2012
Código do texto: T3770495
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