Vou mudar.
Vou mudar
Não quero mais bruxas em meu caminho,
agora só o sortilégio do bom destino,
um agouro mais seguro, um porto de mais sorte.
Desviarei das ninfas cabeludas,
daquelas postas em armadilha,
de procedência duvidosa, surgidas na esquina.
Correrei das enganadoras,
de olhar profundo, sutil, de viés, farsantes.
Não corro mais o risco da palavra.
Vou desconfiar da confiança oferecida,
das confiadas,
daquelas que abrem a guarda para o coração,
que detestam desafios justos,
que desafiam o ponderado dado, oferecido,
que desconsideram seus dias,
como se dias tivessem,
não tem,
não terão.
E virão.
Então não estarei,
não abrirei a porta,
e a queda será profunda,
cairá sem bater no chão,
vai implorar o chão,
que não existe,
acabará por desespero...
De todas uma há que não engana.
A outra corta como um fio,
corta até os limites da alma,
fio de guilhotina,
chavasca del diablo,
que dói, que doeu, não dói mais...
Dôr de uma alma desenganada,
um espirito mal-fadado,
queixas vãs, agora. Queixe-se ao diabo.
Da dôr lembrará, nas contrações vai delirar,
quererá o que já quis,
já não poderá,
perderá, já perdeu há muito,
teu grito vai irritar as sombras,
que te engolirão,
te parecerá a morte,
não será, seria um alívio.
De todas, uma há que não engana,
porque é fino o tato da alma,
é superior e bela,
sua beleza Deus fez para dourar luas e estrelas,
as estrelas a beijam.
A Lua sobre ela chove,
de perfumes, de cheiros,
de encantamentos,
encantos que não matam, não confundem,
encantam.
Sua alma é um hino,
o Sol não lhe machuca, só lhe faz mais bela,
o Sol é para ela.
Os anjos colhem seu amém,
da doçura de sua boca,
dão pétalas frescas ao caminho,
só anda por caminhos de sóis.
Ternura é seu nome, delicadeza a sua marca,
Seu Espirito é um beijo,
beijo não machuca,
o Sol não lhe machuca, só lhe faz mais bela,
o Sol é só dela.
Fugirei das bruxas,vou fazer pactos contra elas,
artimanhas será o pouco,
desgraça fará cócegas ao horrendo.
Vou mudar,
vou buscar,
provocar, ver no que dá.
Quando chegar eu corro,
espreitarei com minha vaga dignidade...
Quase nada me sobrou, um sorriso me fará Rei.
Sei que não terei, como quase nada tenho,
sei que não terei...
O que quero é um pouco ter,
de posse nada.
De posses e de suas faltas me arrasei,
tempos atrás,
pus tudo fora, o que era para mim se foi.
Quando muito me davas,
até teu coração se enganava,
mal sabias que tinha medo, eu.
Do que pensavas,
do que eu não tinha,
do quanto me faltava,
para te ver,
quiçá de te ter,
eu não tinha nada, tudo me faltava, um dia saberás.
Vou mudar,
se buscas não me adiantarem, vou fazer coleções.
Não de fotos, nem de sentimentos, nem lembranças nem esperanças.
Já não desdenho mais dos demônios, eles estão ao lado,
também me querem para escravo,
também me buscam para os dias definitivos.
O tempo é de assentar, mesmo em estruturas fracas,
que não são falsas, Deus sabe que não são.
É tempo de aparar, de cortar excessos,
é tempo de eficiências.
Vou mudar,
vou dar um up na existência,
vou fazer coleções de vinhos e champagnes,
será ótimo investimento.
Um judeu sabe às vezes o que faz.
Vou preparar tudo para depois.
Trarei vinhos tintos, secos e meio-secos,
brancos e espumantes charmosos,
comprarei taças e tulipas,
tudo catalogarei,
espanarei as garrafas todo mês,
com cuidado, carinho e atenção.
Quando o depois chegar vou degustá-los,
em temperatura e ambiente certos, musicados,
num Outono ou numa Primavera.
Será mais um novo tempo.
Talvez um novo tempo de mudar.
teobaldomesquita@uol.com.br