LOUCOS DONOS DO PODER

O que eu escrevo não fede nem cheira

Não tem eira nem beira

Não é largo nem comprido

Não é popular nem erudito

Não é culto nem é bruto

Não é ao suco e nem à bolonhesa

Não é bêbado e nem é sã

Não é droga e nem careta

Não é poema nem discurso

É só um osso duro de descer

É só impaciência contra a indecência

Destes loucos donos do poder.

Ao que escrevo não devo satisfação

Nem ao chefe da bagaça

Ao editor ou ao dono do jornal

Afinal não há mais censura

Linha dura, essas figuras burras

Digo e reafirmou:

Eu não sou desta laia

Que maneja a economia nacional

Nem sou escritor nem big brother

Nem artista dono da verdade

Destes que em época eleitoral

Vem e nos mostra quem é o líder nacional

Que vai por o trem nos trilhos

Dar futuro aos nossos filhos

Mas depois se contenta com um cargo

E um pequeno supersalário. Salafrário.

Por isso digo, o que desabafo agora

Não é poema nem discurso

É só um osso duro de descer

É só impaciência contra a indecência

Destes loucos donos do poder.

O que escrevo não se alinha à direita

Não está acima nem abaixo

Não se ajeita, não tem acerto

Esquerda ladra rejeito

É o que acho e como reajo

Á essa coisa medonha que assalta com as duas mãos

Não sou desta turma não

Não sou desta rua

Não tenho nada com isso

Nem é disto que eu preciso

Mas vou botar o dedo na ferida

E o meu bloco na rua

Não vou lamber essa cria

Pois já não creio em quase nada

Sigo reto inteiro e direto por pura sina

O que escrevo não é poema nem discurso

É só um osso duro de descer

É só impaciência contra a indecência

Destes loucos donos do poder.

O que digo aqui é quase secreto

Meu público de tão seleto é quase nenhum

Não tenho panela literária

Morro sempre na praia

Não tenho como publicar esse uivo

Um simples silvo no deserto

Eu não fujo da raia e nem sou de rodar a baiana

Deixei de ser infantil

Não fumo maconha

Há muito larguei a loucura

Como já não carrego bandeira

E não acredito em político redentor

Nem nos que se elegem dizendo bravatas

Assim como não há amor eterno

Eu não uso terno e gravata

Nem isso é poema ou discurso

É só um osso duro de descer

É só impaciência contra a indecência

Destes loucos donos do poder.

Minha vida é uma bagana

Mas não tô no fim

Nem a fim de queimar a pestana

De ficar na miúda

De pedir ajuda

De comer o pão que o diabo amassou

Não sou o que querem que eu seja

Não me domam e nem me dou

Não tenho preço

Não estou à venda e não entendo mais nada

Eu não escrevo, vomito palavras

Eu não faço poema, eu detono subserviência

Eu não tenho paciência

Para o enredo tosco de quem é pego com a grana na mala

Eu não defendo mais partido

Fui ferido na alma

Eu já sei onde tudo foi parar

É certo, na pizzaria

Eu só sei que o Brasil sempre nadou na patifaria

E o povo surfou na mesma onda

Se sobrar algum embolsou/ embolsa

E viva a bolsa, a mala, a cueca e o banco rural

Não me leve a mal, o que escrevo aqui

Não é poema nem discurso

É só um osso duro de descer

É só impaciência contra a indecência

Destes loucos donos do poder.

.........

Grato brother João Terra, mas me aproprie do seu refrão e fiz dele um título