BARBARIDADE VERSUS PERPLEXIDADE
"Se não ecoa o meu gemido,
aqui eu tento mais um grito!"
(Maria Virginia)
Nestes últimos tempos, tenho parado para pensar naquelas definições teológicas de céu e de inferno.
Não sei se céu existe, mas começo a acreditar que o inferno começa a se delinear na sociedade em que vivemos.
Não estaríamos no inferno mesmo?
Mais uma vez, nós brasileiros somos assombrados, isto mesmo!- assombrados com o fantasma da violência incontida, na ocorrência de mais um crime bárbaro.
Um fantasma de cara feia e de poderes ilimitados!
Confesso que ontem, ao ver a reportagem pela mídia televisiva, tive vontade de engolir um sedativo para poder aqui me manifestar.
E me manifesto como brasileira, como mãe, como gente!
Como gente com medo, e que apesar de tudo, das tão freqüentes barbáries que temos presenciado, ainda não se congelou frente à banalidade com que a violência é enfrentada nos nossos dias.
Mas se não estamos no inferno, com certeza retrocedemos à idade média.
Uma criança de seis anos, arrastada por sete quilômetros presa pelo lado de fora dum automóvel, supera todos os shows de gladiadores, que ocorriam naquela época da História.
Sim, somos animais.Hoje, nosso comportamento dispensaria esta confirmação da ciência.
Somos tão somente bichos racionais,animais sem rumo, cujo instinto entorpecido pela droga , pela insanidade, pela miséria, pela desinformação, pela corrupção,pela deterioração dos valores...mata na inconsciência do consciente.
Somos todos culpados!
Culpados por sustentar uma sociedade que não se mexe, paralisada frente ao exercício de cidadania, que não se manifesta, que não encontra os caminhos, que não exige das autoridades civis e judiciárias, medidas e reformulações extraordinárias para a contenção desta guerra civil que assola as grandes cidades.
Hoje a mídia noticia...todos se indignam, a sociedade chora.
Destarte, o sentimento de indignação vai se diluindo até que nos choquemos com outra barbaridade.
E assim vamos, caminhando desnorteados, a mercê da sorte, até que uma bala perdida nos atinja!
Mas discutir a quem cabe a culpa, pouco nos importa neste momento.
A sociedade urge por soluções.
Soluções emergênciais, que se façam notar pela rapidez e eficiência.
Isto seria possível? Temo que perdemos a hora!
Soluções infraestruturais, que coloque o ser humano na condição digna de gente, para que se reconheça como tal ao olhar o seu semelhante!
Sinto que chegamos ao fundo do poço sim!
E é bom que se diga...o buraco é mais embaixo!
Somos reféns de nós mesmos. Dos nossos erros, das nossas omissões, do nosso egoísmo,dos nossos olhos fechados!
Daquela noção errônea de que a violência atingiu apenas “o vizinho”!
Não! Infelizmente ela está batendo em todas as portas!
A situação está insustentável, e talvez demore tanto a se resolver quanto paulatinamente demorou para se estabelecer.
Estamos doentes...muito doentes.
E pressinto que não há remédios que controlem a infiltração e disseminação das células malignas da violência, estimuladas pela impunidade, e que zombam do esforço das demais, que perplexas e oprimidas, agonizam sem perspectivas.
SP, 08/02/2007
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O ÚLTIMO RESGATE
SP,26-10-2004
Silenciam-se as vozes...
para que se ouça a explosão das granadas!
Os tempos chegaram.
Sob o eclipse do sol,o céu entristece
e lacrimeja estrelas cadentes.
A poesia emudece estupefata por falta de inspiração.
Os tempos chegaram.
Ecos de sofrimento racham a camada de ozônio,
e a atmosfera se contamina.
A chuva é ácida.
A terra estéril, não mais sacia a fome.
A água é de colorido ocre, de odor fétido, de sabor amargo.
Os tempos chegaram.
O império é da mediocridade!
A violência espreita em cada esquina.
Mãos se desenlaçam, rompem-se as famílias, o amigo atraiçoa.
As virtudes são perseguidas!
Falta-nos o fôlego,o sorriso, o abraço.
Sucumbe o amor.
Cai a última gota de sangue desbotado...
sob o último grito de dor.
Resta-nos apenas um nó na garganta...
e um vazio na alma.
Os tempos chegaram...
E temo que não haja mais tempo.
A esperança é fugitiva!
Mas eu a resgato em cada olhar de desespero
que clama por um mundo melhor.
(Maria Virginia)