PRÓLOGO Juventude Utópica, de André Rocha ( Por Sebastião Bemfica Milagre )

"À juventude que carrega sobre os ombros o peso da incógnita sobre o verdadeiro objetivo da vida." "A juventude é um leão de asas que voa, em vão, sobre os homens irradiando sabedoria! Onde já se viu, voar urrando em sua loucura enquanto todos os animais rastejam, como vermes, em silêncio?"

PRÓLOGO Juventude Utópica, de André Rocha

( Por Sebastião Bemfica Milagre )

Sempre que desponta um novo dia, há uma esperança. A luz desce dos montes e vai atingindo as grotas mais inóspitas. De repente, tudo é dia, calor, vida, dinamismo. Também quando um poeta desponta do iné dito, há uma esperança. É o caso de André Rocha, que está sendo impresso, pela primeira vez, em livro. Só que, aqui, não se configura mais o sentido de esperança, porque o autor demonstra, em seu trabalho poético, ser possuidor do instrumental que define o começo de uma obra destinada a se concretizar através do tempo. Antenas para receber o recado poético, agudo veio de prospecção dos temas, auto-crítica, contenção do supérfluo (ainda que se extravase no momento necessário), alto sentimento do humano, garra e nada de receios.

Estou me lembrando de ter lido sobre Augusto dos Anjos, que, vindo da Paraíba, rodava pelas ruas do Rio de Janeiro, sobraçando a preciosa carga dos originais do EU, à procura de editor. O primeiro livro é sempre um sonho, e disso não conseguiu André Rocha safar-se, à partir do título designativo de sua (e de outrem) juventude . Utopia é o país do Sonho, utópico é o irrealizável. Mas isso é natural acontecer, porqu e o jovem, por muito à frente que se encontre, suspeita não haver lugar para ele, principalmente no seio de escritores. Suspeita apenas, porque, na verdade, não há autor, já por vezes editado, que não tenha sido iniciante.

Acho muito importante quando um moço teima em publicar suas obras. Dou-lhe os parabéns. E, de minha parte, como alguém que, há anos, vem se dedicando à literatura em Divinópolis, convido André Rocha para sentar-se à mesa da poesia, abrir sua linguagem e assumir o cargo que lhe cabe neste momento histórico em que, como nunca, está sendo valorizado (não no sentido monetário) o artesanato do artista-escritor.

Não vou me alongar no vão trabalho que seria o de esmiuçar os poemas de Juventude Utópica; deixo este prazer ao próprio leitor que, a cada página, poderá tirar a mensagem que souber encontrar no subjetivismo dos textos. O autor, ou eu, diante de qualquer interrogativa do leitor de repetir, tão somente, a atitude de B eethoven que, quando interpelado, por uma ouvinte, a respeito do que significava aquela sonata, sentou-se, mudo, de novo, ao piano, e reexecutou a obra.

Divinópolis , outubro de 1986

Sebastião Bemfica Milagre

Para Nietzsche:

O maior dos meus elementos

É ser um degrau...

Muitos humanos já me galgaram, porém,

Conservo-me superior por fazer

Parte da escada das ascensões.

ÍNDICE da obra - veja, no Google, Sebastião Bemfica Milagre e o livro acima em que aparece a introdução desse poeta.