O Mago Merlin.
“... o mito designa ..., uma “história verdadeira” e, ademais, extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo.” (Eliade: 1998, 7).
“... o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais., uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição.”(Eliade: 1998, 11).
O Mito de Merlin pode ser estudado a partir de varias perspectivas: Histórica, literária, antropológica, etc. Desde a Baixa Idade Media vemos menções a Merlin, nos poemas medievais, nos contos arturianos e nas lendas de Avalon, ecoando através das brumas do tempo...
Para muitos(como eu) Merlin, assim como Morgana, é um arquétipo; entretanto- mito ou não, Merlin é parte da historia da Bretanha, representando pra uns a resistência da velha religião durante a tomada do cristianismo, para outros a batalha entre a razão e a ciência. Sendo assim Merlin é um dos seres mais enigmáticos que existiu, onde até hoje ninguém sabe se ele existiu mesmo ou se é apenas uma Lenda, o que se sabe são apenas fragmentos sobre ele, e estórias confusas, na qual não se consegue definir a sua identidade. Tendo momentos de total lucidez como um sábio (como o de aconselhar Arthur como reinar em perfeita harmonia e a de falar com os elementais) e outras como a de uma pessoa que deixou-se ser enganado pelo sentimento deixando de lado a razão,como o de ter se apaixonado por Morgana/Niniane/Nimue/Viviane e ensinado a ela a sua arte. Isto faz com que ele seja tão enigmático e carismático ao mesmo tempo, onde até hoje quando se fala logo em mago, feiticeiro ou druida, vem na cabeça Merlin.
Analisando o Mito de Merlin:
Os primeiros registros existentes onde consta Merlin (Armes Prydein, Y Gododdin) são do começo do século 10, nele consta que Merlin era um mero profeta, mas o papel dele foi evoluindo gradualmente como mago, profeta e conselheiro, ativo em todas as fases da administração do reinado do Rei Arthur. Ele foi aparentemente chamado ao nascer com o nome de Emrys num local chamado Caer-Fyrddin (Carmarthen). Só depois ele tornou-se conhecido como Merlin, uma versão latinizada da palavra gaulesa, Myrddin.
Merlin era o filho bastardo da Princesa Real de Dyfed. Porém, o Rei, pai da princesa, Meurig ap Maredydd ap Rhain, não é encontrado nas genealogias tradicionais deste reino e provavelmente era um sub-rei da região que limita Ceredigion. O pai de Merlin, é dito, era um anjo que tinha visitado a Princesa Real e tinha a deixado com a criança. Os inimigos de Merlin diziam que o pai dele era um incubus, um espírito mau que tem relacionamento com mulheres enquanto dorme. As pessoas suspeitavam que a criança "diabólica" (Merlin) veio para ser um contra peso à boa influência que Jesus Cristo teve na terra. Merlin, felizmente, foi batizado cedo em vida, é contado que este evento negou o mal na natureza dele, mas os poderes do lado esquerdos ficaram intactos nele. A história original foi inventada para salvar a mãe dele do escândalo que teria acontecido presumivelmente a ligação dela com Morfyn Frych (o Sardento), Príncipe secundário da Casa de Coel, ato de conhecimento público.
A lenda nos conta que a retirada romana da Inglaterra e a usurpação do trono dos herdeiros legítimos, fez com que Vortigern fugisse da saxônia e fosse para Snowdonia, em Gales, na esperanças de construir uma fortaleza em uma montanha em Dinas Emrys onde ele poderia estar seguro. Infelizmente, a construção vivia desmoronando e os feiticeiros da casa de Vortigern lhe falaram que um sacrifício de uma criança órfã resolveria o problema. Uma pequena dificuldade foi isto pois aquelas tais crianças eram bastante difíceis de serem encontradas. Felizmente para a fortaleza de Vortigern, Merlin era conhecido por não ter nenhum pai humano e o disponibilizaram.
Antes que o sacrifício pudesse acontecer, Merlin usou os grandes poderes visionários dele e atribuiu o problema estrutural a uma piscina subterrânea no qual viveu um dragão vermelho e um dragão branco. O significado disto, de acordo com Merlin, era que o dragão vermelho representou os Bretões, e o dragão branco, os Saxões. Os dragões lutaram, dragão branco levou a melhor, no princípio, entretanto o dragão vermelho empurrou o branco para trás. O significado estava claro. Merlin profetizou que Vortigern seria morto e o trono seria tomado por Ambrosius Aurelianus, depois Uther, depois o grande líder, Arthur. Caberia a ele empurrar os Saxões para trás.
