ÉTICA E CIDADANIA NAS RELAÇÕES DE INCLUSÃO
Qualquer discussão sobre questões da inclusão social nos remete a valores subjacentes e à interrogação dos seus fundamentos, trazendo portanto, a perspectiva da ética, enquanto uma reflexão crítica sobre os valores que orientam as ações e relações de indivíduos e grupos no contexto social.
Incluir, nos afirma Aurélio é “compreender, abranger, conter em si, envolver, implicar”. Estar incluído é fazer parte, pertencer juntamente com os outros. Quando buscamos a origem etimológica do termo ética, encontramos a referência a “ethos”, morada do homem, espaço construído pela ação humana que transcende a natureza e transforma o mundo, exigindo-lhe uma significação específica. O ethos designa assim, o espaço da cultura do mundo transformado pelos seres humanos. No ethos manifesta-se um aspecto fundamental da existência humana: a criação de valores. Valorizar é relacionar-se com o mundo, atribuindo-lhe um significado, sem ser indiferente.
A cidadania implica uma consciência de pertença a uma comunidade e se estende a todos os indivíduos na sociedade, sem discriminação de raça, gênero, credo religioso, classe, necessidades. Pertencer a uma comunidade implica em uma relação estreita entre seus membros. Estar incluído implica responsabilizar-se, partilhar de uma responsabilidade que não tem caráter apenas individual, mas coletivo.
A desigualdade se instala à medida que deixo de reconhecer o outro como alguém que entra na constituição de minha identidade, “alter” e passo a tratá-lo como “alienus”, o alheio, alguém com quem não tenho nada a ver, resultando em uma forma específica de alienação: a desconsideração do diferente com quem se estabelece a comunicação, a convivência, a construção partilhada de cada um e de todos no mundo.
Uma relação social fundamental é aquela caracterizada pela relação entre sujeitos: eu-outro, ou seja, simetria. Nesse contexto, temos o princípio ético que é o reconhecimento do outro. Não posso dizer que sou eu, se não sou reconhecido pelo outro e se não o reconheço como alguém como eu. Não como idêntico a mim, mas diferente e igual. O contrário de igual não é diferente, é desigual e tem uma conotação social e política. A afirmação de identidade se dá na possibilidade da existência da diferença e na luta pela superação da desigualdade.
Nesse sentido, pensamos em uma ética voltada para o outro como prioridade sobre o eu- a ética da alteridade. Éticas reducionistas levam à discriminação, enquanto que a ética da alteridade leva a uma prática de respeito e reverência, pois esvazia o indivíduo do preconceito. A ética da alteridade condena a segregação, a exclusão, os pré-conceitos e pré-juízos, e contempla o acolhimento do outro, a solidariedade, a diversidade e a justiça, não apenas como um discurso retórico, mas como atitude moral de comprometimento com o diferente, incluindo nesta classificação a nós mesmos, e consequentemente com o totalmente outro. Resumindo, é uma ética da alteridade empática que estabelece relações de inclusão.