DISCURSO DE POSSE NA ALGRASP
DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DA GRANDE SÃO PAULO
Você quer ser universal, disse Tolstoi ao novel escritor, fale de sua rua. Se você quiser ser um pintor conhecido, pinte o seu quintal, respondeu Marguerite Yourcenar. Qual o rio mais importante do mundo ? O da minha aldeia, respondeu Fernando Pessoa. Por que? Ora, porque é o rio que passa pela minha aldeia, ué!
Estes são os pilares sobre os quais construí toda a base inicial de minha caminhada pela literatura.
Já com a idade bem avançada, a fim de, como costumo dizer “espantar o alzheimer”, comecei a colocar no papel minhas recordações dos tempos de infância, juventude, e fase adulta. Aproveitei um dom me concedido por Deus, que já havia se manifestado desde os primeiros anos de minha vida escolar. Dom que foi se aprimorando durante os anos de vida profissional. Sempre fui um advogado de escritório. Nunca muito ligado às lides forenses, sempre preferindo a tranquilidade da sala de trabalho, na elaboração de pareceres, processos administrativos e outras peças jurídicas.
Então, iniciei a narrar minhas primeiras travessuras no quintal da casa onde nasci, em Santo André, na rua Guilherme Marconi, na minha amada Vila Assunção, uma pequena chácara, com as mais diversas espécies de frutos. Recordei dos primeiros chutes, os jogos de futebol dos “moleques da rua de baixo (Agenor de Camargo), contra os da rua de cima(Santo André)”, onde o campo era a própria rua, a bola era de meia, e os gols apenas duas pedras. Lembrei-me dos apitos das fábricas, e do trem com os quais acordávamos, e dos sons do amolador de facas, do soldador de panelas, dos vendedores de sorvetes e biju, do entregador de gelo, e assim por diante.
Já numa fase mais adulta, lembrei-me dos primeiros jogos de futebol, defendendo clubes, e do Colégio Arquidiocesano, em São Paulo, onde fiz todo meu curso de humanidades, em regime de internato. Nessa época, nos fins de semana de folga, e nas férias escolares, vindo para Santo André, convivi com a turma do Panelinha, estimado clube andreense, conhecendo as figuras tradicionais, como o bêbado Gasolina, o velho Cabral, sempre carregando um sem número de medalhas no paletó, e um monte de documentos debaixo do braço, “as escrituras” de suas sonhadas dezenas de propriedades, e outros personagens característicos que toda cidade possui.
Depois, narrei algumas viagens tanto pelo Brasil, como para o exterior.
Seria demasiadamente cansativo, e nem é o momento, citar todas as minhas aventuras, pois o número de crônicas que escrevi, nestes quase três anos, já ultrapassa a 200.
Daí surgiram meus dois livros publicados: UM PASSADO SEMPRE PRESENTE (2009) e COMO SE FOSSE HOJE (2010).
Advogado formado, passei a maior parte de minha vida profissional, se não toda, na Prefeitura de São Bernardo do Campo, procurador judicial, onde me aposentei como procurador-chefe. Presidi o IMP de SBC e a CRAISA, em Santo André.
Como salientou minha madrinha Marina Rolim, poetisa das mais talentosas, de quem falarei mais adiante, em meu breve currículo, sou casado, tenho 4 filhos e seis netos.
Sobre meu patrono, o poeta Manoel Antônio Álvares de Azevedo, um romântico, que dá o seu nome à cadeira 14 que passarei a ocupar, por coincidência, o nome da rua em que moro há 40 anos, em Santo André, seus dados biográficos mostram que ele nasceu em 12 de setembro de 1831, em São Paulo. Teve uma vida efêmera, morrendo em 25 de abril de 1852, de tuberculose. Apesar de seus 21 anos de vida, sua obra poética é volumosa. Sarcástico, irônico, e auto-destruidor, foi influenciado por Lord Byron e Musset. A morte sempre esteve presente em sua obra. Tanto que sugeriu como seu epitáfio, à sombra de uma cruz, que se escrevesse:
-Foi poeta – sonhou – e amou na vida.(Lembrança de morrer)
De sua obra, pincei o poema
Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Declaro ser uma grande honra, para mim, passar a pertencer a esta Academia. Jamais poderia pensar que, um dia, principalmente depois de ultrapassada grande parte de minha estrada nesta vida, estaria eu diante de, primeiro, minha família toda aqui presente, minha esposa Iara, meus filhos José Antonio, Antonio Celso e Luís Felipe, minha filha Patrícia, minha nora Miryan e dois de meus netos o João Vitor e o Gustavo; segundo, meus amigos que ora vislumbro neste momento, e para não cometer a injustiça deixar de citar algum, aponto o Professor Doutor Clóvis Roberto dos Santos, eminente pedagogo, e por fim, de todos vocês, jamais poderia pensar, repito, estar adentrando neste templo da literatura regional, como um de seus membros, tornando-me imortal, o que me deixa extremamente orgulhoso e feliz.
Agradeço imensamente à minha madrinha neste sodalício, a premiada poetisa acadêmica Marina Rolim, a indicação de meu nome para dele fazer parte. Conheci a Marina por volta dos anos 70, ela como jornalista do então News Sellers, hoje DGABC. Voltei a vê-la mais recentemente, em eventos literários promovidos pelas municipalidades de Santo André e SCdo Sul. Inclusive, tive a felicidade de estar presente no lançamento de seu livro de poesias REMINISCÊNCIAS, na Casa da Palavra, em Santo André, no ano passado. Magnífico compêndio da excelente obra poética da Marina. Obrigado querida acadêmica!
Terminando prometo, citando Fernão Capelo Gaivota, que:
“Aqui será a areia fina... A falésia..., onde entre vôos poisarei para descansar e meditar. E depois, voltar a voar, entre o azul do mar, e o azul do céu”.
OBRIGADO!!!