De acordo com a profecia, Vortigern foi morto e Ambrosius tomou o trono. Depois, Merlin parece ter herdado o pequeno reino do avô dele, mas abandonou as terras dele em favor da vida mais misteriosa para a qual ele se tornou tão bem conhecido (a vida druídica). Depois que 460 nobres britânicos foram massacrados na conferência de paz, como resultado do artifício saxônio, Ambrosius consultou Merlin sobre erguer um marco comemorativo a eles. Merlin, junto com Uther, levou uma expedição para a Irlanda para obter as pedras do Chorea Gigantum, o Anel do Gigante. Merlin, pelo uso dos poderes extraordinários dele, devolveu as pedras para um local, um pouco a ocidente de Amesbury, e os reergueu ao redor da sepultura da massa dos nobres britânicos. Nós chamamos este lugar Stonehenge.
Após a sua morte, Ambrosius teve como sucessor o seu irmão, Uther, quem, durante a perseguição dele a Gorlois, conheceu a esposa irresistível de Gorlois, Igraine (Ygerna ou Eigr em alguns textos), Uther voltou para as terras em Cornwall, onde foi pedir para Merlin ajuda-lo a possuir Igraine, e para Merlin ajuda-lo, Uther teve que fazer um trato com Merlin de que a criança que nascesse da união de Uther com Igraine fosse dada a Merlin para ele se torna o tutor da criança, Uther aceitou e foi ajudado por Merlin que o transformou na imagem de Gorlois. Uther entrou no castelo de Gorlois e conseguiu enganar Igraine a pensar que ele era o marido dela, e engravidou-a, concebendo ela uma criança, Arthur. Gorlois, no entanto não sabendo no que iria acontecer, saiu para encontrar-se com Uther no combate, mas ao invés, foi morto pelas tropas de Uther, enquanto Uther se passava por Gorlois.
Depois do nascimento de Arthur, Merlin se tornou o tutor do jovem menino, enquanto ele crescia com o seu pai adotivo, Senhor Ector (pseudônimo Cynyr Ceinfarfog). No momento definindo da carreira de Arthur, Merlin organizou uma competição da espada-na-pedra (a espada era Caliburnius e não a Excalibur, Excalibur veio após Arthur quebrar Caliburnius) pela qual o rapaz se tornou o rei. Depois, o mago conheceu a mística Dama do Lago na Fonte de Barenton (na Bretanha) e a persuadiu a presentear o Rei com a espada mágica, Excalibur. Nos romances, Merlin foi o criador da Távola Redonda, e esta sempre ajudando e dirigindo os eventos do rei e do reino Camelot. Ele é pintado por Geoffrey de Monmouth, ao término da vida de Arthur, acompanhando Arthur ferido para a Ilha de Avalon para a curar das feridas dele. Outros contam como tendo se apaixonado profundamente por Morgana, a meia irmã de Arthur, e ele concordou em lhe ensinar todos seus poderes místicos. Ela ficou tão poderosa que as habilidades mágicas dela "excederam" às de Merlin. Determinou que não seria escravizada por ele, e prendeu-o em um calabouço, uma caverna semelhantemente a uma prisão. Assim a ausência dele na Batalha de Camlann era no final das contas responsável pelo falecimento de Arthur.
É dito que a prisão e/ou o local onde ele está enterrado está em baixo do Montículo de Merlin na Faculdade de Marlborough em Marlborough (Wiltshire), a Drumelzier em Tweeddale (a Escócia), Bryn Myrddin (a Colina de Merlin) perto de Carmarthen (Gales), Le de Tombeau Merlin (a Tumba de Merlin) perto de Paimpont (Brittany) e Ynys Enlli (Ilha de Bardsey) fora a Península de Lleyn (Gales).
Esta é a Lenda de Merlin mas conhecida, tendo outras que diziam que ele era um louco que tinha o dom de prever as coisas que iriam acontecer e que vivia nas florestas como um selvagem. Sendo assim Merlin é um dos seres mais enigmáticos que existiu, onde até hoje ninguém sabe se ele existiu mesmo ou se é apenas uma Lenda, o que se sabe são apenas fragmentos sobre ele, e estórias confusas, na qual não se consegue definir a sua identidade. Tendo momentos de total lucidez como um sábio (como o de aconselhar Arthur como reinar em perfeita harmonia e a de falar com os elementais) e outras como a de uma pessoa que deixou-se ser enganado pelo sentimento deixando de lado a razão (como o de ter se apaixonado por Morgana e ensinado a ela a sua arte). Isto faz com que ele seja tão enigmático e carismático ao mesmo tempo, onde até hoje quando se fala logo em mago, vem na cabeça Merlin.
