Discurso pela Paz

Paz, palavra que o Homem ainda não conhece o significado, mas que tem sido um ideal da Humanidade no decorrer dos séculos. Para os romanos, a paz significava estar preparado para a guerra, pronto para combater o inimigo. Diziam, “se queres a paz, arma-te”.

Mas, o espírito da paz exige um coração livre da violência, da maldade, da ganância, do ódio e da intolerância, e pressupõe a solidariedade ao próximo,o amor ao irmão, mesmo que este tenha uma outra cor, uma outra fé, ou outras crenças.

A paz caminha ao lado da liberdade e do respeito dos direitos e garantias fundamentais do cidadão, previstos na Constituição Federal de 1988, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, e nos demais instrumentos internacionais que foram subscritos pelo Brasil.

Os homens na busca dos lucros, dos objetivos individuais, esquecem os preceitos fundamentais, como o respeito à vida, à dignidade, e buscam subjugar os seus semelhantes, muitas vezes com a prática de atos de terror.

A história do século XX, próximo a nós, demonstra que tivemos um período marcado por guerras, sendo estas sem qualquer sentido, apenas para favorecer a luta por mercados consumidores, mas que custaram muitas vidas, vidas de pessoas inocentes, que não puderam realizar os seus sonhos.

A 1ª Guerra Mundial foi responsável por um grande número de mortes, pela destruição de ideais, e sufocou a paz, levou a dor, retirou jovens de suas famílias, deixando apenas a incerteza e a desilusão.

A 2ª Guerra Mundial foi mais destruidora que a 1ª Guerra, levou ao extermínio pessoas que eram acusadas de terem uma crença diferente daqueles que se encontravam no Poder, e acreditavam que existia uma raça que pudesse ser considera como superior a outra, quando na verdade todos são iguais, e possuem a mesma natureza, qual seja, a natureza humana.

Além dessas guerras sangrentas que afastaram a paz tão almejada pela Humanidade, ainda tivemos outras guerras, dentre elas, a Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Vietnã, a Guerra da Coréia, a Guerra do Afeganistão, a Guerra das Malvinas, a Guerra do Golfo, Guerra da Iugoslávia, como se o Homem precisasse se auto-afirmar no exercício das armas, ao invés de praticar a ajuda aos seus semelhantes, buscar a integração entre os povos. Guerras que não modificaram em nada a realidade das pessoas, apenas custaram vidas e sonhos que se perderam.

A sociedade vivencia o progresso tecnológico, o celular, a Internet, e falam até que os carros poderão voar, mas não conseguem viver sob o manto da paz, e o respeito à liberdade, à vida, as crenças religiosas, e tudo o mais que faz parte da vida em sociedade.

O poeta Castro Alves dizia que a praça é do povo como o céu é do condor, mas alguns não querem que o condor voe mais pelo céu, tanto que esta ave, símbolo da América, da paz, e da liberdade, encontra-se em extinção, e o povo a cada dia sofre novas violências em sua dignidade, na sua paz, como cidadão, como ser humano.

A liberdade, a luta pela paz, pela qual muitos doaram as suas vidas neste século é cerceada por idéias que são apenas de alguns, que se dizem serem defensores dos pobres, mas que não se preocupam se a paz social está passando por alguma limitação.

Os homens e as mulheres, dentre eles, Ghandi, Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, são pessoas que dedicaram as suas vidas a paz, a liberdade, são deixados de lado, em nome dos lucros, com uma propaganda voltada para a divulgação da violência, de criminosos que se tornam destaques de revistas, jornais, televisões, esquecendo-se a solidariedade.

Mas, será que a Humanidade não terá paz, não conhecerá o significado das liberdades, da dignidade, do respeito à vida, a autodeterminação dos povos?

Na África, as pessoas morrem de fome, mesmo não existindo guerra, pois a paz não significa a ausência de conflitos, mas pressupõe o respeito à natureza humana.

Nas cidades deste imenso país, como Ribeirão Preto, nossa querida Ribeirão Preto, terra de um povo trabalhador, ordeiro, a violência toma conta das pessoas, seja no trânsito, no trabalho, nos bares, enfim, em nosso cotidiano.

Se quisermos a paz, precisamos lutar por ela, uma vez que nada nesta vida se constrói sem esforço e dedicação. A paz começa em nossos lares, em nosso rua, em nosso Bairro.

Respeitando as pessoas que estão próximas de nós, aprenderemos a respeitar todas as pessoas, mesmo àquelas que não são nossos amigos, ou parentes, e seguiremos os passos de Jesus Cristo, que nos ensinou o amor ao próximo como a nós mesmos.

A humanidade tem tudo para caminhar para a paz, mas cada de um nós deve fazer a sua parte, sem desanimar, mesmo sabendo que existem dificuldades e obstáculos.

O Mundo sem os sonhadores não teria chegado ao lugar que chegou. O ser humano pode fazer muitas coisas boas, mas para isso é preciso sonhar e acreditar.

Que Deus, e o nosso Padroeiro, São Sebastião do Ribeirão Preto, possam nos abençoar, nesta manhã de comunhão, e que todos nós sejamos sonhadores, sonhadores da paz, na construção de um mundo melhor.

Notas:

O discurso pela Paz foi proferido pelo Senhor Paulo Tadeu Rodrigues Rosa no dia 23/VII/1999, na Praça Sete de Setembro, na cidade e Comarca de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, a convite do advogado e jornalista Dr. Ney Mattar.

O discurso encontra-se devidamente registrado. Proibida a reprodução no todo ou em parte sem citar a fonte em atendimento a Lei Federal que cuida dos direitos autorais no Brasil.