Superioridade

Habituamo-nos a condenar os alemães pelos seus atos antes e durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Realmente um absurdo, massacrar seis milhões de judeus e outras tantas milhares de pessoas, homens, mulheres, crianças, usando como explicação uma pretensa superioridade. Alegavam que a “raça ariana” era superior, fadada a dominar o mundo. Hitler não inventou esses ideais horríveis, apenas trabalhou um conceito existente há muito tempo e devolveu essa errônea certeza aos alemães, mas serão eles os únicos a acalentarem esse sentimento mesquinho de se superestimar e rebaixar o outro?

Não somos nazistas, mas nos nossos dias nada mais temos feito além de tentar se sobrepor uns aos outros. E não se trata apenas da busca da vitória secular, garantindo a sobrevivência, mas da busca para se sentir acima dos que nos rodeiam. Parece-me muito triste, mas é exatamente isso o que vem acontecendo, um círculo de preconceito, portanto, sem fim. Certa vez assistindo um documentário intitulado: “Comunismo: a história de uma ilusão” ouvi um estudioso dizer que o erro do comunismo foi apostar no ser humano, acreditar que ele poderia ser melhor. Entristecedor, pois me parece estar certo.

Não buscamos viver em um mundo melhor, apenas sentir-se melhor do que os demais, fazer parte de um grupo “descolado” que por algum motivo ridículo se intitula superior, do qual poucos podem participar, e é triste observar esse fato em nosso país, pessoas buscando estar acima das demais. Uma das bases do Nazismo era a crença na superioridade, e como podemos definir pessoas que se intitulam superiores? Estão repetindo o mesmo erro cometido pelos cidadãos da Alemanha, o país com mais prêmios Nobel até 1930.

Lendo outro dia nos sites noticiosos soube da existência de pelo menos 300 células Neonazistas em atividade no Brasil, um desastre. Por todo o século XIX nosso país sofreu com um complexo de inferioridade, motivado pela sua formação, com povos de diversas nações, mas no início do século XX intelectuais como Sergio Buarque de Holanda mostraram que isso não era uma desvantagem, mas um fator de orgulho, por ser o nosso país um país plural. O Brasil era único, poderia ser o paraíso da tolerância, no entanto, isso não foi observado no século XX, nem no início desse século XXI.

Pessoas se considerando melhores por viverem em determinada cidade, por terem dinheiro, por cursarem determinada faculdade, por exercerem determinada profissão, mostrando haver uma necessidade absurda de provar ser melhor do que o outro ultrapassando as raias da satisfação pessoal, ganhando conotações de puro preconceito. Podemos condenar determinado povo do passado, baseando-se no nosso comportamento atual? Creio que não. O ato de sentir-se superior apenas atesta o quão pequena uma pessoa pode ser.