Outra versão para o Mito de Merlin:
Merlin, filho amaldiçoado de Cerridwen.
Há muito tempo atrás, na região hoje conhecida como o País de Gales, vivia a Deusa Cerridwen. Cerridwen tinha dois filhos. Uma filha de nome Creirwy, que era a criatura mais linda e adorável do mundo, e um filho chamado Afagddu que era extremamente feio e estúpido, e cuja aparência causava ânsias em qualquer um que o visse. Visando melhorar a vida de Afagddu, sua mãe resolveu preparar para ele uma poção chamada a "Poção da Inspiração e Conhecimento", que lhe daria todo o conhecimento místico e profano do mundo. Durante a preparação, a poção deveria cozinhar por um ano e um dia, e necessitaria de várias ervas raras. Apenas as três primeiras gotas que fervessem conteriam todo o poder da poção, e o resto seria veneno mortal. Para ajudá-la na preparação, Cerridwen chamou um velho e um garoto de nome Gwion Bach, encarregados de mexer a poção em sua ausência.Na busca pelas ervas raras, Cerridwen teve que se distanciar de sua casa e, exausta pela viagem, adormeceu no último dia em que a poção deveria ferver. Nessa hora, apenas o garoto Gwion mexia a poção, pois se revezava em turnos com o outro ajudante. Subitamente, três gotas quentes espirraram em seu dedo e, instintivamente, ele levou o dedo queimado à boca. Nesse momento ele recebeu toda a sabedoria e inspiração do mundo, e instantaneamente percebeu que Cerridwen já sentira o que ocorrera, e totalmente furiosa já estava vindo para puni-lo. Ele saiu em disparada fugindo dela; assim que a viu em sua perseguição, transformou-se em uma lebre para tentar escapar. Ao mesmo tempo, sua perseguidora se tornou um galgo, correndo atrás da lebre, e quanto mais ele corria mais ela se aproximava. Então a lebre pulou em um rio, e se transformou em um salmão. O galgo por sua vez também pulou no rio e se tornou numa lontra. Então, quando a lontra ameaçava alcançar o salmão, Gwion pulou para fora do rio, e se tornou um corvo. Cerridwen também saltou para o ar, e virou um falcão, perseguindo-o...Ao ver um monte de trigo, ele mergulhou em direção aos grãos e se transformou em um grãozinho. Cerridwen, percebendo o que acontecera, tornou-se uma galinha e começou a comer o monte. Ao final, após comer todos os grãos, ela pensou que tinha se vingado.
Entretanto, alguns meses depois ela percebeu que estava grávida, embora não houvesse se deitado com nenhum homem. Quando constatou que a criança era Gwion, ela decidiu esperar que ele nascesse, para então matá-lo. Por nove meses ponderou sobre sua vingança; mas quando a criança nasceu, Cerridwen viu que ela era extremamente bela, e não teve coragem de matá-la. Então pegou a criança que um dia fora Gwion e o colocou dentro de uma bolsa de couro, que jogou no rio para ser levada pelas águas.
Naquela época havia, na região de Gwynedd, um senhor de terras chamado Gwyddno Garanhir, cujo filho Elphin era tido como a criatura mais azarada que jamais existiu. Havia naquela região uma represa em que sempre houve uma grande pesca de salmão na Véspera do 1º de Maio. Naquele ano, Gwyddno mandou seu azarado filho liderar a pescaria, esperando com isso melhorar sua sorte. Nas Vésperas de Maio, Elphin e dois servos foram até a represa, e uma vez após a outra lançaram a rede na água, porém ela sempre retornava vazia. Os servos já praguejavam, dizendo que Elphin havia estragado a sorte da represa, quando este insistiu em lançar a rede uma vez mais, e presa a ela veio uma bolsa de couro. Apesar dos resmungos de seus servos, que acharam que dentro dela haveria mais azar, Elphin abriu a bolsa, com a esperança de encontrar um tesouro.Para sua surpresa, da bolsa saiu a cabeça de um bebê, e Elphin disse:- Que fronte radiante!E o bebê, com três dias de vida replicou:- Então fronte radiante eu serei!E adotou o nome de Testa Brilhante, ou em Galês, Tal Iesin. Taliesin então mandou Elphin parar de se lamentar, e lhe disse que sua sorte havia mudado, e que ele não precisaria mais se preocupar, pois ele era um Bardo. Elphin então pôs o bebê adiante de si em seu cavalo, e com seus servos retornou para casa. Lá chegando, seu pai Gwyddno questionou sobre a pescaria. Elphin então contou sua história, e apresentou a criança, dizendo que havia pescado um Bardo. Gwyddno perguntou para que serviria um bebê bardo, tendo Elphin uma esposa que poderia lhe dar vários filhos saudáveis. Taliesin então respondeu que Elphin teria mais benefícios tendo-o encontrado, do que Gwyddno havia tido em toda sua vida com a pesca de salmão. Diante do espanto do Senhor, ao ver a criança falar, ele a questionou; e recebeu de Taliesin a resposta de que este lhe era muito mais apto a respondê-lo, do que Gwyddno a interrogá-lo. Elphin e sua esposa adotaram Taliesin, e o criaram como seu filho, e tiveram sorte e prosperidade com a presença dele.
