A Casa de ninguém
Imaginem vocês uma casa que não é de ninguém.
Uma casa que não é de ninguém tem o mesmo problema de uma casa que é de todo mundo: não tem dono.
Alguém que entrasse nessa casa conheceria pessoas que estão lá há muito tempo, porém mesmo essas pessoas diriam que não moram lá e muito menos são as donas dessa casa. Aos que entrarem pela porta, conheceriam interessantes pessoas com diferentes ideias e culturas recebendo-o, assim, de braços abertos; E finalmente estaria confortável de sentar-se num “sofá de ninguém” pronto pra usufruir de seu aconchego e talvez quando sentir-se revigorado e preparado, seguiria seu famigerado caminho de volta à porta por onde entrara.
Mas, Enquanto estiver nessa casa de ninguém, você terá de conviver também com outras pessoas que, assim como você, também não moram lá. Acredite; conviver com sua família nem sempre é tarefa fácil, imagine a convivência nessa casa de ninguém?
Pois é senhores, eu vivo nessa casa faz cinco anos. Conheci aqueles que tentam manter a casa receptiva, aqueles indiferentes, os que apenas reclamam e até os que perderam o rumo e se agarraram na casa como refúgio do mundo de fora.
Acho muito interessante o fato que todo semestre chega gente de todos os lugares para habitar essa casa enriquecendo com novas experiências o ambiente. Gosto daqueles que tratam todos como uma grande família e acabei achando importante e curioso a existência dessas casas de ninguém.
Ao perceber como essa casa é importante, comecei um esforço para tentar melhorar a convivência e a qualidade de vida às pessoas dentro dela. Acredito veementemente que com alguma ajuda, ela pode ficar cada vez melhor sempre criando um ambiente propício a aflorar mais experiências, vivências e aprendizados.
Gosto de fazer isso porque sinto uma gratidão por ter possibilidade de viver nessa casa.
Veja que gratidão é um sentimento normal ao adquirir algum benefício. Pense como é estranho alguém ingrato em uma casa de ninguém devido a total liberdade que você tem pra sair dela.
Realmente não é fácil cuidar de uma casa sem dono. Uma ideia um tanto maluca a existência dessa casa não? Pelo contrário, uma “casa com dono” é simples de cuidar. Caso falte algo, quebre algo, ocorra injustiça ou caso alguém entre ou saia, trata-se tudo como responsabilidade seu dono.
Sabem, são raras as “casas de ninguém” hoje em dia.
Todas as outras casas -com dono- têm como ideal gerar dinheiro. São muito bem pagas por inquilinos que desejam “experiências, vivências e aprendizados”. E se mostram extremamente caras devido à extrema necessidade disso na vida atual das pessoas. Mostram-se uma excelente opção para aqueles que não gostam de cuidar de uma casa.
Caso esteja em uma casa de ninguém, sinta-se a vontade para ajudar, porque sua participação é essencial para que quando você sair, você possa ser ajudado pelos próximos que a ocuparem.
Quem sabe assim possamos fazer com que retorne um pouco de sua gratidão a todos os donos dessas casas de ninguém.
Flávio A. C. Nascimento
Engenharia Mecânica