QUANDO EU ERA VIVA

Esquisito... Não sei se gostei de viver.

Nasci menina e até certo tempo da minha vida, não achava nada interessante;

Não entendia o porquê de minha existência.

Eu era gente, gente gerada e nascida de gente;

E gente, parecia algo não muito significante.

Tudo muito rotineiro... Um verdadeiro ritual existencial.

Anoitecia, e eu tinha que adormecer... Amanhecia, e tudo começava a acontecer.

Por sentimentos estranhos tive que passar:

No vazio da fome eu comia, na secura da sede eu bebia e no sossego da noite dormia.

A mistura de sentimentos eram loucos e turbulentos. Sem opções, por eles tive que passar: andar, falar, sorrir, chorar, amar, odiar...

Meus movimentos eram confinados num tempo chamado noite e dia, em torno de seres chamados homem e mulher... Todos condenados a união ou a solidão esperando o parar do coração.

Etapas constrangedoras teve que vencer: o nu do meu nascimento, o meu arrastar no chão antes de andar, o meu crescimento desengonçado e um sangramento não esperado.

Quando criança: chorei sorrir e brinquei.

Quando adolescente: chorei, sorri, amei e me rebelei.

Quando adulta: chorei, sorri, amei e reproduzir minha espécie.

Numa fase bem recente, fiquei quase inocente e entendi melhor o bicho gente.

Passei não ser mais interessante...

Esse era meu discurso para milhões de pessoas que em meu sonho faziam pergunta sobre a rápida passagem pela minha existência.

Estava adormecida em uma noite longa e cansativa.

É somente isso que lembro, QUANDO EU ERA VIVA.