As terras onde eles viviam eram governadas por um rei de nome Maelgwn. Um rei mesquinho, rodeado por uma corte de bajuladores. Quando Taliesin atingiu a idade de treze anos, Elphin recebeu um chamado do rei, convocando-o para as comemorações do Solstício de Inverno. Embora ele preferisse ficar em casa, era parente distante do rei, e além disso devia lealdade a ele. Quando se reuniram, todos começaram a bajular Maelgwn, e competir para ver quem conseguia agradá-lo mais. Mas Elphin, sendo uma pessoa sincera, não diria que os bardos do rei eram mais habilidosos que o seu, ou que a rainha era mais bela que sua esposa. O rei percebeu sua apatia, e lhe perguntou o que estava ocorrendo. A isso Elphin respondeu com a verdade, e que sua esposa era tão bela e virtuosa quanto qualquer homem poderia querer, e que seu bardo era o melhor que havia em toda Gwynedd.Diante de tal sinceridade o rei se enfureceu; mandou prenderem Elphin e atirá-lo nas masmorras até que a falsidade de suas palavras pudesse ser desmentida. Na mesma hora, Taliesin que estava fora de casa, esquiando no gelo, entrou em um transe, e na superfície do gelo viu tudo que havia se passado com Elphin. Assim ele correu para casa e alertou sua mãe adotiva. Maelgwn tinha um filho chamado Rhun, um ser tão revoltante e malicioso, que apenas ser vista ao lado dele arruinaria permanentemente a reputação de qualquer donzela. Rhun foi mandado a casa de Elphin para seduzir a esposa dele. Quando chegou, foi recebido por Taliesin, que lhe fez entrar em casa e sentar-se em um salão onde estava uma mulher vestida com roupas finas, um valioso anel no dedo, e um torque de ouro.
Na mesma hora Rhun pensou no quanto ia ser prazeroso cumprir sua tarefa. A mulher lhe cumprimentou, serviu-o, e ambos cearam juntos. Copo após copo, Rhun dava mais vinho para a mulher visando embriagá-la, até que, quando já estava zonza, ele a convenceu a irem para algum lugar com mais privacidade. Lá ela caiu no sono e Rhun tentou remover o anel de seu dedo. Como não conseguiu, cortou fora o dedo e o levou. Ele voltou rindo para a casa de seu pai, e este se deleitou com o sucesso do filho. Elphin foi chamado, para ser ridicularizado.Quando o rei lhe disse que sua esposa se deitara com Rhun, Elphin lhe pediu provas. O rei respondeu que para ele bastava a palavra de seu filho, mas Elphin insistiu, e disse que em se tratando de Rhun ele precisaria de provas. O anel lhe foi mostrado ainda no dedo, e o rei lhe perguntou se ele negava que o anel era de sua esposa. A isso Elphin respondeu que o anel realmente era de sua esposa, mas o dedo não era, e disso havia três provas.Primeiro, a mão de sua esposa era pequena, e o anel ficava folgado no polegar, mas no dedo mostrado o anel estava tão apertado que não sairia. Segundo, sua esposa cortava as unhas antes de cada Sábado, e a unha do dedo mostrado não havia sido cortada no último mês. E terceiro, eles tinham criados, para que a esposa não precisasse sovar a massa de pão, e na unha havia resquícios de massa crua. Rhun havia trazido o dedo de uma criada, e não da esposa de Elphin.
O rei então se enfureceu, e tendo falhado em humilhar Elphin pela virtude de sua esposa, resolveu desafiá-lo a provar que seu bardo era realmente melhor que os bardos dele. Enquanto Taliesin não chegava, Elphin foi jogado novamente em sua cela. Mas na casa de Elphin, Taliesin já estava se preparando para partir, e sua mãe cuidava da criada que havia ficado com nove dedos. O pequeno Bardo chegou à corte dois dias depois, e sem ser visto passou pelos portões; entrando na sala do trono sentou-se a um canto, longe da vista de todos.
Quando os bardos do rei chegaram, ele bocejou, e fez um encantamento para que eles ficassem diante do rei e tocassem errado, e cantassem algo sem sentido ao invés de louvá-lo. Maelgwn mandou que um de seus guardas acertasse Heinnin Fardd, o chefe de seus bardos, e a pancada conseguiu quebrar o transe o suficiente para que Heinnin Fardd explicasse ao rei que ele e os outros bardos haviam sido enfeitiçados. Então Taliesin apareceu, disse que era o bardo de Elphin, e que havia vindo para lhe salvar a honra e a liberdade. Então Maelgwn perguntou se ele se achava melhor que os bardos do rei, e Taliesin respondeu que ele não era nada perto dele mesmo. Heinnin então sugeriu que, para decidir a questão, fosse feita uma competição. Taliesin aceitou, ele enfrentaria todos os bardos do rei, devendo compor um poema sobre o vento, e sendo o rei o juiz da competição.Maelgwn então disse que os bardos teriam vinte minutos para compor, e Heinnin se desesperou dizendo que era pouco tempo para compor um épico. O rei não lhe deu atenção, e simplesmente lhe ordenou que obedecesse. Então Heinnin se reuniu aos outros bardos, pegaram tomos e pergaminhos com rimas e metáforas e tentaram começar a compor. Mas, enquanto isso, Taliesin estava sentado no chão rindo do desespero deles. Quando o tempo acabou, os bardos do rei fizeram uma linha na frente dele e tentaram apresentar sua canção, mas não conseguiram cantar nem tocar direito, por causa da mágica de Taliesin. Desafinavam, erravam as notas, e o que cantavam não fazia sentido. Isso irritou profundamente o rei, que começou a gritar com seus bardos; eles imploraram por clemência e culparam Taliesin. Este, deitado no chão, ria-se de forma irritante. Então ele se levantou e começou a cantar e tocar.
Encquanto cantava, um grande vento surgiu e sacudiu as fundações do castelo. Maelgwn teve tanto medo que ordeneu que Elphin fosse trazido. Assim que ele chegou, Taliesin fez os ventos pararem e cantou uma nova canção, que fez com que as correntes que prendiam Elphin caíssem ao chão, abertas. Então Taliesin chamou pela esposa de Elphin, e ela entrou no salão com suas mãos levantadas e abertas, de forma que todos vissem que tinha dez dedos. Maelgwn, mais irritado do que jamais estivera, lançou um último desafio: o de que seus cavalos eram melhores que os de Elphin. Taliesin sorriu, e sussurrou no ouvido de Elphin, que o desafio poderia ser aceito, pois ele sabia como fazê-los ganhar. Elphin aceitou, e uma corrida de cavalos foi marcada. A família foi para casa; no dia marcado, voltaram trazendo um velho pangaré. Maelgwn esfregou as mãos em contentamento.Os cavalos largaram, Taliesin cavalgando o velho pangaré Dobbin. Quando cada cavalo do rei o ultrapassava, ele acertava-o no flanco com um graveto encantado, e derrubava o graveto no chão. Os cavalos do rei se distanciaram mais e mais, e ninguém conseguia entender por que Taliesin ainda estava sorrindo. Ele apeou do cavalo e jogou seu manto no chão, sem ninguém compreender o motivo. Quando o velho Dobbin alcançou a metade da pista, Taliesin o deteve para que descansasse.
Os cavalos do rei já há muito os haviam ultrapassado no caminho de volta. Mas, quando cada cavalo chegava perto do graveto com o qual havia sido atingido, ele subitamente se levantava nas patas traseiras e começava a dançar. Toda a corte explodiu em gargalhadas, exceto Maelgwn e Rhun. Taliesin e Dobbin passaram pelos outros cavalos e alcançaram primeiro a linha de chegada. Maelgwn não teve escolha, teve que deixar Elphin e sua família partirem. Já indo embora, Taliesin pediu que Elphin parasse onde sua capa estava, no chão. Mandou alguns homens cavarem no local, e foi encontrada uma grande arca, cheia de tesouros.
Elphin então disse:- Realmente, Taliesin, nunca poderei me arrepender do dia que o pesquei do açude.
É dito que, após seu 13º aniversário, Taliesin se despediu dos pais e partiu em busca de aventura. Tempos depois, ele chegaria à corte do Rei Arthur, de quem seria o principal conselheiro, e junto com quem chegaria até mesmo a visitar Caer Sidhee (Caer Shí), a Terra das Fadas, em uma jornada em que poucos, entre os que partiram, voltariam.
Merlin segundo as lendas de Avalon:
Merlim era um título dado ao sacerdote mais graduado na religião antiga. O Merlim era como se fosse o representante masculino da Deusa. O Merlin a aconselhar Artur em sua corte, foi Taliesin, pai de Viviane, a Dama do Lago; que após sua morte foi substituido por Kevin, o Bardo.
ORIGENS DE MERLIN NA LITERATURA MEDIEVAL:
Assim como a existência de Artur não é comprovada historicamente, o mesmo se pode dizer de Merlin. Porém, se ambos existiram, acredita-se que Artur viveu antes de Merlin cerca de sessenta anos.
Merlin, cujo nome galês é Myrddin, está associado na literatura a duas figuras: o Merlin Selvagem e o Merlin Ambrósio. O primeiro é baseado na figura de um rei proveniente do norte da Bretanha e que lutou pelos bretões contra os saxões no século VI. Este teria enlouquecido após uma batalha e passara a vagar pela floresta, em contato apenas com os animais, onde teria adquirido poderes sobrenaturais. Há dados histórico-lendários que podem ligá-lo ao rei Lailoken, da Escócia. Já Merlin Ambrósio aparece nas narrativas como o filho de um íncubo e uma donzela, capaz de fazer profecias e é apresentado nas fontes latinas pela primeira vez na Historia Regum Britanniae, mas baseado num outro personagem da Historia Brittonum (c. 800), de Nennius, Aurélio Ambrósio. Nesta narrativa, onde Artur aparece como dux bellorum (guerreiro invencível), os dois personagens não travam contato. O rei bretão usurpador Vortigern tenta construir sem sucesso uma fortaleza que desmorona sempre após a sua conclusão. Os sábios do rei o aconselham a matar um menino sem pai e aspergir seu sangue no solo para acabar com a maldição. O menino Ambrósio (na verdade, Aurelius Ambrosius) é encontrado, desmascara os sábios na presença do rei e explica sobre a existência de duas serpentes, branca e vermelha, debaixo do solo. A seguir, profetiza sobre o destino da Bretanha (A História dos Bretões, http://www.ricardocosta.com/nennius.htm, cap. 40-42). O mesmo tema é retomado na Historia Regum Britanniae (1135-1138) de Geoffrey de Monmouth quando as serpentes são substituídas por dragões e Merlin (Ambrosius Merlinus) prevê que a Bretanha será derrotada pelos saxões.
Em algumas narrativas célticas é citada a figura de Merlin partindo com seus nove bardos num barco de cristal. É também visto as vezes como um rei solar cultuado em Stonehenge, motivo talvez pelo qual na Historia Regum ele traga essas pedras, por meio de mágica, da Irlanda à Inglaterra.
O Merlin Selvagem aparece principalmente em outra obra de Geoffrey de Monmouth, a Vita Merlini (1148), a qual por sua vez baseava-se na obra inacabada do mesmo autor Prophetiae Merlini (1134), que sofrera influência de narrativas célticas. Merlin é associado a Artur já na Historia Regum Britanniae, quando é o responsável pelo nascimento daquele. Nesta narrativa, o mago produz a poção que faz o rei Uther adotar as feições de Gorlois, marido da duquesa Ingerna(ou Igraine). Assim, enquanto Gorlois já estava morto, Artur é concebido sem que a duquesa soubesse do disfarce(em outra versões, Uther e igraine estava apaixonados). Porém, a ligação entre o mago e o rei Artur termina neste ponto, sendo mencionado mais uma vez apenas as profecias de Merlin sobre a conquista da Bretanha e o incerto retorno de Artur. Será somente com Robert de Boron, obra na qual se baseou Dorothea Schlegel, que Merlin conduz Artur para ser criado por Antor e depois do episódio da retirada da espada na bigorna torna-se seu conselheiro.
Nas versões anteriores de Geoffrey de Monmouth e Robert Wace, Artur é criado pelos pais e torna-se rei legítimo aos 15 anos após a morte de Uther.